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Políticas de difusão de tecnologias de informação

Segundo Lastres (1999), um aspecto muito importante que deve ser levado em consideração na discussão sobre políticas de desenvolvimento produtivo e inovativo é o de que investimento em acesso a novas tecnologias e a sistemas de informação e comunicação avançados é útil mas não é suficiente. Ela considera que é fundamental promover a existência de uma base de conhecimentos sustentada por um processo de aprendizado contínuo. Nessa situação, enfatiza o caráter interativo e localizado deste aprendizado, potencializado pela própria característica da TI de não só possibilitar mas, também, intensificar as interconexões entre os diferentes agentes, de forma que cresce e aparece com muita importância a figura do agente coletivo ao invés de empresas individuais. A autora sugere que a nova ênfase das políticas públicas deve concentrar-se em promover processos coletivos de aprendizagem, como redes e clusters, reunindo atores e empresas de diversos tamanhos, com atenção especial às micro e pequenas empresas.

Nessa mesma linha de pensamento, Castells (1996) vê a formação de redes como uma tendência sem retorno nessa nova fase do capitalismo. Estruturas horizontais substituiriam as velhas hierarquias burocráticas verticais. A cooperação entre diversos agentes, reunidos pelas redes de informação, permitiria a formação de estruturas facilitadoras do estabelecimento de processos de aprendizado adequados às novas tecnologias e os efeitos dessa nova estrutura de rede seriam positivos.

Conforme descrito por Katz e Shapiro, (citados por MARQUES, 2004), efeito de rede é o aumento de utilidade que um usuário obtém do consumo de um produto à medida que o número de outros usuários que consomem o mesmo produto aumenta. Já para Liebowitz e Margolis, (também citados por MARQUES, 2004), é o aumento do valor de uma ação que ocorre como resultado do aumento do número de agentes tomando ações equivalentes. Qualquer que seja a definição adotada os efeitos deverão ser percebidos de forma positiva, o que vai de acordo com o que já foi dito por Castell e Graeml.

Segundo Lemos (1999), as políticas de inovação se tornam mais importantes atualmente do que no passado, principalmente por estarmos vivenciando um momento de grandes transformações cujo foco principal é a informação.

Ainda conforme a autora, as políticas tenderam tradicionalmente a focar em padrões de promoção de desenvolvimento tecnológico de firmas ou projetos pontuais e individuais. Atualmente, nota-se uma tendência a entender políticas científicas, tecnológicas e industriais como fazendo parte de um mesmo conjunto que objetiva privilegiar o desenvolvimento, disseminação e uso de novos produtos, serviços e processos, além de enfatizarem também o estímulo à formação de redes de diferentes agentes para intensificar o processo de aprendizado, desenvolvimento, produção e comercialização das inovações. Isso acontece porque, trabalhando em rede, as empresas podem administrar as incertezas em relação às escolhas tecnológicas de modo mais eficiente.

Segundo La Rovere (1999), a definição de uma política de inovação para pequenas e médias empresas (PMEs) é extremamente complexa por várias razões. Ela cita em primeiro lugar a heterogeneidade do universo das PMEs, uma vez que abrangem desde empresas em setores tradicionais da economia que ainda

trabalham com processos artesanais até empresas de setores dinâmicos com intensa atividade de pesquisa e desenvolvimento. Em segundo lugar, o fato de que a maneira pela qual as PMEs se associam e se relacionam com as instituições de pesquisas e agências públicas depende muito da localização dessas empresas. Em terceiro lugar, o fato de que não há um critério único para definir micro, pequenas ou médias empresas, de modo que fica complicado para os formuladores de política basearem-se em casos de sucesso de outros países.

Para La Rovere, as MPEs possuem algumas limitações muito importantes em relação ao seu papel como inovadoras: menor poder político, menor acesso a crédito e menor acesso a informações tecnológicas. Deste modo, as políticas de inovação para MPEs devem atuar no sentido de tentar proporcionar condições para que superem as suas principais limitações, com ênfase nas políticas de difusão de tecnologias de informação por basicamente três motivos:

a) A crença de que a convergência entre as tecnologias da informação e da comunicação pode criar novas oportunidades para essas empresas;

b) A crença de que a modernização da infra-estrutura de telecomunicações pode viabilizar a aquisição de novos conhecimentos;

c) A crença de que a difusão das tecnologias de informação e comunicação aumenta a competitividade dessas empresas.

