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Política europeia de proteção ao consumidor: um exemplo

A União Europeia, preocupada, sobretudo, com a maior integração de seu mercado interno e com a questão do meio ambiente, estabeleceu, em março de

321 Cf. HABERMAS, Jurgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. 2. ed. Rio de Janeiro:

Tempo Brasileiro, 2003.

322 Como visto, de acordo com REICH, o Direito do consumidor surgiu para dar resposta a problemas

que, de fato, existiam.

323 Sobre a política europeia de proteção ao consumidor a que aqui se faz referência

cf. COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. Consumer Policy Strategy: Empowering consumers, enhancing their welfare, effectively protecting them. Disponível no endereço eletrônico http://ec.europa.eu/consumers/overview/cons_policy/doc/cps_0713_en.pdf (acesso em 09.03.2011). Para visualizar os documentos relativos ao trâmite e aprovação da política, de maneira mais ampla, cf. http://ec.europa.eu/consumers/overview/cons_policy/index_en.htm (acesso em 09.03.2011).

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2007, política estratégica de proteção ao consumidor, prevista para ser implementada no decorrer dos anos de 2007 a 2013.

São objetivos expressamente previstos pela política em vias de implementação na Europa: “qualificar” os consumidores da União Europeia, viabilizando-lhes reais possibilidades de escolha e acesso a informações relevantes e a um mercado transparente; incrementar o bem-estar dos consumidores da União Europeia em termos de preço, escolha, qualidade, diversidade e segurança; proteger os consumidores de riscos e temores que eles eventualmente tenham, de modo a fortalecer a integração do mercado interno324.

Por via reflexa, busca-se: a diminuição do desperdício e do custo econômico da produção; o advento do consumo sustentável, mais consentâneo com o meio ambiente; por fim, a valorização das empresas mais competentes e que oferecem produtos e serviços de melhor qualidade325.

Pretende-se, ao final, verdadeira mudança no atual estilo de vida e nos padrões de consumo da União Europeia, o que seria, em certa medida, reflexo do “qualificação” dos consumidores. É o que está claramente previsto no seguinte trecho da mencionada política:

Consumidores capacitados e informados podem mais facilmente fazer mudanças no seu estilo de vida e nos padrões de consumo, contribuindo para o aperfeiçoamento de sua saúde, para a maior sustentabilidade dos padrões de estilo de vida e para a diminuição do uso do carbono. Consumidores são os maiores contribuintes para os desafios ambientais, tais como a mudança climática, a poluição do ar e da água, o uso da terra e o desperdício. A proteção do meio ambiente e a luta contra a mudança climática clamam por melhor informação em áreas tais como a energia e o transporte, em que consumidores responsáveis poderiam fazer uma diferença real326.

324 Cf. COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. Consumer…, cit., p. 13-14. 325 Cf. COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. Consumer…, cit., p. 22.

326 COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. Consumer…, cit., p. 22. No original:

“Empowered and informed consumers can more easily make changes in lifestyle and consumption patterns contributing to the improvement of their health, more sustainable lifestyle and a low carbon economy. Consumers are major contributors to environmental challenges such as climate change, air

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Ao que se percebe, a ideia principal da política perpassa pela seguinte concepção: apenas é possível proteger os consumidores se eles forem críticos. Para tanto, a política objetiva equipá-los com as habilidades e as ferramentas necessárias, o que se daria, principalmente, a partir da transparência do mercado e da divulgação das informações essenciais a um consumo sustentável e saudável.

Almeja-se, assim, à formação de um consumidor mais autônomo, que consiga fazer suas escolhas de modo a contribuir para a formação de um mercado mais eficiente nos seus mais variados aspectos.

As ações para o alcance dos objetivos traçados pela política são, em suma, voltadas para:

a) monitorar, de maneira mais eficiente, os mercados de consumo e as políticas nacionais de consumo no âmbito da União Europeia, o que envolve a obtenção de indicadores e dados estatísticos sobre preço, acesso e satisfação dos consumidores, bem como sobre acidentes de consumo e políticas legislativas internas;

b) modernizar, simplificar e melhorar a regulamentação do mercado de consumo, em âmbito comunitário, tudo com a participação de organizações (de âmbito europeu) de consumidores, as quais continuarão sendo cofinanciadas pela Comissão da Comunidade relacionada com os assuntos do consumo;

c) providenciar a informação e educação dos consumidores, com campanhas informativas e incremento no número de cópias distribuídas do “Europa School Diary”, com enfoque especial para o consumo sustentável;

and water pollution, land use and waste. The protection of the environment and the fight against climate change calls for better information in areas, such as energy and transportation, where informed consumers could make a real difference”.

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d) assegurar e incrementar a participação dos consumidores em todas as políticas relevantes, sobretudo naquelas relacionadas com direitos dos consumidores;

e) dialogar com políticas internacionais, por via da celebração de acordos internacionais entre a União Europeia e terceiros países327.

Em síntese, a política de defesa do consumidor ora sob análise, mais do que disponibilizar o acesso ao consumo, almeja à formação de um consumidor mais autônomo e responsável em suas escolhas. Ela é um exemplo de proposta pós- intervencionista, que não crê no sucesso da autorregulamentação do mercado, tampouco na viabilidade de uma política tipicamente intervencionista, nos moldes propostos pelo Estado Social. Antes disso, é uma aposta na participação do consumidor na construção do mercado de consumo e que, simultaneamente, não deixa de reconhecer a relevância da implementação de políticas públicas que subsidiem a proteção do consumidor.

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