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Políticas públicas para o envelhecimento

A discussão sobre o crescimento da população idosa no Brasil não é recente e muito se comenta sobre a necessidade da sociedade em se adaptar a essa situação, em termos econômicos, sociais, políticos, previdenciários e outros (SOUZA, 2010). De forma geral, o país tem se organizado na tentativa de responder às necessidades da população na medida em que ela envelhece (FERNANDES; SOARES, 2012).

Ao pensar em políticas públicas para o idoso, deve-se considerar todos os fatores envolvidos e necessários para um envelhecimento saudável, isto é,

alimentação, saúde, moradia, renda, trabalho, educação, saneamento, entre outros (BULLA; TSURUZONO, 2010).

O Brasil desde 1982 compartilha dos princípios do Plano Internacional de Ação para o Envelhecimento, reconhecido como o primeiro compromisso internacional que valoriza a importância da contribuição dos idosos para o desenvolvimento da sociedade (KALACHE, 2008).

A legislação brasileira é abrangente no que se refere às garantias e proteção das pessoas com 60 anos ou mais de idade. Os principais avanços ocorreram com a Constituição Federal de 1988 que, dentre outras coisas, incorporou o conceito de seguridade social fazendo com que a proteção social deixasse de estar relacionada ao trabalho e adquirisse a ideia de direito de cidadania (CAMARANO; PASINATO, 2007).

A Constituição Federal de 88 (BRASIL, 1988) trouxe também a garantia de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, bem como os direitos sociais, autonomia, integração e participação comunitária, assegurando também o direito à saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e o direito à Assistência Social.

No que se refere à saúde, além da regulamentação do SUS, foi promulgada em 1994 e regulamentada em 1996, a Política Nacional do Idoso que reafirma seu direito à saúde nos diferentes níveis de complexidade. Em 1999 é anunciada a Política Nacional de Saúde do Idoso, que aponta possíveis problemas que podem acometer os idosos e prejudicar sua capacidade funcional (BRASIL, 1999).

Em 2003 foi aprovado o Estatuto do Idoso, como resultado de intensa mobilização da sociedade, com a finalidade de construir um instrumento legal para regulamentar os direitos das pessoas idosas nas várias dimensões, reunir as leis e políticas já existentes e incorporar novos elementos para garantir a proteção integral do idoso (CAMARANO, 2013). Em seus artigos iniciais, o Estatuto reafirma os preceitos constitucionais de garantia dos direitos fundamentais e apresenta o envelhecimento como um direito personalíssimo e sua proteção como um direito social (BRASIL, 2003). Dentre os principais direitos estabelecidos estão o direito à vida, saúde, trabalho, previdência, assistência social, educação, lazer, moradia e cultura, prevendo também punições para atos de violação dos direitos dos idosos, o que pode ser considerado como um avanço. Em 2006 é elaborado o Pacto pela

Saúde que, dentre suas ações prioritárias, estabelece implantar a Política Nacional do Idoso buscando ação integral (BRASIL, 2006).

Na área social, os direitos dos idosos garantidos na Constituição de 1988 foram regulamentados pela Lei Orgânica da Assistência Social e, posteriormente ratificados pela Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004). Entre os benefícios previstos, está o Benefício de Prestação Continuada, que consiste na garantia de um salário mínimo mensal ao idoso ou à pessoa com deficiência que não tenham condições de manter a própria subsistência, nem tê-la provida por sua família, e que possuam renda familiar per capita de até 25% do salário mínimo (BRASIL, 2004). Ressalta-se que este benefício independe de contribuição previdenciária, uma vez que, está vinculado à política de assistência social.

Sposati (2013) acredita que este benefício pouco contribui para a cidadania dos idosos, pois quem se encontra nessa situação possui tantas necessidades básicas não atendidas que esta renda acaba sendo insuficiente para satisfazer as necessidades humanas de alimentação, moradia, segurança e outras. Dessa forma, Medeiros, Diniz e Squinca (2006) reafirmam que o Benefício de Prestação Continuada não contempla todas as necessidades dos idosos e, por ser individualizado, não há programas que simultaneamente protejam os idosos e seus cuidadores. Acrescentam ainda que, do ponto de vista social e econômico, isto é importante, pois a função de cuidador normalmente é exercida por mulheres, e esta atividade acaba restringindo a participação destas no mercado de trabalho, comprometendo os direitos sociais como aposentadoria e outras formas da seguridade social.

As leis e medidas elaboradas pelo Estado têm como objetivo proteger e amparar os idosos, mas apesar dos importantes avanços contemplados na legislação, muitos desses direitos ainda não foram, na prática, assegurados no cotidiano dessa população (BULLA; TSURUZONO, 2010).

No que se refere ao suporte oferecido ao idoso, o Estatuto aponta como primeiros responsáveis, a família, seguida da comunidade e do poder público (BRASIL, 2003). Conforme seu artigo 3º:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Para Küchemann (2012), uma análise mais profunda da realidade social faz com que se perceba que a política social vigente privilegia a redução no papel do Estado, assim, sua responsabilidade e participação, ainda é pontual e reduzida quando comparada às responsabilidades atribuídas às famílias. Neste sentido, é importante que o Estado assuma a sua responsabilidade para a garantia do direito dos idosos adotando medidas que possam garantir seu bem estar e o exercício da cidadania, uma vez que o idoso necessita de um sistema de proteção social que possa suprir suas necessidades e de suas famílias de forma eficaz.

A partir destas considerações, ressalta-se que o papel desempenhado pelas famílias é fundamental, pois estas se constituem ainda como a principal fonte de apoio social aos idosos, e esta relação, dentre outros aspectos, pode fazer com que estes idosos permaneçam inseridos socialmente (PHILLIPS, 2001).