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33“Ser mãe é ter duas jornadas e meia de trabalho, diz pesquisa”. In: Jornal Metro.

Disponível em: <https://www.metrojornal.com.br/estilo-vida/2017/11/11/ser-mae-e-ter- duas-jornadas-e-meia-de-trabalho-diz-pesquisa.html>.

34 “Será que o brasileiro trabalha pouco? Números respondem”. In: BBC Brasil. Disponível em:

As mulheres de Terranova que mantêm perfis no Facebook não costumam produzir seus próprios conteúdos políticos. Elas expressam suas opiniões por meio de conteúdo

compartilhados. Mas se empenham em discussões sobre a política local em um contato face a

face sem qualquer receio.

O conteúdo político compartilhado representou 1,5% da timeline de Vitória. Entre janeiro e fevereiro de 2019 ela esteve empenhada em mostrar ao seu público discussões sobre a reforma previdenciária. Foram seis postagens, incluindo textos e vídeos, com argumentos contrários à reforma, nenhum feito por ela. Em um dos vídeos de uma página chamada Jair

Messias Bolsonaro – Ponta Porã, um narrador explica os gastos do Estado com salários para

ex-presidentes, sugerindo que este gasto poderia ser cortado e empregado o dinheiro nas contas da previdência. Outra postagem questionou o auxílio educação de 7 mil reais para filhos de juízes, ironizando o fato de a previdência do pobre ser o motivo da ruína do país. Em outro vídeo, de uma página chamada Esquerda Avassaladora, uma deputada fazia uma fala agressiva contra um ministro da Economia. Em outra lia-se um texto anunciando a ilegalidade da aposentadoria para políticos. O argumento era de que político não é profissão, pois não exige qualquer formação do indivíduo para atuar, uma vez que o trabalho é temporário, uma reforma verdadeira deveria lhes cortar a aposentadoria. O que importa na discussão que ela compartilha não é o emissor. Esquerda e direita se misturam em seu perfil. O que importa é o ponto de vista do produtor da publicação, seja o criador um petista ou um bolsonarista.

Do perfil de Alice, 0,5% do conteúdo observado foi sobre política. Ela compartilhou vídeos humorísticos, conteúdo compartilhado críticos ao PT, comentários sobre corrupção em prefeituras. Assim como no caso de Vitória, nenhuma das publicações foi feita por ela mesma. Já Helena dedicou 5,7% de suas postagens ao conteúdo político. Foram compartilhadas notícias sobre a operação Lava Jato da Polícia Federal, críticas a um repasse de 3 bilhões ao fundo partidário. O conteúdo foi compartilhado tanto do portal Uol quanto da página

Reacionarios.blog e da página do Movimento Brasil Livre. Posições de figuras religiosas da

Igreja se misturaram às publicações de páginas intituladas Direita Mito. As postagens não fomentaram um debate público com seus amigos de Facebook em nenhuma delas. É apenas um “mostrar” que parece estar mais ligado a uma forma de evidenciar a própria posição utilizando

conteúdo compartilhados, sem chamar à discussão. O PT e o STF aparecem como vilões:

“Quadrilha do mal, vamos expulsar todos”, “STF poderá ser destituído por crimes contra

Constituição brasileira”. Entre os vídeos do Presidente Bolsonaro falando da basílica de

Aparecida ou vídeos dele fazendo comentários repressivos contra a imprensa, ela compartilha conteúdo contra a reforma trabalhista ou notícias como: “Arcebispo Dom Orlando ataca no

altar de Aparecida católicos tradicionais e políticos de direita”, com a hashtag: igreja sem

partido. As posições alinhadas ao presidente Bolsonaro se evidenciam em postagens como: “Pe.

Zezinho afirma que gritaria mundial sobre incêndios na Amazônia é histérica”. E a posição

partidária é retratada em uma postagem que diz: “Brasil de luto”. A imagem era uma bandeira do Brasil em preto e vermelho (referência ao PT e à saída de Lula do aprisionamento em Curitiba) e a legenda anunciava o falecimento da moral e da vergonha da justiça brasileira. Embora Helena tenha dedicado boa parte de seu tempo on-line compartilhando ideias de páginas de direita e antipetistas, os símbolos petistas convivem harmoniosamente com a direita bolsonarista em seu perfil quando um de seus parentes se lançou candidato em 2016 em uma coligação PDT-PT.

Já Antônia compartilhou 0,4% de conteúdo voltado à política. Houve postagens relacionadas mais à política regional do que nacional, todas foram conteúdos compartilhados. As críticas ao STF também apareceram: “Se você também acha que o salário mínimo e a

aposentadoria do INSS tem que ser reajustados em 16%, equivalente aos marajás do STF compartilhe”. O posicionamento político não é tão evidente quanto o de Helena, a não ser em

uma postagem sobre uma candidatura do ex-senador Delcídio do Amaral: “A justiça dos

homens seguindo a justiça de Deus: Justiça suspende cassação e libera candidatura de Delcídio”.

Natália publicou 0,6% de conteúdo político. Em uma das poucas postagens, ela mostra seu apoio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff iniciado em 2015 e que se efetivou em 2016. A postagem orientava os apoiadores a compartilhar uma imagem da presidente vestida com um uniforme da seleção brasileira de futebol, enquanto um juiz levantava um cartão vermelho, no título: “Quem aprova o pé na bunda? Cada compartilhamento, soma 1 voto”.

As contradições observadas dentre os perfis sugerem que os registros que se faz na plataforma são retratos momentâneos de pensamentos e formas passageiras de se posicionar sobre assuntos diversos, não só políticos. E apesar desse passado de redes sociais digitais poder ser editado e transformado em um presente ad eternum, as mulheres do bairro não lançam mão desse recurso. As mudanças na forma de pensar evidenciadas em publicações que parecem contraditórias não significa inconsistência de posicionamento político, mas realinhamentos do pensamento em relação aos assuntos vigentes.

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