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POLÊMICA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

A redução da maioridade penal tem sido frequentemente abordada nas últimas décadas, e os defensores dessa corrente se aproveitam de alguns momentos em que ocorra um fato de comoção nacional para instigar a população a ver como solução à redução da maioridade penal para inibir atos criminosos praticados por adolescentes.

Certo é que existem atos violentos praticados por adolescentes, porém é a exceção, e por esse motivo não pode ser parâmetro para uma medida radical de diminuir a idade penal. De acordo com um levantamento realizado pelo ILANUD (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente) feito em São Paulo durante os anos de 2000 a 2001, com 2.100 adolescentes acusados da autoria de atos infracionais, observa-se que a maioria se caracteriza como crimes contra o patrimônio. Furtos, roubos e porte de arma totalizam 58,7% das acusações. Já o homicídio não chegou a representar nem 2% dos atos imputados aos adolescentes, o equivalente a 1,4 % dos casos conforme demonstra o seguinte gráfico:

Figura 1. Gráfico da frequência dos tipos de atos infracionais atribuídos aos adolescentes. Fonte: ILANUD

Sendo trazido no presente artigo, da Revista Fórum, 16/04/2013 (Razões Para NÃO Reduzir a Maioridade Penal), dados atualizados para comprovar o explanado no gráfico acima (figura 1), onde dentre os 9.016 internos da Fundação Casa, neste momento apenas 83 infratores cumprem medidas socioeducativas por terem cometido latrocínio. Ou seja, menos que 1%.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, critica a proposta de redução da maioridade penal. Além de considerar a medida inconstitucional, uma vez que a maioridade aos 18 anos foi consolidada na Carta Magna de 1988. Cardozo acredita que a mudança agravará a situação do sistema carcerário brasileiro, que está 50% além de sua capacidade. “Reduzir a maioridade penal significa negar a possibilidade de dar um tratamento melhor para um adolescente”, disse Cardozo em entrevista ao G1.

Além do mais, os experientes países europeus em que há relativa eficácia na recuperação de seus cidadãos jovens e adultos, fixam a idade de responsabilidade penal em 18 anos, como é o caso da Alemanha, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Itália, Romênia, Suécia e Suíça. Sendo que Alemanha, Dinamarca, Espanha e Romênia até os 21 anos, há um tratamento especial ao “jovem adulto”, na qual, em algumas circunstâncias se submeterá às medidas próprias da adolescência, mesmo já penalmente imputáveis, essa idade é estendida aos 25 anos em relação à Suíça.

A idade de responsabilização dos inimputáveis na legislação desses países é previsto de forma variada, onde: Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria, Itália, serão os maiores de 14 anos; Bélgica, Portugal e Romênia os maiores de 16 anos; Dinamarca e Suécia a partir dos 15 anos; Espanha e Holanda a partir dos 12 anos; França, Grécia e Polônia a partir dos 13 anos e Inglaterra e Suíça que dão possibilidade de responsabilização de crianças, com sanções especiais, desde os sete anos. Conforme demostrado no quadro seguinte:

Quadro: Comparativo em diferentes países da Responsabilidade Penal pelo mundo. Países Responsabilidade Penal Juvenil Responsabilidade Penal de Adultos Observações

Alemanha 14 18/21 De 18 a 21 anos o sistema alemão

admite o que se convencionou chamar de sistema de jovens adultos, no qual mesmo após os 18 anos, a depender do estudo do discernimento podem ser aplicadas as regras do Sistema de justiça juvenil. Após os 21 anos a competência é exclusiva da jurisdição penal tradicional.

Argentina 16 18 O Sistema Argentino é Tutelar.

A Lei N° 23.849 e o Art. 75 da Constitución de la Nación Argentina determinam que, a partir dos 16 anos, adolescentes podem ser privados de sua liberdade se cometem delitos e podem ser internados em alcaidías ou penitenciárias.***

Brasil 12 18 O Art. 104 do Estatuto da Criança e do

Adolescente determina que são penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às medidas socioeducativas previstas na Lei.***

Portugal 12 16/21 Sistema de Jovens Adultos até 21

anos.

Espanha 12 18/21 A Espanha também adota um Sistema

de Jovens Adultos com a aplicação da Lei Orgânica 5/2000 para a faixa dos 18 aos 21 anos.

Estados Unidos

10* 12/16 Na maioria dos Estados do país, adolescentes com mais de 12 anos podem ser submetidos aos mesmos procedimentos dos adultos, inclusive com a imposição de pena de morte ou prisão perpétua. O país não ratificou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança.

Fonte: Porque dizer não à redução da maioridade penal. Disponível em:

http://www.mpdft.gov.br/portal/pdf/unidades/promotorias/pdij/Diversos/estudo_idade_penal_co mpleto.pdf.

A discussão em torno na maioridade penal apenas afasta o foco das verdadeiras causas da violência, como a desigualdade social, exclusão social, impunidade, falhas na educação familiar e/ou escolar e, finalmente, certos processos culturais exacerbados em nossa sociedade como individualismo, consumismo e cultura do prazer.

A redução da maioridade penal tornaria mais caótico o já falido sistema carcerário brasileiro e aumentaria o número de reincidentes, além de ser uma medida que tornaria os jovens criminosos ainda mais perigosos, visto a incapacidade do sistema penitenciário brasileiro de recuperar o prisioneiro e servir apenas como uma escola do crime.

Conclui-se, haver ampla inviabilidade, onde além de ir de encontro com a tendência mundial, diversas são as causas que impedem a implantação desse projeto à prática. Como por exemplo: a inconstitucionalidade, por tratar- se de cláusula pétrea; e o sistema criminal, por não ser suficiente para reduzir a criminalidade, onde a tipificação de penas para os atos infracionais praticados por adolescentes não implicar em menos delitos e sim em mais presos. Percebe-se então, um equívoco tanto na observação de uma solução condizente com o problema, como no foco da problematização.

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