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e tecnológica no Brasil

2.1 PAPEL DO ESTADO BRASILEIRO NA ELABORAÇÃO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA

Afirma-se hoje que a transformação tecnológica é a principal determinante do desenvolvimento econômico e social e que, para tingi-lo, ocorre uma verdadeira corrida contra o tempo. “Só o avanço tecnológico, a nível do processo ou do produto, assegura a uma atividade industrial uma efetiva competitividade internacional. O avanço tecno]ógico deve conciliar-se com a expansão do mercado interno”.1

Vê-se logo que precisa haver sincronia entre o desenvolvimento tecnológico e a economia do mercado, o qual precisa ser orientado e preparado para acobertar e absorver a tecnologia importada. Esta posição de sincronia, porém, no caso brasileiro, só começou a aparecer a partir da década de 60, quando pelo advento do Programa Estratégico de Desenvolvimento - PED - que definiu “pela primeira vez, ao nível do Governo Federal, uma política explícita de ciência e tecnologia nos objetivos e um programa de ação”2,

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PIDCC, Aracaju, Ano I, Edição nº 01/2012, p.144 a 301 Out/Dez 2012 | www.pidcc.com.br

tecnológica definida e bem delineada, com perfeita adequação do processo de transferência de tecnologia aos objetivos nacionais, permitindo que houvesse perfeito entrosamento entre o parque industrial existente e o perfil tecnológico desejado.

“Uma política industrial indefinida quanto às diretrizes concementes aos problemas tecnológicos, certamente impediria que a orientação do processo de transferência de tecnologia produzisse todos os benefícios que dela podem advir, obrigando-se a determinar autonomamente seus próprios objetivos”.3

Quando se disse que somente a partir da década de 60 foi dada maior ênfase ao planejamento à ciência e tecnologia e que tinha iniciado a transição para a economia secundária, não se pretendeu dizer, nem tampouco significar, que o Estado no decorre destas décadas não tenha efetivado nenhuma atividade relacionada com as mesmas. Atividades e políticas governamentais existiram, só que estas não eram tidas como objetivo primordial estatal e eram esparsas e descontínuas. O atual Presidente do INPI Mauro Fernando Arruda ao analisar o comércio de tecnologia no Brasil até a década de 60 enfatizou que o mesmo apresentava-se naquela época imperfeito e com práticas negativas, tolhendo o desenvolvimento da empresa nacional e do interesse econômico do País”.4 Elas refletiam e

como até hoje refletem que a cada etapa de crescimento se exige uma tecnologia a ser negociada, empregada e utilizada. Estudos realizados sugerem “que quando houve apoio do Estado à atividade científica e tecnológica no país, este foi dado em função de conjunturas específicas,

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normalmente obedecendo a interesses localizados no tempo e no espaço”.5

“Nem sempre o interesse e o empenho mostrados pelos governos em prol da Ciência e Tecnologia, nos países em desenvolvimento tiveram por motivo objetivos econômico- sociais: razões de prestígio determinam as prioridades e, assim, as alocações de recursos, nos programas e planos oficiais da política científica e tecnológica”.6

Quando Vargas assumiu o governo em 1930, o Estado tinha um papel direto na acumulação capitalista e como tal apoiou o preço do café. “Esse Estado tinha como característica intervir por meio da regulamentação. O Estado Empresário só aconteceria com o Estado Novo”.7 A

centralidade do Estado Empresarial é um dado bastante conhecido do desenvolvimento dependente gerador do desenvolvimento econômico. Todavia, para que o desenvolvimento evolua corretamente, tem como condição necessária ao planejamento que, por sua vez, é tido, como requisito da política de desenvolvimento. Esta tem que ser expressa em programas e traduzir-se em medidas concretas de políticas econômica para a completa execução do plano. Os responsáveis pela política econômica não devem ficar preocupado com o imediato; devem planejar e desenvolver políticas de longo prazo de forma a beneficiar todas as classes sociais e regiões do País. Diz-se que se encontra neste conceito o papel de neutralidade que é exigido pelo Estado capitalista moderno.

“O papel de Estado, contrariamente ao senso comum, não é o árbitro neutro, que paira acima dos interesses e

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pressões de frações ou grupos, representando as aspirações de todas as classes sociais. Em nossa sociedade de classes, a atuação do Estado está ligada aos grupos de consumidores de alta venda, e sua política econômica e geral tende a defender e perpetuar os interesses destes, seja em temos de produção e consumo de determinados bens e serviços, seja em relação às decisões de investimentos, portanto, de tecnologia capital-intensiva”.8

Contudo, a política de desenvolvimento científico e tecnológico deve ser erguida de açodo com as diferentes formas e localização de intervenção nas atividades que contribuem para a acumulação tecnológica no Brasil. Com o processo de industrialização, os meios acadêmicos e empresariais começaram a questionar e a demandar produtos altamente sofisticados que exigiam tecnologia avançada. Levados pelo consenso dos “três aspectos do funcionamento da economia”9 provocaram o envolvimento

do Estado em atividades científicas e tecnológicas.

Inicia-se a fase da “política de reorientação” que visa atuar como variável independente capaz de alterar aspecto do modelo econômico vigente. São tomadas medidas de promoção ou controle da atividade industrial, com objetivo de fortalecer a capacidade tecnológica autônoma; são executadas políticas seletivas de industrialização. Esta “política de resposta” - política de ciência e tecnologia que apenas procura atender às necessidades do desenvolvimento natural, sem buscar, nem tentar modificar suas características; o Estado apóia a indústria, sem definição e direção do crescimento mediante estabelecimento de prioridade. Existe um certo grau de