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O principal objetivo do capítulo 1 é contextualizar o processo de elaboração da política indigenista pombalina, denotando os aspectos essenciais que remetem à mesma, bem como atentar para a dinâmica de sua aplicação, sublinhando que tal processo foi condicionado não apenas pela atuação dos vários agentes sociais envolvidos, mas também pelas especificidades locais concernentes à realidade a qual foi aplicado. Para tanto, faz-se fundamental considerar a relevância que os índios sempre tiveram para o empreendimento colonial a fim de evidenciar que a inserção dos nativos ao projeto colonial se deu desde os primórdios do processo de colonização. Além disso, é fundamental apreender as medidas indigenistas pombalinas no bojo da legislação indigenista colonial a fim de observar as suas continuidades e descontinuidades. No que concerne à dita legislação, esta será abordada de forma a afastar perspectivas que a concebem simplesmente como hipócrita e contraditória. Longe disso, buscar-se-á resgatar a sua historicidade e elucidar seus elementos centrais, sem nunca esquecer que ela é resultado de um complexo jogo de forças e interesses que envolvem a Coroa, os missionários, os colonos e os próprios índios. A partir daí, a intenção é ressaltar, amparado nas fontes e na produção historiográfica recente, que as medidas adotadas durante o reinado de D. José I, marcadas por uma perspectiva notavelmente assimilacionista, foram pensadas e construídas tendo em vista uma realidade específica: a região amazônica. Tal constatação, devidamente complementada por investigações que buscam trazer à tona as razões que levaram a ampliação das mesmas para as demais regiões da América portuguesa, será imprescindível para entender os rumos da política indigenista pombalina em contextos distintos e particulares, condicionando, então, a aplicação da mesma. Enfim, ao empreendermos nossa análise, intentaremos ainda considerar o protagonismo indígena ao longo desses processos e atentar para os diferentes interesses que orientaram as suas ações.

34 1.1 - Os índios e o projeto de colonização

No que diz respeito ao projeto de colonização português, não raro a historiografia valorizou e ressaltou a dimensão econômica na análise67. Sem negar a importância de tal aspecto, cabe destacar que é fundamental apreender o projeto colonial a partir dos três vértices que o constituiu – o econômico, o político e o religioso – sem, com isso, estabelecer qualquer relação de preponderância de um deles sobre os outros. Perpassado pelos ideais da Conquista, da expansão da fé católica, bem como da expectativa econômica inerente à aventura ultramarina, o empreendimento colonial deve ser entendido, então, a partir de sua globalidade. Mais do que isso, o processo de colonização português pressupunha ainda a heterogeneidade. Nesse sentido, Raminelli observa com acuidade que “o império marítimo português integrava pontos dispersos nas quatro partes do mundo”, de modo que “o Brasil também interligou-se à metrópole de forma fragmentada, era arquipélago”68.

Para melhor analisarmos as várias sociedades advindas da experiência colonial julgamos fundamental compreendermos a sociedade ibérica em toda a sua complexidade. Quanto a isso, é imprescindível considerar que os Impérios advindos das aventuras marítimas reuniram populações de diferentes origens sob a égide de uma autoridade política comum: a Monarquia ibérica. Tal monarquia estava em grande parte baseada no paradigma corporativo, chave explicativa que tornou-se recorrente a partir dos estudos de Antônio Manuel Hespanha e Ângela Barreto Xavier69. A linha interpretativa em tela, que está pautada na compreensão do Antigo Regime ibérico a partir de suas próprias práticas e instituições, pressupõe a sociedade como um corpo, sendo o rei a cabeça do mesmo. Segundo essa lógica organicista, os outros membros ocupavam diferentes funções, cada qual importante, mas dispostas hierarquicamente. Essa perspectiva era profundamente influenciada pelo pensamento teológico, de modo que era “dominado pela ideia de existência de uma ordem universal (cosmos), abrangendo os homens e

67 Ver, por exemplo: FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1976; SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil (1500/1820). São Paulo: Ed. Nacional, 1977.

