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POLÍTICA LINGUÍSTICA

Não devemos imaginar, entretanto, que leis como o diretório tenham, por si só, mudado o perfil linguístico, da Libras, do país, ou que tenham sido 'obedecidas' tranquilamente pela população, no caso a comunidade Surda. O historiador José Honório Rodrigues chama nossa atenção para a resistência [Grifo do autor] que os diversos grupos linguísticos do país opuseram contra as políticas de homogeneização e glotocídio, numa verdadeira guerra de línguas. (OLIVEIRA, 2004, p. 29. Grifo da pesquisadora)

Entende-se que a “guerra de línguas‖ nos possibilita entender que as línguas (isto é, as diversas comunidades linguísticas) não convivem pacificamente, mas se valem das diferenças linguísticas nas suas lutas políticas de defesa ou de conquista. (CALVET, 1999, p.66).

As políticas linguísticas têm sua ação em todo o mundo, acompanhando movimentos políticos, sociais e, também, os culturais (CALVET, 2007).

Como já abordamos em Sessões anteriores, as políticas públicas sociais englobam as políticas de educação que, por sua vez, incluem as políticas linguísticas e estas estão interligadas com os direitos, a cultura e com o Estado (CRISTOFOLI, 2010).

No entanto, discutiremos nesta Seção sobre a Política Linguística, quando há uma preocupação e um planejamento entre à relação de poder e as línguas ou, mais propriamente, entre as decisões políticas sobre línguas e seus usos na Educação dos e para os Surdos, tendo por enfoque a formação dos surdos e ouvintes envolvidos sejam eles ingressantes quanto profissionais. Sendo que as palavras de Calvet (2007, p. 145) ressalta o nosso objeto de estudo:

Política linguística é um conjunto de escolhas conscientes referentes às relações entre língua(s) e vida social, o planejamento linguístico: a implementação prática de uma política linguística, em suma, a passagem ao ato. Não importa que grupo possa elaborar uma política linguística: fala-se, por exemplo, de ―políticas linguísticas familiares‖.

Estes e outros objetos de estudos que embasa os debates sobre a política linguística do Estado que promove argumentos instigam nos todos a um estudo reflexivo e discussão sobre a necessidade e a importância da implementação desta política linguística na Educação dos e para os Surdos que incita as ações pedagógicas e estruturais.

Para iniciarmos a discussão, retomamos um pouco da história que buscando compreender os fatores que provocaram a interdição da política linguística durante muito

tempo. No Brasil, desde o período colonial tentava-se reforçar o pressuposto de cultura e língua únicos. Estes ainda persistem em alguns lugares, uma vez que, é naturalizada a prática de se impor uma cultura monolíngue, procurando ocultar o plurilinguísmo existente, bem como, generalizando uma propagação da ideia, de que se fala uma mesma língua portuguesa nos quatro cantos do país, e, que, portanto, todos se entendem. No entanto, nem é preciso ser estudioso da língua para perceber que essa cultura de ―língua única‖ é equivocada. Tal possibilidade se concretiza apenas enquanto uma única língua oficial da República Federativa do Brasil, a língua portuguesa, (Constituição Federal/88, art.13)61.

Partindo-se deste observa-se que, no caso das pessoas Surdas, que tem a Libras como a sua primeira língua deve ser estimulado a utilizar e aprender também a Língua Portuguesa que é a língua oficial do país residente em diversos contextos, sendo enfatizada no parágrafo único da Lei 10436/2002 (BRASIL, 2002), de que a Libras não poderá substituir a Língua Portuguesa, que para os Surdos é uma segunda língua, e o Decreto 5626/2005 ainda reforça que a Língua Portuguesa para Surdos deve ser ofertada e adquirida em modalidade escrita.

Retomando a determinação da Lei 10436/2002 ao determinar que a Libras não substitui a Língua Portuguesa, este parágrafo, consequentemente, acaba por privar e/ou limitar o acesso pleno das pessoas Surdas na Libras, distorcendo a percepção da política linguística bilíngue – Libras e Português, pois a Língua Portuguesa se coloca em posição desigual com a Libras em diferentes contextos sociais perpetuado em uma cultura monolíngue.

