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CAPÍTULO 1 TECNOLOGIA E CIDADANIA

1.3 Políticas Públicas de Inclusão Digital

De acordo com Warschauer (2006) o acesso as TIC resulta em ato de democratização, pois é impróprio pensar em direitos e cidadania, quando o cidadão comum tem o acesso ao computador negado. Esse autor afirma que:

Certas pessoas podem dizer que a TIC é um luxo para os pobres, principalmente no mundo em desenvolvimento. No entanto, devido ao acelerado crescimento da internet como meio de transação tanto econômico como social, ele está, de fato, tornando-se a eletricidade da era informacional; isto é, um meio essencial, que apoia outras formas de produção, participação e desenvolvimento social. Seja nos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, nas áreas urbanas ou rurais, para objetivos econômicos ou sociopolíticos, o acesso à TIC constitui uma condição- chave e necessária para a superação da exclusão social na sociedade da informação. Com certeza ela não é a única condição que importa; escola de boa qualidade, governos decentes e assistência médica adequada são outros fatores essenciais para a inclusão social. Mas a TIC, se bem mobilizada, pode também contribuir em favor da melhora da educação, da administração pública e da assistência médica, e, desse modo, pode ser um fator multiplicador para a inclusão social (WARSCHAUER, 2006, p. 54).

Todos esses aspectos elencados por Warschauer são pertinentes para uma reflexão do que seja o tema inclusão na sociedade que lida constantemente com a informação numa velocidade mais intensa que outrora e que inúmeras variáveis devem ser observadas.

Pocrifka (2012) desenvolveu um estudo com o objetivo de investigar as políticas públicas de inclusão digital na formação de professores, por meio dos programas governamentais específicos no Estado de Pernambuco. A partir de uma pesquisa qualitativa ela traz uma reflexão focada na formação digital do professor para o uso das tecnologias no processo ensino-aprendizagem nas escolas públicas, através da análise dos projetos: Professor@com projeto Um Computador por Aluno (UCA). Os resultados mostram indícios de que as políticas de formação ou orientação para os professores resultam em poucas mudanças no processo de inclusão digital dos docentes em sala de aula.

Conforme destacado pela autora, a perspectiva de inclusão digital a partir de políticas públicas deve ser analisada com muita cautela, pois muitas instituições levantam a bandeira de inclusão digital, contudo uma observação mais apurada da

metodologia de ensino mostra que elas são “baseadas em habilidades de manejo de equipamentos e softwares, mas sem desenvolver a autonomia, criatividade e produção com compartilhamento de conhecimento" (p. 32).

Ferreira e Rocha (2009) discutem em sua pesquisa a questão da acumulação histórica de capitais econômicos e culturais que vem determinando padrões diferenciados de acesso à revolução informacional. Esses autores evidenciam que esse problema tem sido tratado pelas políticas públicas a partir de uma série de conceitos que convergem para as ideias polarizadas de ‘exclusão’ e ‘inclusão digital’. Segundo eles,

Em nosso entender, esse que se apresenta como comentário de passagem acerca daquilo que incorporamos da literatura norte- americana como “digital divide”, ou “exclusão social”, na verdade é um aspecto que mereceria uma atenção maior daqueles que definem políticas de inclusão social para este setor. Pois não basta constatar que esse problema demanda uma articulação entre o Estado e a sociedade civil; ou que o acesso à informação seja condição elementar de participação civil na sociedade contemporânea; ou que sem um aprendizado robusto das novas tecnologias de informação e comunicação, a desigualdade social será não apenas reproduzida, mas aprofundada. A própria ideia de inclusão digital merece uma atenção mais dedicada, sem a qual o sucateamento de equipamentos que poderiam se configurar como oportunidade política de acesso à cidadania digital nos chega apenas como uma evidência de que o esforço público necessita de uma racionalização mais efetiva (FERREIRA; ROCHA, 2009, p. 6).

Percebe-se que para os autores a inclusão digital é uma expressão muito mais ampla do que meramente o uso ou acesso ao computador; é a apropriação e acesso a cidadania. E não participar dessa nova dinâmica imposta ou não pela sociedade contemporânea é um ato de exclusão.

Cazeloto (2008) reservou o termo "Programas Sociais de Inclusão Digital" (PSID) para reforçar que a inclusão digital é um processo de aproximação a um padrão de uso dos equipamentos informáticos.

Até o momento verificamos que a inserção das tecnologias tem modificado os hábitos da sociedade. As reflexões trazidas por Warschauer e Cazeloto sobre exclusão e inclusão reforçam a existência de uma desigualdade no tocante a condução de propostas que visam proporcionar o alcance da tecnologia para classes sociais menos favorecidas. Moran, por sua vez, discute as mudanças significativas que as TICs vêm implementando em todas as dimensões, a exemplo

nas novas formas de produções. Junto a essa discussão Bernes enfatiza que existem diversos desafios no envolvimento do uso da tecnologia com a prática pedagógica, sendo esse aspecto discutido também por Masetto.

Uma das características apontadas por Masetto é uma nova postura requerida do docente frente ao uso das tecnologias no cotidiano escolar. Essa nova postura é necessária para que aconteça a mediação pedagógica. Em pesquisas, a exemplo daquela realizada por Carvalho e Monteiro, vimos que a implementação e o uso dos computadores não dependem apenas da infraestrutura, mas de outros elementos que compõem o cenário escolar, como é o caso da vontade política de alguns gestores em priorizar essa ação na escola; nesse sentido, alguns desses elementos contribuem para desigualdade.

Com o intuito de aprofundamentos as questões pontuadas nesses tópicos abordados, veremos no próximo capitulo o programa do Projovem, sua constituição e mudanças ao longo do tempo, a perspectiva de inclusão, seu currículo, pesquisas já realizadas, a relação com a tecnologia e o trabalho com gráficos.