68 RAMINELLI, Ronald. Serviços e mercês de vassalos da América Portuguesa. Historia y Sociedad, Edición. N°. 12. FCHE-UN, Facultad de Ciencias Humanas y Económicas, Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín: Colombia. Noviembre. 2006.

69 HESPANHA, Antonio Manuel; XAVIER, Angela Barreto. A Representação da Sociedade e do Poder. In: HESPANHA, Antonio Manuel (coord.). História de Portugal. Vol. 4: O Antigo Regime. Lisboa: Ed. Estampa, 1993.

35 as coisas, que orientava todas as criaturas para um objectivo último, que o pensamento cristão identificava com o próprio Criador”70. Assim, em meio a uma ordenação pré-fixada e de origem divina, cabia ao rei, isto é, a cabeça, o papel de coordenador a fim de garantir o pleno funcionamento do corpo social: “a função da cabeça não é, pois, a de destruir a autonomia de cada corpo social, mas a de, por um lado representar externamente a unidade do corpo e, por outro, manter a harmonia entre todos os seus membros, atribuindo a cada um aquilo que lhe é próprio, garantindo a cada um o seu estatuto; numa palavra, realizando a justiça”71.

Se as monarquias ibéricas já agregavam na própria península um mosaico de diferentes povos que compartilhavam o fato de estarem sob a mesma autoridade política72, tal pluralidade apenas crescerá com o desenrolar da experiência marítima e com a consequente intensificação dos contatos interétnicos envolvendo diferentes povos da África, da América e do Oriente. Aliás, no que diz respeito à inserção dessas populações à ordem social ibérica, as reflexões de Hebe Matos muito contribuem para melhor compreendermos essa questão. Discorrendo sobre a escravidão moderna no bojo do Império português, a autora destaca que a formação da sociedade colonial “se fez com base numa concepção predominantemente corporativa da sociedade”, de maneira que, aliada aos pressupostos básicos do catolicismo, primou pela inserção de outros povos advindos das situações de contato73. Assim, como Mattos salienta, os indivíduos oriundos dos processos de Conquista e de colonização, devidamente integrados à “orbis christianus”, acabavam por se inserir na estrutura hierárquica social que caracterizava o Antigo Regime português a partir de uma miríade de situações. Não estamos querendo aqui desconsiderar a ação desses próprios indivíduos ou dar a entender que a integração dos mesmos tenha se dado a partir de uma mera imposição. Quanto a isso, diversos trabalhos surgidos nos últimos tempos vem apontando pertinentemente para o protagonismo e para as apropriações que os diferentes grupos

70 HESPANHA, Antonio Manuel; XAVIER, Angela Barreto. Op. Cit. 1993. p.122. 71 HESPANHA, Antonio Manuel; XAVIER, Angela Barreto. Op. Cit. 1993. p.123.

72 Lockhart e Schwartz destacam muito bem essa diversidade pertinente à Península Ibérica no Capítulo 1 (“Modos Ibéricos”) da obra que escrevem em conjunto: “Localizada na fronteira entre as esferas cristã e muçulmana, lar de muitos reinos e vários idiomas, voltada em parte para o Mediterrâneo, em parte para o Atlântico e em parte para si mesma, a Península Ibérica no início da era moderna apresentava uma grande diversidade. Mas, reconhecidas as idiossincrasias de cada um dos reinos ibéricos, todos, ainda assim, tinham uma experiência cultural e histórica comum”. LOCKHART, James; SCHWARTZ, Stuart. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira , 2002. p.21.

73 MATTOS, Hebe Maria. A escravidão moderna nos quadros do Império português: o Antigo Regime em perspectiva atlântica. In: Fragoso, João; Bicalho, Maria Fernanda; Gouvea, Maria de Fátima (Org.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2001.

36 incorporados à sociedade colonial empreenderam em relação ao catolicismo e aos pressupostos básicos da lógica social ibérica, de maneira que as aldeias e as irmandades, enquanto espaços de sociabilidade e de rearticulação identitária, constituíram palcos privilegiados nesse sentido74. Todavia, vale ressaltar que era a unidade católica, portanto, que servia como base para a legitimação da autoridade política das monarquias ibéricas, constituindo ainda o caminho pelo qual as diferentes populações incorporadas a partir do processo de expansão marítima se inseriam na comunidade política.

