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5. A AGRICULTURA TRADICIONAL E A AGROECOLOGIA

5.2. Política públicas para agricultura familiar

O reconhecimento da agricultura familiar no Brasil ocorreu principalmente a partir de estudos desenvolvidos pela FAO em parceria com o INCRA no início da década de 1990, que teve como um de seus resultados o relatório sobre as diretrizes da política agrária e do desenvolvimento sustentável, dando maior visibilidade para a agricultura familiar no contexto das políticas públicas (Azevedo e Pessoa, 2011).

Nesse relatório o conceito de desenvolvimento foi associado às dimensões do local e do sustentável. Assim, pesquisadores e instituições, agentes internacionais e diversos setores da sociedade civil (especialmente os movimentos sociais) passaram a pressionar o Estado brasileiro pela adoção de novas políticas públicas para os contextos rurais. É também relevante ressaltar a influência dos movimentos sociais na política do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.

Na esteira desses esforços, registra-se, nos últimos dez anos, um significativo aumento do investimento para agricultura familiar. Nesse contexto, foi editada a Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, conhecida como Lei de incentivo à produção familiar.

A Lei n. 11.326/2006 estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Apresenta os seguintes princípios: I – a sustentabilidade ambiental, social e econômica; II - descentralização; III – equidade na aplicação das políticas, respeitando os aspectos de gênero, geração e etnia. Para atingir seus objetivos, a política pretende promover o planejamento e a execução das ações nas áreas de: crédito, infraestrutura e serviços, assistência técnica e extensão rural, pesquisa, comercialização, seguro, habitação, legislação sanitária, previdenciária, comercial e tributária, cooperativismo e associativismo, educação, capacitação e profissionalização, negócios e serviços rurais não agrícolas e agroindustrialização (BRASIL, 2006).

Foi também nesse contexto que surgiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, criada em 20 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012), com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, bem como de contribuir para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, pois incentiva o uso sustentável dos recursos naturais e oferta o consumo de alimentos saudáveis.

Como forma de colocar em prática os objetivos dessa política, o governo lançou o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PLANAPRO, no qual o Governo Federal pretende ampliar e efetivar ações para orientar o desenvolvimento rural sustentável. O plano buscava integrar e qualificar as diretrizes políticas e programas dos dez ministérios parceiros de sua execução, quais sejam, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria-Geral da Presidência da República; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Pesca e Aquicultura; Ministério da saúde; Ministério da Educação; Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação e Ministério da Fazenda. Seus objetivos eram articular e implementar programas e ações indutoras da transição agroecológica, da produção orgânica e de base agroecológica, como contribuição para o desenvolvimento sustentável, possibilitando à população a melhoria de qualidade de vida por meio da oferta e consumo de alimentos saudáveis e do uso sustentável dos recursos naturais (BRASIL, 2013).

Destaca-se, ainda, como políticas públicas relevantes para o setor, o Programa Territórios da Cidadania, desenvolvido no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário. O Territórios da Cidadania é uma estratégia de desenvolvimento regional sustentável e garantia de direitos sociais voltado às regiões do país que mais precisam, com objetivo de levar desenvolvimento econômico e universalizar os programas básicos de cidadania. Trabalha com base na integração de ações do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais, em um plano desenvolvido em cada território, com a participação da sociedade. Em cada território, um Conselho Territorial composto pelas três esferas governamentais e pela sociedade determinará um plano de desenvolvimento e uma agenda pactuada de ações. (MDA, 2008)

Por meio desse programa, o Governo Federal articulava ações coordenada para apoiar atividades produtivas que incentivassem a inclusão da população de baixa renda, fortalecendo as cadeias produtivas. O escopo do programa contemplava o apoio à agricultura familiar, fortalecendo as cadeias produtivas e os vínculos entre os agricultores, bem como sua relação com os gestores locais e regionais.

A abordagem territorial, nesse sentido, é uma visão essencialmente integradora de espaços, dos atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas, numa ação voltadas para o desenvolvimento sustentável no âmbito do território.

Destaca-se, ainda, a criação de oportunidades de assistência técnica e extensão rural, destinada aos agricultores familiares.

Dentre os pilares fundamentais que sustentaram apolítica de ATER, destaca-se o respeito à pluralidade e às diversidades sociais, econômicas, étnicas, culturais e ambientais do país, o que implica incluir enfoques de gênero, raça e etnia nas orientações e projetos do Ministério do desenvolvimento Agrário.

Dentre os diferentes grupos que utilizam a agricultura familiar como instrumento de relação com o seu território e como base de seu modo de vida, estão as comunidades tradicionais, descritas no Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.

Comunidades tradicionais são, no dizer o art. 3º deste Decreto, grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que se ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. São caracterizados como grupos que ocupam e usam, de forma permanente ou temporária, territórios tradicionais e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica. Para isso, são utilizados conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

Há uma grande sociodiversidade entre as populações tradicionais existentes no Brasil. Entre eles estão Povos Indígenas, Quilombolas, Seringueiros, Castanheiros, Quebradeiras de coco-de-babaçu, Comunidades de Fundo de Pasto, Faxinalenses, Pescadores Artesanais, Marisqueiras, Ribeirinhos, Varjeiros, Caiçaras, Praieiros, Sertanejos, Jangadeiros, ciganos, Açorianos, Campeiros, Varzenteiros, Pantaneiros, Geraizeiros, Veredeiros, Caatingeiros, Retireiros do Araguaia, entre outros.

No âmbito desta pesquisa, destacaremos a situação das comunidades remanescentes de quilombos, invariavelmente envolvidas em conflitos socioambientais.