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3. CAPÍTULO III: POLÍTICAS DE HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE E OS

3.3 Política Nacional De Humanização (PNH)

A Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão na Saúde (PNH), consolidada em 2003, foi uma ampliação de ações e programas de humanização em saúde que já haviam sendo realizadas desde o final da década de 1990. Além de novas práticas de intervenção em saúde, essa nova política vem para reafirmar as origens do SUS, e assim, “[...] a humanização como política pública de saúde deve estar efetivando, no concreto das práticas de saúde, os diferentes princípios do SUS” (BENEVIDES; PASSOS, 2005, p. 392).

Nesse sentido, para que atingisse efetivamente todo o sistema de saúde no Brasil, as iniciativas de humanização deveriam ser mais que programas aplicados isoladamente em hospitais e instituições. “A Humanização deve ser vista como uma das dimensões fundamentais, não podendo ser entendida como apenas um “programa” [...], mas como uma política que opere transversalmente em toda a rede SUS” (MS, 2004, p. 6). É por isso que a PNH também é conhecida como o HumanizaSUS, que através de cartilhas e manuais foi disseminado entre instituições e profissionais de saúde em todo sistema de saúde brasileiro,

no intuito de propagar de forma abrangente novas práticas de atenção, cuidado e gestão que primassem pela valorização do ser humano e práticas mais humanizadas. Conforme Archanjo e Barros (2009):

A PNH – HumanizaSUS é uma política pública de saúde que reafirma os princípios da universalidade, equidade e integralidade do SUS mas, também, propõem outros princípios dos quais não se pode abrir mão se queremos um SUS resolutivo e de qualidade (ARCHANJO; BARROS, 2009, p. 2).

Além de reiterar a essência do SUS, a PNH traz novas diretrizes e princípios próprios que regem seu modo de ser e fazer nas práticas de saúde. Com efeito, de acordo com o Ministério da Saúde (2004, p. 9/10), os princípios norteadores da Política de Humanização no Brasil são:

1. Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão, fortalecendo/estimulando processos integradores e promotores de compromissos/responsabilização.

2. Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção de sujeitos.

3. Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade.

4. Atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo solidário, em conformidade com as diretrizes do SUS.

5. Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos.

Estes cinco princípios refletem a busca por uma política transversal, em que sejam valorizados o sujeito e as coletividades, o paciente e os profissionais de modo a construírem ações em conjunto, e nos diversos serviços disponíveis. Por extensão, o conceito de humanização também se amplia. Como mencionado em outros momentos do texto, o termo Humanizar está intrinsicamente relacionado ao que se espera do ser humano, todavia o conceito de humanização para o SUS está além dessa busca por um ser humano ideal, composto de bondade, amor e compaixão pelo outro. Dessa forma:

[...] tomamos a humanização como estratégia de interferência nestas práticas levando em conta que sujeitos sociais, atores concretos e engajados em práticas locais, quando mobilizados, são capazes de, coletivamente,

transformar realidades transformando-se a si próprios neste mesmo processo (BENEVIDES; PASSOS, 2005, p. 391).

Logo, humanizar, de acordo com o HumanizaSUS, é intervir de uma forma mais ampla, dando voz e vez aos usuários, tornando-os atores sociais capazes de gerir a sua própria vida, ter suas escolhas e agir em cooperação com os profissionais de saúde, os quais também serão ouvidos e valorizados de uma forma que promova uma verdadeira mudança na atenção e gestão do SUS. Isto posto, a PNH visa “ampliar o diálogo entre os sujeitos implicados no processo de produção da saúde, promovendo gestão participativa, estimulando práticas resolutivas, reforçando o conceito de clínica ampliada” (ARCHANJO; BARROS, 2009, p .2).