Feita essa breve consideração, cabe salientar que um dos pontos caros do projeto em tela era o da inserção das populações indígenas à nascente ordem colonial. Como bem lembra Almeida, “se a conquista do território podia ser feita por meio da violência e destruição da organização social dos grupos indígenas, o projeto de colonização implicava a reorganização dessas populações de forma a integrá-las à nova ordem que se estabelecia”75. Essa inserção, aliás, se justificava em função da importância que as populações indígenas tiveram para o empreendimento colonial português ao longo do tempo e do espaço. Muito embora, como destacou Schwartz, a importância dos nativos tenha sido mais evidente nos momentos iniciais da colonização, quando o nível do assentamento europeu era baixo e os mesmos possuíam grande dependência em relação aos índios76, fato é que ela pode ser verificada ao longo de todo o período colonial. Seja como aliados militares nos tempos da Conquista, como novos fiéis no contexto de expansão da fé católica, como mão-de-obra para colonos e para a própria Coroa, ou mesmo como novos súditos encarregados de defender, garantir e ocupar os domínios coloniais, os indígenas estiveram quase sempre incluídos como elementos essenciais do referido projeto. Mas, a despeito do plano, é fundamental considerar que as relações entre os índios e a sociedade envolvente, longe de ser unilaterais e baseadas unicamente na sujeição, foram, antes de tudo, multifacetadas e marcadas, em ambos os lados, por “promessas, exigências, recuos e

74 No que diz respeito às aldeias, ver, por exemplo: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. No que tange às irmandades, ver, por exemplo: REIS, João José, “Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da escravidão”. In: Tempo, vol. 2, n. 3, 1997. pp. 7-33.SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

75 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op. Cit. 2003. p. 81.

76 SCHWARTZ, Stuart. "Brazilian ethnogenesis: mestiços, mamelucos and pardos". In: S. Gruzinski & N. Wachtel (orgs.). Le Nouveau Monde, Mondes Nouveau: L'experience Americaine. Paris, 1996. pp. 7-27.

37 colaborações”77, tendo sido ainda profundamente condicionadas pelo contexto espaço-temporal. Nos últimos anos, a propósito, diversos estudos vem salientando tal aspecto, denotando que os índios agiram a partir de seus próprios interesses e motivações a fim de buscar melhores condições em meio ao universo colonial que se expandia78.

Dessa forma, para entender a conexão entre o projeto de colonização e os nativos em sua totalidade, é importante antes frisar a significativa aliança entre a monarquia portuguesa e a Igreja no bojo do processo em questão. A aliança aqui considerada não pode ser suficientemente entendida caso esqueçamos uma relação essencial mantida entre as mesmas: o Padroado. Tal relação foi muito bem definida por Boxer, que afirma que o Padroado “pode ser amplamente definido como uma combinação de direitos, privilégios e deveres concedidos pelo papado à Coroa de Portugal como patrona das missões e instituições eclesiásticas católicas romanas em vastas regiões da África, da Ásia e do Brasil”79. Tendo sua origem no final da Idade Média, o Padroado muito se relaciona a um contexto em que a Igreja, com sua autoridade contestada, passou a compreender as suas limitações quanto à propagação e à universalização do cristianismo, bem como o do surgimento de novas organizações político-administrativas que remetiam aos Estados modernos. Como bem destacou Santos, “sucessivos papas convergiram no estabelecimento de uma saída para a crise da Igreja: conceder privilégios aos reis católicos, tornando-os aliados da Igreja na luta contra as heresias e a ameaça protestante”80. No caso português, a estruturação do Padroado régio remete, sobretudo, às concessões papais no fim da Idade Média e no início da época moderna, as quais acabaram por tornar a Igreja Católica, em Portugal e seus domínios, dependente da Coroa. A partir de tais concessões, portanto, a referida relação foi constituída. Dentre essas, algumas são emblemáticas no sentido de denotar o entrelaçamento entre as duas instituições e a expansão da fé sobre as conquistas lusitanas: em 1452, por meio da bula Dum Diversas, o papa Nicolau V concedeu ao monarca português, D. Afonso V, o direito de adquirir os territórios conquistados junto aos muçulmanos e aos infiéis; em 1455, o mesmo papa concedeu ao citado rei o direito de construir igrejas nas terras