Entretanto a autora observa alguns problemas associados a essas políticas: a) Dificuldade na definição de MPMEs;

c) A difusão das TIs, por si só, não garante a inserção dessas empresas na economia do conhecimento;

d) As MPEs geralmente não têm conhecimento a respeito dos possíveis ganhos de competitividade possibilitados pelas novas oportunidades de negócios. Assim, a maioria das MPEs só decide pela introdução de inovações quando consegue ver claramente as oportunidades obtidas com a utilização da inovação, ou então quando é obrigada pelos seus clientes e/ou fornecedores.

Conforme explica La Rovere, a percepção/identificação desses problemas levaram a uma redefinição das políticas de inovação voltadas para MPEs nos países desenvolvidos. Enquanto em um primeiro momento enfatizou-se a difusão de tecnologias de informação e comunicação (política centrada na oferta), agora a ênfase está sendo dada ao treinamento de usuários e ao apoio à formação de redes de firmas (política centrada na demanda).

Com relação às políticas de difusão, a autora explica que, para que tragam ganhos, é necessário que a adoção de novas tecnologias esteja inserida numa estratégia que envolva desde a reorganização da firma até o treinamento dos funcionários. Observa que a difusão das TIs deve ser analisada como uma série de etapas: do investimento em infra-estrutura à provisão de serviços; da provisão á conscientização das firmas; da conscientização a adoção; da adoção ao uso efetivo e do uso efetivo ao ganho de vantagem competitiva.

As políticas centradas na oferta devem dar conta da primeira etapa enquanto que as políticas centradas na demanda devem dar conta de todas as etapas seguintes. Como as políticas centradas na oferta são construídas muitas vezes com base nos interesses dos grandes fornecedores de serviços e equipamentos, os

objetivos a serem alcançados pelas políticas de difusão devem ser focados na demanda.

Em termos econômicos, segundo Tigre (1998), os indicadores atualmente utilizados para análise da difusão da TI nas empresas são:

a. Comércio Eletrônico – Número e valor das transações B2B (entre empresas) e B2C (entre uma empresa e o consumidor final). b. Mídia eletrônica – Valor do mercado publicitário on-line.

c. Parque instalado – Número e tipo de equipamentos instalados em empresas, por tamanho, região.

d. Empresas com acesso à Internet – Número de empresas com acesso à Internet por porte e região.

e. Empresas com website – Número de empresas que dispõem de website por porte, setor, região; tipo de conteúdo oferecido.

f. Empresas com comércio eletrônico – Número de empresas que praticam transações on-line por porte, setor e região.

g. Difusão do uso na empresa – Profissionais com acesso à Internet/total de funcionários.

h. Acesso à banda larga - Empresas com acesso a serviços de comunicação de dados de alta velocidade (fibra ótica, ISDN, rádio, satélite, etc.).

i. Custo de acesso – Custo mensal dos diferentes tipos de acesso (ex: custo de acesso 1 MBit/segundo).

j. Servidores seguros – Número de servidores com dispositivos de segurança.

k. Investimentos em TI – Valor dos investimentos em TI nas empresas (equipamento, treinamento, software, serviços).

l. Sites mais visitados – Número de acessos aos principais sites, sites premiados.

m. Aplicações Web – Número de empresas com aplicações de TI em ambiente Web (ASP, Data-center, vídeoconferência, supply- chain management, call-center).

n. Serviços de Telecomunicações – Receitas das operadoras por tipo de serviço (voz, dados, voz/IP, banda larga, serviços).

o. Investimentos em empresas de TI – Capital de risco, joint- ventures, fusões e aquisições.

p. Serviços de suporte empresarial – Capacitação, disponibilidade e custo de serviços de webdesign, software, data, web e hospedagem de aplicações, suporte, etc.

q. Mudanças organizacionais – Adoção de técnicas organizacionais, mudanças na estrutura e capacitação do RH.

r. Exportações e Importações – Impactos da Internet no comércio exterior das empresas.

s. Comércio de serviços – Exportações e importações de serviços de telecomunicações.

Esses indicadores viabilizam a análise tanto na perspectiva das políticas centradas na oferta quanto (em menor grau) na perspectiva das políticas centradas na demanda, o que mostra a complexidade dos desafios envolvidos no processo de difusão/adoção das TIs por MPMEs e também a necessidade de políticas públicas articuladas de ciência e tecnologia, educacional e industrial.

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