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A política educacional incorpora as ações tomadas pelo Poder Público acerca da educação. Autores como Saviani (2008) acreditam que a incipiência de políticas educacionais eficazes e contínuas perpassa por uma questão primordialmente tributária, tendo em vista que a vinculação de parcelas do orçamento público para a educação foi instituída pela primeira vez pela Constituição de 1934, que determinava a destinação de um mínimo de 10% para os municípios e 20% para os estados. No entanto, a vinculação foi retirada e retomada em subsequentes constituições (retirada em 1937 e retomada em 1946, até ser novamente removida pela Constituição de 1967). Com a Constituição de 1988, foi recuperada a vinculação orçamentária, estabelecendo-se, para a União, a aplicação de, no mínimo, 18% da receita resultante de imposto e, 25% para estados e municípios.

Além da questão tributária, outro problema estrutural no campo da educação brasileira é a descontinuidade das políticas educativas, evidenciada nas incontáveis reformas – muitas vezes descontínuas, no sentido de que a política anterior é abandonada para a implementação de outra “do zero”. Mesmo com a relativa estabilização que ocorreu a partir dos anos 90, com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, e com o Plano Nacional de Educação, aprovado em 2001,

Saviani (2008, p.12) pondera que a inconstância da política educacional atual “faz-se presente na meta, sempre adiada, de eliminação do analfabetismo e universalização do ensino fundamental”.

A política educacional tem como prioridade ampliar o acesso e, assim, proporcionar uma formação de qualidade aos educandos. Nos últimos dez anos, especialmente no ensino superior, verificou-se um movimento na direção de redemocratização do acesso; dentro deste movimento, podemos destacar as ações afirmativas, como o sistema de cotas, instituído nas universidades públicas para pessoas egressas do ensino público e para as egressas do ensino público autodeclaradas negras. Como programas que visam à inclusão, acesso e permanência no Ensino Superior Público podemos destacar:

● Lei de Cotas: A extrema desigualdade social é considerada um dos maiores desafios da sociedade brasileira e, na esfera da educação, a Lei de Cotas surgiu para erradicar a reprodução dessa desigualdade que ocorreu (e ocorre) no ensino superior brasileiro. Segundo o documento sobre a Democratização e Expansão da Educação Superior no País 2003-2014, do MEC (2014), esta Lei busca reservar vagas baseada em temas étnicos, raciais e sociais, impelindo a “a representação de grupos inferiorizados na sociedade” (Idem, p.68).

Desde janeiro de 2013, e, a partir da Lei nº 12.711/2012, a UTFPR adotou integralmente a Lei de Cotas em seu sistema de seleção. Assim, de acordo com a lei, no mínimo 50% das vagas passaram a ser reservadas para estudantes que estudaram integralmente o ensino médio em escolas públicas; dentre estes, 50% das vagas serão destinadas aos estudantes advindos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo per capita (Lei nº 12.711/2012).

● Sistema de Seleção Unificada – Sisu: O Sistema de Seleção Unificada – Sisu, foi implementado em 2010 e consiste em um sistema informatizado, sob gestão do MEC, onde os estudantes que prestaram a prova do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) podem pleitear vagas oferecidas pelas universidades públicas (SANTOS, 2011).

Deste modo, os estudantes podem requerer vagas em universidades das mais diferentes regiões do país, estendendo a possibilidades de ingresso,

aumentando as oportunidades para os estudantes cursarem o ensino superior. Dados do documento sobre a Democratização e Expansão da Educação Superior no País 2003-2014, do MEC (2014) indicam que, enquanto 51 instituições participaram do Sisu em 2010, esse número teve um aumento considerável em 2014, passando para 115 instituições, um crescimento de 125%.

● Programa Bolsa Permanência – PBP: Enquanto o Sisu e a Lei de Cotas tem como objetivo garantir o acesso ao ensino superior público, o PBP é um programa cujo maior objetivo é manter na universidade o aluno de baixa renda. Para estudantes oriundos de comunidades quilombolas e indígenas, a bolsa é propiciada em valor superior e, para todos os beneficiários, pode ser acumulada com outras bolsas oferecidas pela universidade (como o Programa de Educação Tutorial, PET, e bolsas de iniciação científica). Também é importante para reduzir o número de vagas ociosas, uma vez que diminui a evasão por impossibilidade de permanência no ensino superior (MEC, 2014). ● Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) e Programa Nacional de Assistência Estudantil para as Instituições de Ensino Superior Públicas Estaduais (Pnaest): Do mesmo modo que o PBP, o Pnaes e o Pnaest são programas que oferecem auxílio financeiro para a manutenção de estudantes de baixa renda, estudantes de universidades federais e estaduais públicas. Mais além, esses programas oferecem, dentre outros, assistência à moradia, saúde, transporte, cultura (MEC, 2014).

Quanto ao desafio da universidade, López Segrera, 2006 apud Lamperti, (2010, p.104), assinala que:

[...] é a própria concepção de universidade que devemos adequar a um contexto que, por outra parte, mostra mudanças radicais nas identidades e suportes básicos [...]. O desafio consiste em construir uma nova universidade – em reinventá-la – neste clima de incertezas, evitando a vitória da anomia e do pessimismo.

Deste modo, as ações afirmativas são de grande importância na garantia do acesso ao ensino superior, que é fundamental e indispensável ao desenvolvimento econômico político, social, cultural, educacional. Para Lamperti (2010), a universidade deve estar a serviço da sociedade, pois é esta que lhe dá legitimidade e, assim, seja capaz de encaminhar de forma concreta projetos e atividades com abordagem

interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar para colocar em discussão possíveis soluções para problemas sociais. Esta noção demonstra a importância da extensão como forma de maior diálogo entre a sociedade e a comunidade acadêmica.

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