77 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op. Cit. 2003. p. 78

Ver, por exemplo: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op. Cit. 2003; CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz. Índios cristãos. A conversão dos gentios na Amazônia Portuguesa (1653-1769). Tese de Doutorado: UNICAMP, 2005; ROCHA, Rafael Ale. Os oficiais índios na Amazônia pombalina: sociedade, hierarquia e resistência (1751- 1798). Dissertação de Mestrado: UFF, 2009.

79 BOXER, Charles. O império marítimo português. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p.243.

80 SANTOS, Patrícia Ferreira dos. Poder e palavra: discursos, contendas e direito de padroado em Mariana (1748- 1764). Dissertação de Mestrado: USP, 2007. p.39.

38 descobertas por meio da bula Romanus Pontifex; pouco depois, em 1456, o papa Calixto III permitiu à Coroa agir na esfera religiosa através da administração da Ordem de Cristo, de modo que “o mestre da Ordem, era, assim, confirmado pelo Pontífice nos seus direitos de administrador e governador de todos os bens, rendimentos e, o mais importante, os dízimos eclesiásticos da Ordem de Cristo e a jurisdição eclesiástica sobre as conquistas”81. Pouco a pouco, a partir da ampliação de tais concessões, os reis portugueses se tornaram, portanto, os responsáveis pela administração das questões religiosas em seus domínios, o que incluía, invariavelmente, a expansão da fé e a conversão dos gentios. Assim, como lembra Boxer, o rei, por intermédio do Padroado, era tido por Roma como o provedor da Igreja em seus domínios; em contrapartida, o monarca detinha grande influência e autoridade sobre ela, cabendo ao mesmo o controle “sobre todos os postos, cargos, benefícios e funções eclesiásticos nos territórios ultramarinos”82. Dessa

maneira, fica evidente que a Coroa portuguesa e a Igreja Católica, conciliando seus próprios interesses, estiveram intimamente ligadas no que concerne ao empreendimento colonial.

Considerado o entrelaçamento entre a Coroa e a Cruz, retomemos a discussão sobre esse relevante aspecto da colonização, que é a inclusão dos nativos à ordem colonial a partir da expansão da fé católica entre os mesmos. Pautada em um discurso universalista e civilizacional, a conversão dos índios constituiu uma peça imprescindível no que tange ao projeto de colonização justamente por buscar “uma transformação simbólica, rumo à vida civil e à salvação das almas”83. Tendo isso em vista, é importante considerar que no que diz respeito a tal inserção, havia uma grande diversidade de situações e variações concernentes ao contexto específico de cada região da América portuguesa, de modo que o lugar social dos indígenas e de seus descendentes na hierarquia colonial dependeu, antes de tudo, da forma de inclusão dos mesmos. Quanto a isso, cabe ressaltar a distinção que os próprios colonizadores faziam em relação aos índios, diferenciando os aliados e os inimigos. No que se refere aos últimos, que em geral habitavam os sertões à margem da sociedade colonial, a inserção se dava, em geral, nos estratos mais baixos da hierarquia em questão. Capturados em guerras justas, isto é, o direito de fazer guerra e escravizar os índios responsáveis por hostilidades, pela quebra de pactos ou pela recusa em aceitar a paz imposta pelos portugueses, esses indígenas acabavam por ser integrados à

81 SANTOS, Patrícia Ferreira dos. Op. Cit. 2007. p.40. 82 BOXER, Charles. Op. Cit. 2002. p.243.

83 MALHEIROS, Marcia. “Homens da Fronteira”: Índios e Capuchinhos na ocupação dos Sertões do Leste, do Paraíba ou Goytacazes. Tese de Doutorado. Niterói: UFF, 2008. p.169.