De acordo com o Calvet (2007), a percepção sobre a cultura monolíngue provoca um impedimento e embate histórico e educacional, seja ele explícito ou não, situações que poderiam inibir as possibilidades de participação política dos cidadãos brasileiros falantes de outras línguas, considerando que, mesmo tomando a língua portuguesa como referência, ela não é falada de uma única forma, mas é expressa por meio de diversos dialetos que concretizam as variações linguísticas brasileiras. Muitas vezes, esses traços tornam-se identificadores da região e/ou da classe social a que o falante pertence.

As diferenças na maneira de falar são maiores, num determinado lugar, entre um homem culto e o vizinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de duas regiões distantes uma da outra. (TEYSSIER, 1982, p.79)

61 Texto constitucional determina que a Língua Portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil (CF/88, art.13).

Assim, diante do exposto, é inegável que precisa haver políticas linguísticas que viabilizem os usos do português e outras línguas adotadas em comunidades minoritárias existentes no país, não apenas o uso da norma-padrão. Como reforça o Calvet (2007) o não reconhecimento de dialetos presentes no português brasileiro, como também, as demais línguas em território nacional é uma clara intervenção do Estado, que tem um discurso de hegemonia linguística em torno da ―identidade nacional‖.

Apesar de o texto constitucional reconhecer as línguas indígenas (inclusive no processo educacional dessa população)62, o mesmo não ocorre com as demais línguas alóctones (de imigração), crioulas63 e muito menos com a Libras apesar de que a mesma ser reconhecida como língua pela Lei Federal nº 10436/2002, art. 1º:

É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2005, p.1)

A partir deste relevante marco histórico e legal, nas últimas décadas, o Brasil vivencia um crescimento de debates e reivindicações de temáticas ligadas aos aspectos sociais, político, cultural e linguístico. Esse último sendo refletido acaloradamente pela comunidade Surda no que tange a Libras, com suas especificidades linguísticas diferentes, espalhadas de norte a sul do país, com o seu status linguístico reconhecido e a ser difundido aos demais campos da sociedade, seja ele, no espaço escolar, quanto no espaço político, cultural, dentre outros.

Porém, na realidade, a Libras não é utilizada de fato com o devido status linguístico em determinados ambientes que as pessoas Surdas frequentam, pois a maioria deles designa a Libras como um acessório para suprir as carências, como é o caso na educação dos Surdos, que ainda não vê as pessoas Surdas cidadãs com sua particularidade linguística que oportuniza a mesma a interagir e participar na sociedade, onde a Libras deve ser constituída naturalmente

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O texto constitucional garante que ―o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem (CF/88, art.210, inciso 2º)

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Conforme Burke (2010), línguas crioulas têm sua origem nos pidgins, os quais ele descreve como sendo línguas sem falantes nativos, que (para permitir a comunicação entre diferentes pessoas) foram simplificadas, reduzidas ao mínimo. Assim, línguas crioulas são pidgins que voltaram a se desenvolver, ou seja, [...] que adquiriram falantes nativos e novamente se tornaram complexas‖. (BURKE,2010, p.128)

entre as pessoas Surdas e ouvintes.

O Surdo, como usuário natural da língua, deve estar presente na comunidade, escola, universidades para que todos possam identificar-se positivamente e desenvolver a utilização da língua de sinais da forma mais natural possível. A mesma autora também diz que ―As festas, os jogos, os campeonatos, as sedes organizadas por surdos são formas de interação social e linguística, que garantiram a formação da comunidade surda brasileira com uma língua própria‖. (QUADROS, 2009, p.11)

