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4. POLÍTICAS POPULISTAS

4.4. Política de investimento

Apresenta-se primeiramente a balança de acumulação interna que revela a capacidade de investimento com financiamento em recursos domésticos (poupança). Seguidamente observa-se o volume do investimento aprovado no Centro de Promoção do Investimento (CIP) e finalmente a evolução do investimento público.

Gráfico 16

Crescimento anual do PIB e do consumo final

Fonte: Banco de Moçambique.

Gráfico 17

Percentagem do consumo final sobre o PIB

Fonte: Banco de Moçambique.

Dos gráficos anteriores observa-se:

 O crescimento do PIB é quase que totalmente absorvido por incrementos semelhantes no consumo. 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 PIB, 2003= 1 Consumo privado, 2003=1

0 20 40 60 80 100 120 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Pe rc en ta ge m

 A poupança interna representa em média menos de 5% do PIB.

 Existe um elevado défice da balança de acumulação (poupança – investimento), que tem de ser financiado externamente (investimento directo estrangeiro, empréstimos e cooperação externa).

Estas observações justificam-se pelo baixo rendimento per capita verificando-se a lei de Engel. Podem ser acrescentadas outras razões, tais com os aspectos de natureza cultural, a cobertura territorial das instituições financeiras, as garantias e os procedimentos bancários e a literacia da maioria da população.

Gráfico 18 Balança de acumulação

Fonte: FMI.

Gráfico 19

Investimentos aprovados pelo Centro de Promoção do Investimento (CPI)

Fonte: CPI. - 5 10 15 20 25 30 35 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Pe rc en ta ge m

Poupança interna (bruta)/PIB Investimento total realizado/PIB

- 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 M ilh õe s de U SD

Gráfico 20

Evolução das despesas de investimento público a preços constantes de 2011

Nota: Escala da direita para despesas de investimento/PIB. Fonte: OGE (vários anos).

Os gráficos acima revelam:

 Desequilíbrio da balança de acumulação destacando-se a baixa poupança nacional e o investimento representando entre duas e cinco vezes mais a poupança (respectivamente nos anos de 2010 e 2009).

 O défice da balança de acumulação é coberto pelo IDE e empréstimos externos conforme se pode depreender dos gráficos 18 e 19. Embora os momentos de aprovação dos projectos sejam diferentes da execução dos mesmos ou não se concretizam, pode considerar-se que a médio e longo prazo exista um deslizamento da entrada de capitais (IDE e empréstimos), deduzindo-se que a partir de 2006 existiu um volume de investimentos mais elevado, o que é confirmado pelo influxo de capitais79.

 O investimento público possui um comportamento semelhante: crescimento ao longo do período analisado com aceleração a partir de 2005-2006.

Os volumes de investimento revelam uma grande injecção de recursos, sobretudo externos e em grandes investimentos. Mesmo que os efeitos multiplicadores80a nível

79 A entrada de capitais, sobretudo do IDE, a partir de 2006 tem sido em volume suficiente para cobrir o

tradicional défice da balança comercial e de capitais.

80 Existe a frase “quando os EUA espirram, o resto do mundo constipa-se”, para representar como

pequenos fenómenos numa economia potente e influente em contextos de sistemas abertos, pode provocar consequências na economia mundial através dos efeitos multiplicadores (neste caso com sinal negativo) e pelos níveis de assimetrias nas relações externas através do movimento de capitais, das flutuações bolsistas, do comércio internacional, do domínio tecnológico e das influências nas políticas económicas de terceiros países.

O livro Economia Borboleta de Ormerod (2005), utilizou-se metaforicamente a expressão “o abanar de uma asa de uma borboleta na China um furacão assola o Caribe”, que explica como a propagação climática é caótica e influenciadas por múltiplas variáveis e por isso imprevisível por maior que seja a

0% 5% 10% 15% 20% - 10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000 50.000.000 60.000.000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Pe rc en ta ge m M ilh ar es de M T

local e na economia internacional não sejam elevados, existem sectores que beneficiam mais, sobretudo nos transportes, comunicações, energia, hotelaria e restauração, imobiliária e construção civil81. O investimento estrangeiro produz expansão económica não apenas pelo incremento das exportações como ainda pelo incremento de actividades internas e aumento do emprego directo e indirecto, mesmo considerando que os grandes projectos sejam pouco geradores de emprego (tecnologias extensivas em trabalho ou, dito de outra forma, intensivas em capital ou pouco intensiva em trabalho)82.

