• Nenhum resultado encontrado

“(…) Dado o enorme ônus que o fumo tem gerado para a saúde pública, governos dos países desenvolvidos têm, de modo geral, reagido através da introdução de controles sobre o tabaco. No entanto, esta situação está longe de ser uniforme e os melhores exemplos de vigorosas ações conduzidas pelo governo têm ocorrido nas nações menos desenvolvidas…”

(Sandford A. 2003; 8:7-16)

Um recente estudo sobre as doenças e agravos não transmissíveis, realizado no país constatou que a pedra fundamental do Programa Nacional de Controle do Tabagismo brasileiro data de 1965, quando no cenário legislativo nacional os primeiros projetos que impunham a advertência sobre os malefícios do fumo nas embalagens de maço de cigarros entraram em vigor, restringindo o uso do tabaco em teatros, escolas, escritórios de governo e

no sistema de transporte público e extensas campanhas nos meios de comunicação em massa.

(Iglesias et al., 2007).

No Brasil vem sendo implementadas políticas para prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que tem repercutido no exterior do país devidos aos avanços das políticas do Sistema Único de Saúde, com destaque para as ações de controle do tabaco. Resultado que reafirma a posição do Ministério da Saúde, quando estabeleceu nos anos 90, restrições aos derivados do tabaco baseado nas evidências científicas e epidemiológicas.

As medidas restritivas abrangem além da área legislativa, com a proibição de propaganda, publicidade, promoção e patrocínio do tabaco. As campanhas contra o uso de tabaco do Ministério da Saúde são em sua maioria restritivas e de regulação, inclusive aquelas associadas à promoção da cessação do tabagismo e educação, comunicação e conscientização. Já o número telefônico do Serviço Disque Saúde/Pare de Fumar (DPF), se constitui em um serviço gratuito do Ministério da Saúde para orientação de fumantes sobre como parar de fumar, é informativo sem ser punitivo. Serviços dirigidos ao cidadão, de proteção contra o tabagismo passivo e regulação do conteúdo dos produtos e da divulgação das informações sobre os produtos de tabaco, embalagem e etiquetagem dos produtos de tabaco. O serviço é oferecido através de atendimento humano de segunda à sexta-feira, das 07h às 19h, exceto feriados. Ademais, conta com mensagens gravadas 24 horas por dia, sete dias por semana.

O recorte da dissertação inclui apenas as ações de regulação, as advertências sanitárias, então vamos nos ater ao estudo de caso da regulação da divulgação das informações sobre os produtos de tabaco. Mas especificamente, a primeira ação, que foi definida em julho de 1996, com a Lei nº. 9.294/96, que determinou o uso de advertências sanitárias nos maços, na forma escrita ou falada, dependendo do meio de divulgação, junto à publicidade de cigarros.

Primeiro foram as mensagens e depois a inclusão de imagens nas embalagens, com as resoluções nº. 104 e nº. 105 de maio de 2001, que determinavam a inclusão de informações sobre a composição dos produtos e definiam novos alertas, agora acompanhados de uma fotografia.

Com base nessas resoluções, o Canadá e o Brasil foram os países pioneiros no uso efetivo das advertências sanitária, em 2000 e 2001, respectivamente, com legislação própria, determinando a impressão de advertências acompanhadas de imagens. Estas passaram a ocupar metade da frente e do verso das embalagens de produtos derivados do tabaco.

No Brasil, esta medida teve uma evolução importante nos últimos dez anos. Começou com uma pequena e discreta frase na lateral das embalagens e hoje evoluiu para mensagens acompanhadas de imagens fortes, com layout diferenciado, ocupando 100% da face principal das embalagens de cigarros. E, a partir de 1º de janeiro de 1996, os fabricantes também ficaram obrigados a incluir mensagens sobre os malefícios do fumo em 30% da área frontal dos maços de cigarros, de acordo com a mudança na legislação que foi publicada no Diário Oficial da União.

Esse processo de transformação demonstra o reconhecimento das autoridades brasileiras que as advertências sanitárias nas embalagens aumentam o entendimento da população sobre a real dimensão dos danos causados pelos produtos de tabaco.

No manual sobre Advertências Sanitárias nos Produtos do Tabaco publicado em 2009, pelo Programa Nacional de Tabagismo, o entendimento é que as advertências podem

“desglamourizar” a imagem do cigarro e outros derivados do tabaco, especialmente entre adolescentes e adultos jovens, além de aumentar nos fumantes a motivação para abandonar o consumo.

Esta nova tendência na formulação das mensagens sanitárias é uma orientação dos estatutos internacionais da OMS, através das diretrizes da CQCT do qual o Brasil é Estado-Parte. O artigo nº. 11, estabelece que cada Parte deve adotar e implementar embalagem e rotulagem para aumentar a eficácia.

Das medidas de controle, as advertências sanitárias é a de melhor relação custo-efetividade. Isto porque o ônus de sua divulgação é do fabricante. Além de ser uma medida efetiva para informar a sociedade sobre a dimensão dos riscos do tabagismo. As embalagens de cigarro passaram a ser um potencial veículo de comunicação (INCA, 2008).

No mundo, desde a década de 1960, um número cada vez maior de autoridades governamentais em saúde pública passou a exigir que as empresas de cigarros incluíssem advertências em seus produtos (Jha; Chaloupka, 1999).

As evidências têm demonstrado que esses avisos são eficazes para a redução do consumo de cigarro e para indução da cessação, sempre que os avisos forem grandes, claros e incluírem palavras fortes e efeitos específicos. A informação de massa gerada de maneira constante desempenhou um papel importante na redução do tabagismo, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos (Townsend, 1993).

Entre 2000 e 2005, por meio de acordos de cooperação com entidades e organismos estrangeiros, o INCA mantém um fluxo contínuo de informações sobre prevenção em relação

ao tabagismo. E, com isso, as campanhas antitabagismo foram ganhando força na difusão dos malefícios causados pelo uso do cigarro, segundo Rosemberg (2004), o maior fator de risco evitável de câncer.

Acompanhando a tendência internacional, dentre as importantes ações para o controle do tabagismo adotadas pelo Brasil, este estudo de caso analisará a inclusão de advertências sanitárias com mensagens e imagens impressas nas embalagens de produtos de tabaco, nos anos de 2001, 2003 e 2008, que vieram a fortalecer a defesa pela intervenção sanitária ampla e estatizada para o controle do tabagismo como doença, com forte politização do discurso sanitário na vida social e privada dos cidadãos (INCA, 2009).

Documentos relacionados