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4 DAS POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO ÀS POLÍTICAS

4.3 POLÍTICAS ARQUIVÍSTICAS

As políticas de informação são um tema relativamente amplo, no entanto, existe a possibilidade de enfoque em questões específicas. Como não existe uma política que abranja todas as possibilidades em relação à informação, a política de informação tende a ser direcionada a aspectos específicos, como no caso de bibliotecas ou arquivos públicos. Nesse sentido, essa seção objetiva abordar as políticas arquivísticas, consideradas aqui como um tipo específico das políticas de informação.

São várias as interpretações possíveis em relação às políticas arquivísticas. O tema necessita de um maior aprofundamento teórico, já que a literatura é relativamente escassa. É muito comum confundir legislação arquivística com política arquivística. Ressalta-se, no entanto, que a legislação arquivística, mesmo fornecendo elementos normalizadores à política arquivística, não se configura como uma política em si. (JARDIM, 2008). Ou seja, a existência de um dispositivo legal não garante a implementação da política em si, uma vez que os governos podem não implementá-la de forma efetiva, como se pode observar no caso do Brasil em relação aos arquivos públicos.

Política arquivística e política de arquivos são termos que designam o mesmo tipo de política, que está relacionada com ações que enfocam a informação de arquivo. Este tipo de política pode ser entendida como:

O conjunto de premissas, decisões e ações – produzidas pelo Estado e inseridas nas agendas governamentais em nome do interesse social – que contemplam os diversos aspectos (administrativo, legal, científico, cultural, tecnológico, etc.) relativos à produção, uso e preservação da informação arquivística de natureza pública e privada. (JARDIM, 2003, p. 38).

De acordo com Bastos e Araújo (1990), os estudos sobre políticas arquivísticas no Brasil são, em regra, voltados para discussões técnicas e metodológicas de proteção e conservação do patrimônio documental. Percebe-se, também, ao analisar os estudos da área de arquivos que é comum a associação entre política de arquivo e procedimentos técnicos de tratamento da informação arquivística, tal como a gestão documental, classificação ou destinação de documentos.

No Brasil, a criação de normas e a tentativa de consolidação de uma política arquivística estão em curso de consolidação desde o início da década de 1990, porém essas ações não têm apresentado resultados satisfatórios no que se refere à melhoria da gestão, preservação e acesso à informação arquivística. (FERREIRA, 2011)

Para o Arquivo Nacional (AN), a política arquivística está relacionada à adoção de normas e procedimentos técnicos e administrativos voltados aos serviços arquivísticos:

A política nacional de arquivos, consoante os princípios teóricos da moderna arquivologia, compreende a definição e adoção de um conjunto de normas e procedimentos técnicos e administrativos para disciplinar as atividades relativas aos serviços arquivísticos da administração pública, trazendo, por consequência, a melhoria dos arquivos públicos. A implantação dessa política inclui necessariamente o processo de reestruturação da própria administração pública. (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 7).

Ainda de acordo com o órgão, a política de arquivo se traduz numa modernização que pressupõe novas formas de relacionamento entre administração governamental e seus arquivos, sendo condição imprescindível que eles sirvam como instrumento de apoio à organização do Estado e da sociedade.

Esse ponto de vista é compartilhado por Herrera (1992), no entanto, a autora não diferencia a política de arquivo de outro tipo de política. Para a autora, os arquivos devem responder as demandas da sociedade.

Falar de política de arquivos não é algo diferente de outro tipo de política. Em geral a política envolve a quantificação de resultados, mediação e valorização, para superar os problemas. [...] Política arquivística é a determinação sistemática de recursos administrativos, institucionais e econômicos que permitam o cumprimento das metas e objetivos dos arquivos como resposta à demanda da sociedade. (HERRERA, 1992 apud FERREIRA, 2011, p. 18).

De acordo com Ferreira (2011), as políticas públicas arquivísticas não se traduzem em ações pontuais ou isoladas, soluções imediatistas. Ao retomar as ideias de Herrera (1992), a autora afirma que:

[...] a elaboração e implementação de uma política arquivística implica em investimentos permanentes de recursos que promovam as condições necessárias para que os fins sejam alcançados, com o devido monitoramento e avaliação sistemática. (FERREIRA, 2011, p. 19).

A Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, também conhecida como Lei de Arquivos, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, é considerada o marco legal das políticas públicas arquivísticas no Brasil. O texto além de dispositivos normalizadores apresenta um conjunto de conceitos fundamentais arquivísticos. Jardim (1995) apresenta algumas críticas à Lei de Arquivos, tais como o fato de ela não apresentar definição quanto aos seus objetivos, bem como o fato de não haver elementos que indiquem o que se considera política de arquivos no âmbito da lei.

Mesmo diante das limitações observadas, a Lei de Arquivos não pode deixar de ser considerada um marco para a consolidação do cenário da arquivística nacional, uma vez que

estabelece a importância do documento de arquivo para a sociedade brasileira (SOUZA, 2006). A lei se configura como o principal dispositivo legal para a ampliação e a formulação de novas políticas de arquivo. Ademais, dispõe sobre o direito de acesso às informações públicas.

O Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) é o responsável pela definição da política nacional de arquivos. Criado a partir da lei nº 8.159/1991, O CONARQ é o órgão central do Sistema Nacional de Arquivos (SINAR), que tem por finalidade implementar a política nacional de arquivos públicos e privados, visando à gestão, preservação e acesso aos documentos de arquivo.

O Sistema de Gestão de Documentos de Arquivos (SIGA), da administração pública federal, foi criado a partir do Decreto nº 4.915/2003, onde se instituiu sob a forma de um sistema, as atividades de gestão de documentos de arquivo no âmbito dos órgãos e entidades da administração pública federal. Dentre as finalidades do SIGA, está a garantia de acesso aos documentos de arquivo de forma ágil e segura. O SIGA se estrutura através de um órgão central, que é o AN, dos órgãos setoriais, e órgãos seccionais. As universidades públicas vinculadas ao Ministério da Educação (MEC), configuram-se como órgãos seccionais, compondo as sub-comissões de coordenação do SIGA.

Segundo Jardim (2008), mesmo com um aparato de dispositivos legais, não existe, de forma efetiva, um cenário de políticas arquivísticas no Brasil. O autor constata que a ausência de uma política arquivística em nível nacional reflete as dificuldades estruturais do país na formulação e operacionalização de políticas públicas informacionais, que, no caso específico dos arquivos, compromete a garantia do direito de acesso à informação.

5 ACESSO À INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO

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