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As decisões do governo em matéria de despesas e receitas representam-se no seu orçamento. Em termos do modelo keynesiano, o orçamento do governo reflecte os bens e serviços que o governo comprará, as transferências que realizará e os impostos que cobrará.

A diferença entre as receitas e as despesas públicas do governo mede o saldo orçamental (S.O.). Assim, a função orçamental do modelo é dada pela seguinte expressão:

S.O. = Receitas – Despesas S.O. = T – (G + R)

S.O. = tY – (G+R) S.O. = – (G+R) + tY

Como as receitas consideradas no modelo (T) dependem do rendimento nacional, também o saldo orçamental é uma função do rendimento nacional (varia positivamente com este). Quanto maior as receitas, maior o saldo; quanto maior as despesas, menor o saldo.

2.6.1 Instrumentos de política orçamental

A política orçamental é um dos principais instrumentos de política macroeconómica.8 A política orçamental corresponde ao uso dos impostos e da

despesa pública, ou seja, traduz-se na utilização do orçamento de Estado de forma a influenciar a economia. Quando o governo toma decisões sobre os impostos que cobra, os bens e serviços que adquire ou as transferências que efectua, está a lidar com a política orçamental.

De acordo com o modelo, o governo tem ao seu dispor diversos instrumentos de política orçamental para afectar directamente e indirectamente o nível da economia através dos seus efeitos sobre a procura agregada de bens. Directamente, pode variar as despesas públicas em bens e serviços (∆G), alterando em montante idêntico a procura autónoma de bens. Nas condições do modelo, tal variação na procura autónoma de bens irá gerar uma variação ampliada no nível de procura agregada,

8 Um instrumento de política macroeconómica é uma variável económica que está sob o controlo do

governo e que pode afectar um ou mais objectivos macroeconómicos. Como foi referido atrás, os governos dispõem de determinados instrumentos que podem ser utilizados para influenciar a actividade económica. Ao fazer variar os instrumentos de política macroeconómica, os governos podem conduzir a economia para uma melhor combinação do produto, emprego, estabilidade de preços e comércio internacional. Os principais instrumentos de política macroeconómica são a política orçamental, a política monetária e a política económica das relações externas.

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bem como no nível de produção e de rendimento (∆Y=

α

∆G). Indirectamente, pode alterar a taxa de imposto (∆t) ou as transferências para o sector privado (∆R). Em ambos os casos, estas medidas apenas afectam a economia através das decisões dos agentes económicos. Por exemplo, um aumento nas transferências, ao aumentar o rendimento das famílias, faz crescer a componente autónoma do consumo (c∆R) gerando, por efeito multiplicador, um aumento ampliado no rendimento nacional.

Quais as implicações de política orçamental sobre o rendimento da economia? O nível de rendimento de equilíbrio é, segundo o modelo, determinado pela procura agregada e somente por acaso coincide com o rendimento de pleno emprego (produto potencial). A regra será, por isso, o equilíbrio ocorrer a um nível de produto (rendimento) abaixo do produto (rendimento) potencial, abaixo do pleno emprego. Isto é, segundo o modelo, não se desencadeiam mecanismos automáticos que façam tender a economia espontaneamente para o pleno emprego (o mecanismo de mercado falha). Assim, o modelo fundamenta que o governo chame a si o objectivo de assegurar o pleno emprego. Este objectivo poderá ser alcançado através da alteração, por parte do governo, da procura agregada, introduzindo mudanças nas despesas públicas, nas transferências e/ou na estrutura de impostos. Os efeitos destas mudanças sobre o nível de rendimento podem ser analisados via efeito multiplicador.

Que efeitos é que as medidas de política orçamental terão sobre o saldo orçamental?

Um aumento dos gastos públicos, por exemplo, provocaria uma melhoria ou deterioração do saldo orçamental? À primeira vista parece que implicaria uma deterioração igual ao valor da variação dos gastos, visto que um aumento dos gastos representa um aumento das despesas totais do governo:

1) ∆S.O. = ∆G

Convém, no entanto, não esquecer que, no modelo que estamos a considerar, um aumento dos gastos provoca também um aumento do nível de rendimento de equilíbrio, e que esse aumento induz um aumento automático dos impostos arrecadados, pelo que não é óbvio qual o efeito global:

2) ∆S.O. = ∆T = t∆Y = t

α

∆G

TEORIA –MACROECONOMIA CAPÍTULO 2–MODELO KEYNESIANO E POLÍTICA ORÇAMENTAL/FISCAL _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Somando os dois efeitos, obtém-se o efeito total de um acréscimo dos gastos públicos sobre o saldo orçamental:

∆ S.O. (Efeito total): ∆G+ t

α

∆G

Pode-se concluir que o efeito no saldo é menor do que a variação nos gastos públicos porque há uma componente induzida nos impostos que contraria ou compensa um aumento verificado nos gastos públicos.

E quais os efeitos sobre o saldo orçamental provocados por um acréscimo das transferências?

1) ∆S.O. = ∆R

2) ∆S.O. = ∆T = t∆Y = tc

α

∆R

∆ S.O. (Efeito total): ∆R+ tc

α

∆R

Pode-se concluir que o efeito no saldo é menor do que a variação nas transferências porque há uma componente induzida nos impostos que contraria ou compensa um aumento verificado nas transferências.

Comparando a variação em ambas as medidas, conclui-se que a variação induzida nos gastos é maior do que nas transferências, o que significa que o saldo orçamental se deteriora mais perante um acréscimo das transferências do que perante um acréscimo dos gastos de igual montante.

O saldo orçamental varia sempre que houver uma variação numa das suas componentes. Significa que uma alteração em qualquer componente da procura autónoma afecta o saldo orçamental, quanto mais não seja, devido ao efeito induzido nos impostos. Por exemplo: ∆I → ∆A→ ∆Y→ ∆T → ∆S.O.

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CAPÍTULO 3

MOEDA,BANCO CENTRAL E POLÍTICA MONETÁRIA