Sobre o investimento estrangeiro há um velho mas actual debate que se sumariza nas seguintes transcrições: Nurkse (1951) afirmava: “O capital do tipo que se dirigiu para países subdesenvolvidos nos anos vinte, sob a forma de investimentos directos, foi aplicado principalmente na produção destinada à exportação. Muito pouco do mesmo foi empregue em manufacturas para o mercado interno dos países subdesenvolvidos”. Mais adiante, acrescenta: “Os investimentos estrangeiros, em vez de desenvolverem as economias de países agrícolas, serviram para enrijecer e fortalecer o sistema sob o qual esses países se especializaram na produção de matérias-primas e géneros alimentícios para exportação. Os investimentos estrangeiros, de acordo com este ponto de vista, têm tendido a promover um padrão de especialização baseado num esquema estático de vantagens comparativas no comércio internacional”. E acrescenta: “O capital estrangeiro, apenas pela razão de trabalhar para o mercado de exportação, não deve ser desprezado. Não só aumenta a capacidade de importação e exportação do país, mas também, contribui para o aparecimento, embora talvez apenas um aparecimento lento de vários tipos de economias externas – técnicas de trabalho e obras públicas – que mais cedo ou mais tarde não podem deixar de beneficiar o mercado interno”.

Economistas como Nurkse (1951) e Lewis (1954), advogavam que nos países em desenvolvimento a formação de capital deve assentar na transformação do desemprego disfarçado83 nas actividades primárias em poupança potencial através do aumento da

capacidade de complexos modelos de previsão matemática. Passando para a economia, significa que a economia mundial é de tal forma complexa com muitas variáveis de diversas naturezas que se inter- influenciam em múltiplas combinações, fazendo com que pequenas causas possam provocar importantes crises na economia mundial, que se propagam de forma imprevisível quanto à sua amplitude e dimensão dos efeitos.

81 Mosca e Selemane (2011), revelam o crescimento de algumas actividades económicas em Tete e

Moatize em consequência dos investimentos que se realizam no carvão em Moatize e no norte da província na cultura do tabaco. No primeiro caso, a procura é, sobretudo, de serviços de hotelaria e restauração, consultorias, transporte de passageiros de curta distância, camionagem, oficinas e manutenção, serviços bancários, trabalhadores especializados, comércio informal de produtos de origem local, sobretudo gado bovino, caprino e batata, etc. No segundo caso, a actividade económica é dinamizada pelo aumento do rendimento dos pequenos produtores de tabaco, cujos reflexos na cidade de Tete não são tão fortes, na medida em que o principal efeito se produz nos distritos e localidades onde os pequenos produtores produzem esta cultura.

82 Os grandes investimentos realizados em Moçambique, são intensivos em capital. Por exemplo, no

sector mineiro, em média, o valor do investimento por emprego gerado é de 4,6 milhões de dólares americanos, cerca de 200 mil nas telecomunicações, entre 80 e 120 mil USD nos sectores da agricultura, indústria, turismo e hotelaria, e construção civil

83 Lauro Monteclaro

produtividade na agricultura e libertação de mão-de-obra para investimento na formação de capital. Em economias não densamente povoadas, seria necessário um equilíbrio entre as actividades de capital e trabalho intensivo de forma que os excedentes provocados pelo aumento da produtividade não se convertam principalmente em mais consumo mas, sobretudo, em mais capital.

Pode verificar-se, tal como para o conjunto do orçamento, um incremento acentuado do investimento (sobretudo estrangeiro) ao longo de toda a década e em particular depois de 2005 e 2006. O primeiro enunciado acima transcrito de Nurkse, há mais de 60 anos, possui grande relevância e actualidade em Moçambique.

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