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Em 1802, Robert Peel apresentou a primeira Lei Trabalhista ao parlamento inglês. Conhecida como Lei de Peel, reduzia a jornada de trabalho a 12 horas diárias e determinou melhorias nas condições de higiene e ventilação nos ambiente de trabalho (FONTANA, 2011).

Em 1833, também na Inglaterra, foi instituída a primeira lei sanitária do mundo, que proibiu o trabalho de menores de nove anos e criou os inspetores de fábrica. Em 1855, a figura dos inspetores foi gradativamente substituída pelo médico de fábrica, a fim de investigar os acidentes ocorridos no local de trabalho (FONTANA, 2011).

A preocupação com as condições de trabalho e suas repercussões na saúde do trabalhador não é recente. Em 1700, o médico italiano Bernardino Ramazzini publicou o livro De Morbis Artificum Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores), em que elencou várias doenças relacionadas a 40 atividades laborais, apontando a determinação social da doença. A partir de então, a saúde do trabalhador passou a ser mais discutida, em especial na Itália (FONTANA, 2011).

Em 1919, com objetivo de promover a justiça social, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada como parte do Tratado de Versalhes, visando dar oportunidades para que o acesso ao trabalho fosse decente e produtivo.

O trabalho exerce um papel fundamental em relação à saúde. Tanto as condições do ambiente físico quanto a própria organização do trabalho podem provocar doenças físicas, acidentes e sofrimento psíquico nos trabalhadores. No tocante à relação saúde-trabalho, somente a partir das últimas décadas aprofundou-se a compreensão sobre o trabalho como um fator constitutivo de adoecimento, sendo as condições de trabalho impactantes para o corpo (SOUZA; FREITAS, 2011).

Antes da promulgação da Constituição de 1988, não havia nenhuma política específica para tratar da saúde do trabalhador no Brasil. A partir da publicação da Constituição, a saúde passa a ser um direito de todos e dever do estado; e uma das competências do Sistema Único de Saúde passa a ser a execução de ações de vigilância à saúde do trabalhador e cooperação para a proteção do meio ambiente, nele compreendido o ambiente de trabalho (BRASIL, 1988). A partir da VIII Conferência Nacional de Saúde e

da promulgação da Lei 8080/90, a saúde passa a ser compreendida e vinculada aos determinantes sociais, dentre eles o trabalho.

Segundo a Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal 8080/90), os dispositivos constitucionais sobre Saúde do Trabalhador são regulamentados da seguinte forma: “Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo participação, no âmbito de competência do SUS, em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores”, entre outros fatores.

A instituição da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Portaria Nº 1823 de agosto de 2012) vem para consolidar o trabalho em desenvolvimento desde a inserção desse campo como competência do SUS na Constituição Federal de 1988. Seus objetivos e estratégias incluem: o fortalecimento da vigilância em saúde do trabalhador e a integração com os demais componentes da vigilância em saúde e com a Atenção Básica em saúde; a promoção da saúde e de ambientes e processos de trabalho saudáveis; a garantia da integralidade na atenção à saúde do trabalhador; a análise do perfil produtivo e da situação de saúde dos trabalhadores; o fortalecimento e a ampliação da articulação intersetorial; o estímulo à participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social; o desenvolvimento e a capacitação de recursos humanos; e o apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas (BRASIL, 2012).

Ela se aplica a todos os trabalhadores: homens e mulheres, independentemente de sua localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados, aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado. Pressupõe que, para promover a saúde, ambientes e processos de trabalhos saudáveis, faz-se necessário estabelecimento e adoção de parâmetros protetores da saúde dos trabalhadores nos ambientes e processos de trabalho; fortalecimento e articulação das ações de vigilância em saúde, identificando os fatores de risco ambiental,

com intervenções tanto nos ambientes e processos de trabalho, como no entorno, tendo em vista a qualidade de vida dos trabalhadores e da população circunvizinha.

A Portaria nº1679/02 do Ministério da Saúde estabelece o processo de construção da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), que representa o aprofundamento da institucionalização e do fortalecimento da saúde do trabalhador, no âmbito do SUS, reunindo as condições para o estabelecimento de uma política de estado e os meios para sua execução, articulando a concepção de uma rede nacional, cujo eixo integrador deve ser a rede regionalizada de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs), localizados em cada uma das capitais, regiões metropolitanas e municípios sedes de pólos de assistência, das regiões e microrregiões de saúde, com a atribuição de dar suporte técnico e científico às intervenções do SUS no campo da saúde do trabalhador. Existe ainda a Portaria nº 2437/05, que trata da ampliação e fortalecimentos da RENAST no SUS.

A RENAST tem, entre seus componentes, 201 CERESTs e uma rede sentinela de mais de 3.500 serviços médicos e ambulatoriais de média e alta complexidade responsáveis por diagnosticar os acidentes e doenças relacionados ao trabalho e por registrá-los no Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação (SINAN).

Os CERESTs desempenham função de suporte técnico, educação permanente, coordenação de projetos de assistência, promoção e vigilância à saúde dos trabalhadores no âmbito da sua área de abrangência. Constituem-se como centro articulador e organizador, no seu território de abrangência, das ações intra e intersetoriais de saúde do trabalhador, assumindo uma função de retaguarda técnica e pólos irradiadores de ações e ideias de vigilância em saúde, de caráter sanitário e de base epidemiológica (BRASIL, 2004).

Cabe aos CERESTs regionais capacitar a rede de serviços de saúde, apoiar as investigações de maior complexidade, assessorar a realização de convênios de cooperação técnica, subsidiar a formulação de políticas públicas, apoiar a estruturação da assistência de média e alta complexidade para atender aos acidentes de trabalho e agravos contidos na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho e aos agravos relacionados ao trabalho de notificação compulsória citados na Portaria GM/MS nº 104 de 25 de janeiro de 2011. Já aos CERESTs estaduais, cabe participar da elaboração e execução da Política de Saúde do Trabalhador no estado, dar apoio matricial para as equipes dos CERESTs regionais, dar suporte técnico à pactuação para definição da rede sentinela e a contribuição para as ações de vigilância em saúde (BRASIL, 2011; MARTINS, 2012).

Atualmente, o município de Fortaleza conta com um Núcleo de Atenção à Saúde do Trabalhador (NUAST) e dois CERESTs, sendo um regional e um estadual.

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