Apesar de a Língua Portuguesa ser a língua reconhecida do Brasil e, a segunda língua dos Surdos, elas (Libras e a língua portuguesa) permitem lhe interagir e participar na sociedade, no entanto, os direitos humanos linguísticos das pessoas Surdas devem ser assegurados no ponto de vista de que:

a) Todos os seres humanos têm direito de identificarem-se com uma língua materna(s) e de serem aceitos e respeitados por isso;

b) Todos têm o direito de aprender a língua materna(s) completamente, e escrita (pressupondo que a minoria linguística seja educada na sua língua materna);

c) Todos têm o direito de usar sua língua materna em todas as situações oficiais (inclusive na escola);

d) Qualquer mudança que ocorra na língua materna deve ser voluntária e nunca imposta. (QUADROS, 2009, p. 10-11)

Contudo, em todo o território nacional, esse processo precisa ser iniciado em todos os ambientes, onde o mesmo necessita oferecer os seus resultados significativos, a fim de se criarem mecanismos de divulgação, aquisição, aprendizagem e, principalmente, o uso da Libras, sob a pena de não se construir um status linguístico favorável para a mesma.

Entende-se por status linguístico, uma língua de prestígio, fomentados em línguas oficiais, de trabalho, nacional, no caso da Libras que é correlacionada com a língua de sinais, em que o Stokoe (apud Quadros & Karnopp, 2004) comprovou a sua complexidade, na medida em que, assim como línguas orais, as línguas de sinais possuem regras gramaticais, léxico que permitem a expressão dos conceitos, os abstratos e a produção de uma quantidade infinita de sentenças.

Paterno (2007) afirma que o status linguístico da Libras está sendo planificado em sua imensidão, pois:

[...] conforme os surdos se qualificam estes terão outra postura perante a sociedade e esta perante estes. Surdos reconhecidos implica em ter-se mais professores qualificados para o ensino das crianças surdas, maior abertura por parte dos pais para o aprendizado da Libras e a sua utilização em casa. Possibilidade de crianças surdas terem professores surdos e de circularem nos mais diversos lugares e encontrarem pessoas que saibam Libras.

Assim vê-se que há uma grande possibilidade de mudança do status linguístico da Libras, passando de uma língua excluída com uso quase que apenas entre os surdos e nas associações de surdos para uma língua de ampla veicularidade nos diversos espaços de nossa sociedade. (PATERNO, 2007, p. 77-79)

Por conseguinte, entende-se que é preciso articular uma fomentação das políticas, principalmente para o ensino bilíngue, que ainda está longe de um panorama satisfatório, no que tange ao tema sobre políticas linguísticas na Educação dos e para os Surdos. Pouca atenção tem sido dada a esse assunto, as políticas existentes ficam restritas, muitas vezes, a projetos que têm data para iniciar e terminar, além de que, a maioria, concentra-se em certa região limitando a participação das demais regiões.

Para delimitar a discussão buscamos um respaldo teórico por de uma revisão bibliográfica referente a políticas linguísticas produzidas por CALVET (1997, 2002, 2004, 2007); FOUCAULT (1992); ORLANDI (1996, 2001); BEHER (2008); OLIVEIRA (2009); BALL E MAINARDES (2011); esses mesmos autores apresentam várias ferramentas que possibilitam uma análise para o planejamento, implantação e formação de uma política linguística.

Além destes, buscaremos as aberturas de discussões atuais no que tange a política linguística voltada na Educação dos e para os Surdos que carecem de discussão e estudos teóricos. São poucas publicações, assim, buscaremos suportes nos estudos de GOLDFELD (1997); LOPES (2004, 2009); DIZEU E CAPORALI (2006); QUADROS (2006, 2011); PATERNO (2007); THOMA (2011).

Pretende-se com os aportes teóricos presentes e adotados neste estudo nos situar o que melhor contextualiza as políticas linguísticas e suas contribuições, compreender o que necessita ser apropriado na educação dos e para os Surdos, para posteriormente, promover a compreensão da política no âmbito da linguística, contendo os aos aspectos da política e do cultural das pessoas Surdas em todo o seu processo de escolarização no ambiente que se encontra, tanto na formação do Surdo, quanto do ouvinte, que será uns dos alicerces de estudo desta Tese.

