• Nenhum resultado encontrado

3. Caracterização Dos Serviços De Transportes De Passageiros No Brasil

3.2. Serviços Aéreos

3.2.3. Política tarifária e regulação

A regulação dos serviços aéreos no Brasil é lastreada em dois pilares: a liberdade tarifária e a liberdade de oferta. A Lei nº 11.182/2005, que criou a ANAC, também consagrou tais princípios em seu texto:

Art. 48. (vetado)

§ 1o Fica assegurada às empresas concessionárias de serviços aéreos domésticos a exploração de quaisquer linhas aéreas, mediante prévio registro na ANAC, observada exclusivamente a capacidade operacional de cada aeroporto e as normas regulamentares de prestação de serviço adequado expedidas pela ANAC.

(...)

Art. 49. Na prestação de serviços aéreos regulares, prevalecerá o regime de liberdade tarifária.

Outro fator que diferencia a concessão de serviços aéreos das demais concessões de serviços públicos é a inexistência de garantia de equilíbrio econômico-financeiro por parte do Poder Público pois, ao oferecer a prestação desses serviços, todos os riscos são assumidos pelas empresas ofertantes.

Assim, todas as empresas devem ter liberdade para escolher quais rotas operar, com qual freqüência e quanto cobrar por isso, de forma que a falta de garantias financeiras para permanecer ou não em determinada rota é o motivo pelo qual não se pode obrigar uma empresa a prestar determinado serviço ou impor o preço que deve cobrar.

Esses princípios também estão alinhados com diversas das diretrizes e ações estratégicas constantes da PNAC, sendo os principais reproduzidos a seguir.

3 - AÇÕES ESTRATÉGICAS

3.6.A EFICIÊNCIA DAS OPERAÇÕES DA AVIAÇÃO CIVIL Serviços de Transporte Aéreo

• Estimular a competição nos serviços, de forma a possibilitar o acesso a maior parcela da população.

• Estimular a expansão dos serviços, para atender ao maior número de localidades.

• Buscar a redução das barreiras à entrada de novas empresas no setor. Regulação

• Estabelecer diretrizes que confiram ao mercado o papel de equilibrar a oferta e a demanda, prevalecendo a liberdade tarifária nos serviços de transporte aéreo.

• Acompanhar o comportamento do mercado de transporte aéreo visando à adoção de medidas para atender a demanda com base na eficiência econômica, buscando o incremento da oferta e a ampliação da capacidade da infraestrutura aeronáutica e aeroportuária civis.

• Apoiar o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) no combate às infrações contra a ordem econômica no âmbito do setor de aviação civil.

• Elaborar normas e procedimentos para facilitar o acesso de potenciais entrantes naqueles aeródromos que apresentem saturação de tráfego com vistas à ampliação da competição.

Voltando ao arcabouço legal, é importante notar outra característica que diferencia o setor aéreo de outros setores, como o rodoviário. O CBA estabelece, em seu artigo 228, a seguir transcrito, que o bilhete de passagem, oriundo de contrato de transporte celebrado entre empresa aérea e passageiro, terá validade de um ano a partir de sua data de emissão.

Significa dizer que o passageiro, ao comprar o bilhete, adquire também o direito de utilizá-lo no prazo de um ano, independente da data previamente marcada para a prestação do serviço. Tal preceito suscita, por parte da empresa, a necessidade de gestão do risco de não comparecimento desse passageiro no voo previamente agendado, pois ele poderá utilizar o mesmo bilhete posteriormente.

Isto leva as empresas aéreas a buscarem formas de minimizar os impactos de tal risco, razão pela qual se destaca mais ainda a relevância da liberdade tarifária, conceito que

vai além da simples liberdade de determinação de preços, incluindo, ainda, a liberdade para diferenciar produtos e discriminar a demanda.

Nestes termos, a liberdade tarifária permite que as empresas façam o chamado gerenciamento de receitas, o que pode trazer grandes benefícios tanto aos ofertantes quanto aos consumidores, permitindo que uma parcela maior da sociedade tenha acesso aos serviços de transporte aéreo público.

Cabe destacar que a liberdade que as empresas têm para definir seus preços não implica em ausência total de controle. Destaca-se nesse sentido a Resolução ANAC nº 140, de 9 de março de 2010, que obriga as transportadoras a informar mensalmente os preços e as condições das tarifas aplicadas, permitindo que a Agência monitore e fiscalize as condições do mercado, devendo comunicar aos órgãos e entidades competentes para que adotem as devidas providências sempre que tomar conhecimento de fato que configure ou possa configurar infração contra a ordem econômica, ou que comprometa a defesa e a promoção da concorrência.

Em algumas situações, tem-se verificado ações judiciais, principalmente de autoria de Ministérios Públicos, requerendo o estabelecimento de limites para a fixação de preços pelas companhias aéreas, em especial em períodos de maior movimento, como feriados e eventos regionais, a exemplo da ação civil pública, com pedido de tutela antecipada, movida pelo Ministério Público Federal – MPF e pelo Ministério Público do Estado de Rondônia – MP-RO, no dia 25 de novembro de 2013, contra as empresas aéreas TAM, GOL, AZUL e Oceanair (nome fantasia Avianca), em que se discute a legitimidade da elevação dos preços das tarifas aéreas pelas companhias praticada nos meses de alta demanda por voos.

Neste processo, foi instaurado o inquérito civil 1.31.000.001363/2013-63 para apurar supostos abusos nos preços cobrados pelas empresas citadas nos voos com origem e destino a

Porto Velho nos meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014, concluindo-se que houve um aumento arbitrário de preços, e consequentemente dos lucros das companhias aéreas, o que, na visão dos procuradores, caracteriza abuso de poder econômico, tipificado no inciso III, do art. 36 da Lei n° 12.529/2011 (aumentar arbitrariamente os lucros) como uma infração à ordem econômica.

Assim, o MPF e o MP-RO requereram, com antecipação de tutela, que fosse implementado um teto nas tarifas aéreas nos meses de maior demanda, como em dezembro e janeiro, devendo o aumento de preços “ser limitado a cinquenta por cento do que é cobrado nos demais meses do ano”. Tal pedido foi inicialmente deferido pelo juízo da 2º Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Rondônia, e deve seguir a partir daí a discussão judicial, assim como algumas outras ações civis públicas similares impetradas em outros estados.

Com relação às barreiras à entrada, vale anotar as recentes discussões no legislativo sobre o aumento do limite à participação de capital estrangeiro em empresas aéreas brasileiras, restrito a 20% pelo CBA. Os especialistas e autoridades que defendem a medida argumentam que a retirada dessa barreira poderia resultar em maior competição no mercado pela atração de investidores estrangeiros ao setor.

Documentos relacionados