Nesse sentido, com base também no conceito de clínica ampliada, a PNH procura compreender o sujeito em sua singularidade e buscar as melhores maneiras de resolubilidade do problema, em cooperação com o próprio sujeito. Busca-se, então, fomentar autonomia e protagonismo tanto em usuários, como em trabalhadores e gestores, para assim aumentar a corresponsabilidade nas ações de saúde, através de uma participação coletiva na gestão e no fortalecimento de vínculos solidários entre todos (ARCHANJO; BARROS, 2009). A definição do Ministério da Saúde (2004) corrobora o que foi dito até o momento:

É neste ponto indissociável que a Humanização se define: aumentar o grau de corresponsabilidade dos diferentes atores que constituem a rede SUS, na produção da saúde, implica mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho. Tomar a saúde como valor de uso é ter como padrão na atenção o vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular a que eles se coloquem como atores do sistema de saúde por meio de sua ação de controle social, mas é também ter melhores condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e que possam participar como co- gestores de seu processo de trabalho (MS, 2004, p. 7).

Torna-se evidente a busca por mudanças na qualidade do atendimento e relacionamento humano entre os sujeitos, uma vez que, os maus tratos em saúde estavam se tornando um dos maiores motivos de reclamação entre usuários. Desse modo, fazia-se necessário uma mudança na cultura de atenção ao usuário. “Enfim, mudança nos modelos de atenção e de gestão dos processos de trabalho em saúde e compromisso com melhoria das condições de trabalho e atendimento” (ARCHANJO; BARROS, 2009, p. 2).

Essa melhoria nas condições de trabalho e atendimento se configura como um dos pontos mais interessantes de nossa discussão. O acolhimento, atenção e modo de cuidar do usuário foram aspectos alvos de mudanças na PNH. Para o Ministério da Saúde (2004), além

de outras coisas, humanizar é atender com qualidade articulando avanços tecnológicos e melhorias nos ambientes de cuidado. Ou seja, na forma de cuidar.

Desse modo, articular a gestão do cuidado com as práticas de cuidado se torna algo essencial para que haja uma mudança significativa nas intervenções de humanização. Segundo Benevides e Passos (2005, p. 392):

[...] mudamos as relações no campo da saúde quando, por um lado, experimentamos a inseparabilidade entre as práticas de cuidado e de gestão do cuidado. Cuidar e gerir os processos de trabalho em saúde compõe, na verdade, uma só realidade, [...].

Até porque, não há como mudar a forma de atender a população sem que se altere também a dinâmica de organização do trabalho. Com efeito, planejamento e ação devem estar articulados, e isso deve ser feito por todos que compõe a realidade local ou situacional. Com o envolvimento de todos no planejamento, implementação e avaliação dos processos de produção em saúde, torna-se possível humanizar as práticas de gestão e de cuidado na PNH (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Uma das formas de humanizar o cuidado em saúde é reunir tecnologia e boa administração de relacionamentos. De acordo com Merhy et al (1997 apud DESLANDES, 2004) boas interações voltadas para a produção do cuidado representam uma forma de tecnologia, chamada de tecnologia leve, que se configura como um elemento primordial para a gestão de cuidado em saúde.

Justamente nos territórios dessas “tecnologias leves”, isto é, que dizem respeito à produção de vínculos, acolhimento, autonomização e de gestão do processo de trabalho, ocorrem atualmente as principais reestruturações produtivas do setor saúde (MERHY, 2002 apud DESLANDES, 2004, p.10).

A partir do uso dessas chamadas tecnologias leves, que não necessitam de grandes investimentos financeiros, muitas mudanças podem acontecer no cenário de saúde no Brasil. Outro tipo de tecnologia, bem semelhante às tecnologias leves, são as chamadas “tecnologias relacionais”, que possibilitam transformações na forma como os sujeitos se relacionam e como formam as coletividades. Essas são alternativas que, efetivamente, podem alterar as práticas de saúde no país (BENEVIDES; PASSOS, 2005).

Desse modo, ao tratar-se de políticas de humanização no país e dos “modos de fazer” ligados à ética, respeito e qualidade nas relações, destacamos a humanização em cuidados paliativos que teve sua participação desde os primórdios do Programa Nacional de

Humanização da Assistência Hospitalar, através de intervenções no que se refere a “humanização da dor”, “humanização do cuidado no ambiente hospitalar”, “Humanização da velhice”, “Comunicação como fator de humanização na terceira idade” e “Humanização no final da vida em pacientes idosos” (ARCHANJO, 2010).

Por extensão, em momentos seguintes pretendemos debater como a política de humanização interferiu direta e indiretamente nas intervenções de cuidado e atenção em cuidados paliativistas no cenário nacional.

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