4.1 Política Linguística como Política Pública

Como apresentado anteriormente, a comunidade surda persistiu por muitos anos pressionando o Estado acerca do reconhecimento de sua língua, na qual a mesma deve ser utilizada como língua de instrução no sistema educacional. Além desta pressão, movimentada pela comunidade Surda, não pode se ignorar o fato de ser necessário que houvesse, também a

vontade política, para efetivar a sua implementação e o desenvolvimento de uma nova política linguística, pois, esta implica em uma forma diferente de enxergar a realidade, depreendendo novo planejamento a ser elaborado pelas várias instituições públicas e privadas.

Na atualidade, os ensejos dos gestores, professores, estudantes e demais pessoas envolvidas para com a educação, mais especificamente com a Educação dos Surdos, geralmente não é correspondido pela proposta dos governos Municipal, Estadual e Federal ao imprimirem a direção desejada, sem contextualização da prática e das vivências que existem no atual paradigma educacional, no que tange a sua política linguística.

Este feito se deve ao fato de que todo o contexto educacional de uso linguístico é monitorado e controlado, onde em partes é sugerido a escola exercer sua autonomia, mas por outro, há o domínio por parte dos órgãos interessados em direcionar os passos da educação como se posicionam Ball e Mainardes (2011, p. 13) ao afirmarem que as políticas:

[...] envolvem confusão, necessidades (legais e institucionais), crenças e valores discordantes, incoerentes e contraditórios, pragmatismo, empréstimos, criatividade e experimentações, relações de poder assimétricas (de vários tipos), sedimentação, lacunas e espaços, dissenso e constrangimentos materiais e contextuais. Na prática as políticas são frequentemente obscuras, algumas vezes inexequíveis, mas podem ser, mesmo assim, poderosos instrumentos de retórica, ou seja, formas de falar sobre o mundo, caminhos de mudança do que pensamos sobre o que fazemos. As políticas, particularmente as políticas educacionais, em geral são pensadas e escritas para contextos que possuem infraestrutura e condições de trabalho adequada (seja qual for o nível de ensino), sem levar em conta variações enormes de contexto, de recursos, de desigualdades regionais ou das capacidades locais.

Isto posto, quando se refere às políticas linguísticas, é necessário considerar o papel do Estado, mesmo que não se tenha a pretensão de desenvolver a discussão sobre sua natureza, mas apenas em ressaltar sua importância para o entendimento do tema em discussão. Reconhece-se o caráter dominante, regulador e avaliador do Estado, que apresenta um discurso democrático, porém, muitas vezes, incompatível e antagônico às medidas tomadas em relação às demandas, exigências e necessidades educacionais dos estudantes Surdos.

Conforme destaca Silva (2010, p.39) ao dizer que o Estado deve apresentar propostas de políticas que não beneficiem somente uma parcela da população, pois

[...] não caberia ao Estado assumir a perspectiva ético-política de uma comunidade promovendo um bem comum relacionado com uma tradição local (como, por exemplo, definir a identidade e a cultura de um grupo específico como componente obrigatório do currículo da educação pública) ou com os valores nacionais, em nome dos quais certas políticas públicas deveriam ser promovidas. O Estado deve proteger os indivíduos de

imposições comunitárias, ou de uma maioria no poder, de uma forma de vida ou valor específico a ser seguido. Atrelado a uma concepção de democracia formal, cabe ao Estado, sobretudo, garantir os direitos civis, entre os quais estão a liberdade de escolha cultural e educacional.

Destaca-se, no entanto, que a política linguística só terá sentido quando a mesma for democraticamente construída por uma identidade coletiva e não como fruto de uma luta individual e singular. Segundo Ball e Mainardes (2011, p.14)

[...] o Estado é um dos principais lugares da política e um dos principais atores políticos. Em seu sentido mais simples, a política é uma declaração de algum tipo – ou ao menos uma decisão sobre como fazer coisas no sentido de ―ter‖ uma política –, mas que pode ser puramente simbólica, ou seja, mostrar que há uma política ou que uma política foi formulada.