39 colônia a partir da condição de escravos, servindo, então, aos propósitos dos colonos e da Coroa quanto à mão-de-obra. A escravidão, aliás, também estava em grande parte associada aos índios adquiridos através do resgate, prática que pressupunha a obtenção junto às chefias indígenas de índios capturados por grupos étnicos rivais. Por outro lado, aos índios aliados, a política de aldeamentos constituiu a principal forma de inserção dos mesmos ao mundo colonial. Reunidos em aldeamentos a partir dos descimentos – expedições que tinham o intuito de deslocar os índios das suas aldeias de origem para outras próximas dos núcleos portugueses a fim de corresponder aos interesses da colonização – os nativos tornavam-se, então, súditos cristãos sob a tutela dos missionários.

Todavia, não é nossa intenção encerrar a discussão e dar a entender que as formas de inserção das populações indígenas à sociedade colonial tenham se limitado a essas. Não resta dúvidas que, no bojo da heterogeneidade que marcou o Império português, é possível verificar situações diversas que destoam das apresentadas. Me refiro aqui, por exemplo, ao caso de índios administrados; de índios que caiam em escravidão a partir de casamentos com negras cativas; e também das próprias lideranças indígenas, que, em várias situações, tiraram proveito da importância que possuíam aos olhos das autoridades coloniais – muito por conta da representatividade que possuíam em relação as suas comunidade – para obterem vantagens e um lugar mais favorável na hierarquia social84. Para além desses, havia ainda grupos indígenas que, atuando em regiões de fronteira entre impérios coloniais, mantiveram alguma autonomia enquanto grupo através do papel de intermediários que exerciam85. Portanto, atentar para o lugar

e a posição que as populações indígenas ocuparam na sociedade envolvente tendo em vista o projeto de colonização não é algo que se possa fazer por meio de generalizações, já que a grande diversidade inerente à experiência colonial portuguesa na América acaba por demandar estudos específicos e regionalizados a fim de dar conta das mesmas.

Posto isso, as aldeias, a propósito, merecem uma análise mais detida pela relevância e pela importância que assumiram no que concerne à inserção dos nativos ao projeto colonial

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Sobre tais situações ver, respectivamente: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op. Cit. 2003; RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Índios brasílicos: índios coloniais em Minas Gerais setecentista. Tese de Doutorado em História, Unicamp, 2003; CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz. Op. Cit. 2005.

85 Ver, por exemplo: FARAGE, Nádia. As muralhas do sertão: os povos indígenas no Rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra/ ANPOCS, 1991; CARVALHO, Francismar Alex Lopes. Viajantes, mareantes e fronteiriços: relações interculturais no movimento das monções (século XVIII). Dissertação de Mestrado: UEM, 2006.

40 português. Em meio a um contexto em que os conflitos entre os colonos e os nativos denotavam que o sucesso do processo de Conquista e a efetivação do mencionado projeto não se dariam unicamente através da força e da submissão, alternativas que primavam pela aliança e por uma maior interação com os índios passaram a ser cada vez mais aviltadas. Indo nesse sentido, “a missão de conversão dos indígenas à fé católica ganha destaque com o estabelecimento dos primeiros missionários jesuítas”86 a partir da criação do Governo-Geral, em 1549, muito embora seja preciso ressaltar que a participação do clero secular nessa questão, mesmo não sendo de forma sistemática, já existia.

No princípio, as ações dos jesuítas na América portuguesa, ordem que participou ativamente deste processo, remetiam às missões itinerantes, que iam até as aldeias indígenas com o intuito de evangelizar e cristianizar. No entanto, diante de diversos questionamentos que consideravam a mesma pouco eficiente, tal modelo acabaria substituído pelas proposições que o padre Manoel da Nóbrega apresentou em seu “plano das Aldeias”. De acordo com esse novo paradigma, a prática de evangelização itinerante seria substituída pelas aldeias, que, reservadas à conversão dos nativos à fé católica, seriam fixas em locais que favorecessem os propósitos da colonização e da catequese. No entanto, na prática, os locais dos estabelecimentos dos aldeamentos estiveram atentos não apenas aos interesses dos missionários e da Coroa, mas também aos dos próprios indígenas, que tiveram participação relevante em tal processo. Enfim,

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