Por isso, a educação dos Surdos não pode ser pensada de forma abstrata, cuja implementação das políticas linguísticas aparecem apenas nos textos legais. Há de fato uma necessidade imanente de que se haja uma movimentação para instigar e sensibilizar as autoridades para as demandas reais relativa a qualificação de todas as pessoas envolvidas no processo de educação dos Surdos, para que, então, sejam criadas as políticas de Estado e não políticas de Governo. Lembrando-se que nem tudo que serve para o Governo serve para a escola, para a educação e muito menos para a comunidade Surda.

A partir deste fator linguístico, este texto se subdividirá em (dois seção, sendo que a primeira busca situar mais de perto a estreita relação existentes entre estes dois campos teóricos que têm, por sua vez, uma conexão direta com as políticas educativas referentes às línguas: os conceitos de política pública e de política linguística; a segunda, em que apresentaremos as articulações vigentes entre as políticas públicas e as políticas linguísticas que são desenvolvidos concomitantemente na educação dos e para os Surdos.

4.1.1 Conceituação de Política Linguística e seus contextos

A política pública, considerando com as apresentações já realizadas na Seção anterior, exponho aqui brevemente a conceituação no que tange a política pública como área científica originados nos Estados Unidos, em 1936, com Laswell, quando, por meio da expressão policy analysis, traduzida por ―análise de política pública‖, tentou-se criar a elaboração de proposta que viesse a estabelecer uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a produção governamental (SOUZA, 2012).

Neste contexto, entende-se que as políticas públicas, de um determinado lugar, possuem diferentes repercussões nas intercomunicações que lhes são conferidas, de acordo

com o conhecimento acadêmico e a percepção obtida. Pois, há algumas políticas públicas que o governo tem interesse em apenas publicizar, porque são signos de competência, de trabalho, de articulação e, frequentemente, rendem votos ao governante; por outro lado, existem as políticas públicas que são secretas ou confidenciais, como é o caso da política externa ou da política militar que são pendurados numa política pública, de pouca visibilidade, mas cuja invisibilidade não é derivada de uma disposição do Estado ou do governo.

Partindo-se do contexto da Educação dos Surdos reconhece-se que houve vitórias e avanços das políticas públicas decorrentes da criação da Lei 10436/2002 e da promulgação do Decreto 5626/2005, que regulamentam e criam o debate da política linguística, porém, os mesmos documentos vêm carregando de intencionalidades de interesses próprios que, só mais tarde se fizeram mais perceptíveis à comunidade surda. Apesar de considerar que há algumas considerações fundamentais trazidas pela Lei e Decreto, em momento algum, pontua-se a importância do conhecimento acerca da história da educação de surdos, da Libras, da cultura e outras questões que diferenciam as pessoas Surdas. Reforça-se de que foram elaborados e publicizados numa percepção dos ouvintes estruturado em um discurso romântico com a finalidade de convencer o público beneficiado de sua exatidão, na prática docilizando e resignificando as reivindicações manifestadas.

Retoma-se os dizeres de intencionalidade constituídos pela política pública pela tentativa de ―transformar sujeitos, suas motivações e inter-relações, de lugares de resistência em potencial ao governo em aliados‖ (ROSE, 2011, p.36). Trata-se aqui da ideia de governar a conduta quando esta pode se apresentar como algo problemático: a comunidade Surda resiste às políticas pretensamente inclusivas e estas, por sua vez, constroem estratégias de convencimento e de condução destas condutas a um lugar de colaboração. Nesta lógica, como afirma Rose (2012, p.72),

[...] o governo está intrinsecamente ligado às atividades de expertise, cujo papel não é o de tecer uma onipresente teia de ―controle social‖, mas pôr em prática tentativas variadas na administração calculada de diversos aspectos de conduta, mediante incontáveis – amiúde concorrentes – táticas locais de educação, persuasão, motivação, administração, incentivo, indução e encorajamento.

Neste cenário, pode-se pensar que esta estratégia política além de, ou, antes de, estar

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