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4. O MUNICÍPIO DE B ONITO E A EXCLUSÃO DIGITAL

4.2 Políticas públicas

A atual gestão municipal vem encontrando diversas dificuldades no desenvolvimento de seu projeto de prover Bonito e sua população do acesso às TICs. Fica claro que essas dificuldades estão basicamente nos campos financeiro e político.

No campo político, identificamos dois claros conflitos. Um entre o gestor municipal e a Câmara de Vereadores, como veremos a seguir, e outro na esfera estadual, já que não foi identificada nenhuma parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado na elaboração e implantação dos projetos, o que de fato acarreta grandes dificuldades operacionais.

Vale ressaltar que o Governo Estadual, como vimos no capítulo anterior, vem desenvolvendo uma política bastante agressiva com intuito de levar ao interior o acesso às TICs, com a construção da Rede PE Digital. Hoje, segundo a Secretaria de Educação Estadual, 32,5% das escolas estatuais já dispõem de laboratórios de informática com acesso à internet, e 63,2% estão conectadas à internet.

A seguir, veremos as principais propostas da atual gestão e como elas estão sendo implantadas.

4.2.1 Associação Tecnológica Bonito Digital

Foi criada, em março de 2002, uma entidade de direito privado sem fins lucrativos com o nome de Associação Tecnológica Bonito Digital, que, segundo o prefeito, será o principal pilar da Prefeitura para a implementação dos projetos. Dentre seus objetivos sociais está o de prover a interiorização do conhecimento através da estruturação e gestão sustentável de um ambiente de negócios, capaz de criar e consolidar empreendimentos de inovadores em tecnologia da informação, comunicação e aqüicultura na cidade de Bonito e no estado de Pernambuco.

Outro ponto que vale a pena ressaltar nos seus objetivos é o de auxiliar na concepção e implementação de políticas públicas de desenvolvimento da ciência e tecnologia, e de inovação tecnológica do setor produtivo de TICs e aqüicultura, e assim contribuir para estabelecer, na cidade de Bonito, condições legais, econômicas e ambientais favoráveis à atração de capital humano qualificado, novos negócios e empresas de alta tecnologia.

Para viabilizar esse projeto foram feitas algumas gestões junto à Câmara de Vereadores de Bonito, resultando em três leis municipais, a saber:

Lei N. 702/2002

Art. 1. – Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a doar uma área de terreno medindo 5,8 hectares, desmembrada da propriedade “São João”.

Art. 2. – A área do terreno em referência destinar-se-á, especificamente, à implantação e ao funcionamento do Centro de Educação Profissional de Bonito (CEBON), integrante do Bonito Digital.

Deverá haver pleno funcionamento em, no máximo, dois anos. Junho de 2002 (Bonito. Prefeitura, 2002)

Lei N. 703/2002

Art. 1. – Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a doar uma área de terreno medindo 7 hectares, localizados num lugar chamado “Himalaia”.

Art. 2. – A área do terreno em referência destinar-se-á, especificamente, à implantação e ao funcionamento do Pólo Bonito Digital.

Deverá haver pleno funcionamento em, no máximo, dois anos. Junho de 2002 (Bonito. Prefeitura, 2002)

Lei N. 716/2002

Art. 1. – As empresas dedicadas aos serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação farão jus ao benefício fiscal do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN, no percentual de 80% (oitenta por cento).

Parágrafo Primeiro – o benefício concedido será de 10 (dez) anos, contados a partir da vigência desta lei.

Dezembro de 2002 (Bonito. Prefeitura, 2002)

4.2.2 Provedor municipal de internet

Segundo informações da Prefeitura de Bonito, por razões técnicas e burocráticas ainda não foi possível a instalação do provedor de internet municipal, porém os contatos estão bem adiantados entre a Associação Tecnológica Bonito Digital, a Prefeitura e a TELEMAR. Informa-se que em setembro o provedor já esteja instalado.

Esse adiamento provocou um atraso em todo o projeto da atual gestão, pois como a infra-estrutura necessária para o acesso à internet é a base para o desenvolvimento de todas as ações, a Prefeitura refez todo o cronograma de implantação. Como exemplo dos projetos paralisados podemos citar o ensino das TICs nas escolas municipais, a construção de quiosques públicos para o acesso da população à internet, e a construção no site da Prefeitura de mecanismos para interação com o povo. Sem o provedor local, a alternativa de usar provedores de outras cidades como Caruaru ficou inviabilizada, devido ao custo da ligação e à qualidade da linha.

Outro projeto que ficou paralisado foi o Portal de Negócios na Internet, que, entre outras facilidades, permitiria que os plantadores de inhame pudessem oferecer seus produtos através da rede e comercializá-los diretamente e em tempo real com a CEASA.

4.2.3 Pólo tecnológico

A Prefeitura e a direção da Associação Tecnológica Bonito Digital vinham fazendo grande esforço para criar na cidade um ambiente propício a receber empresas de tecnologia, para com isso oferecer mais emprego para a população e dar início à construção de um pólo tecnológico no município de Bonito.

A primeira ação concreta nesse sentido foi a gestão junto à Câmara de Vereadores no sentido de conceder benefícios fiscais do Importo Sobre Serviços, e assim criar bases favoráveis à instalação de empresas.

Várias empresas foram contatadas, valendo-se de intermediária a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet (Assespro), e no dia 11 de agosto de 2003 foi inaugurado em Bonito um Centro Empresarial onde as 15 primeiras empresas colocaram seus escritórios de representação. As empresas já instaladas são as seguintes: • Allen Informática; • Brascomp; • Educandus; • Infopartner; • Intersight; • JCS Consultoria; • M2M Digital; • MV Sistemas; • Opcional Informática • PJ Bal; • Provider; • S&B Informática; • Tal; • Taurus e • TecBis.

O atual espaço ocupado pelas empresas é alugado e passou por uma pequena reforma. Conta com salas de reunião, auditório para 40 pessoas e um laboratório de informática, além de um ambiente de trabalho compartilhado, com baias para cada empresa. Esse Centro Empresarial está funcionando como um condomínio, com taxa mensal para manutenção e despesas.

Dessas empresas, tivemos contato com os dirigentes da Provider, da TecBis, e da MV Sistemas, e nos foi informado que o grupo estava apostando no Governo Municipal. Embora no primeiro momento não se tenha contratação de mão-de-obra local, acham que a instalação do Centro Empresarial será apenas o início de um projeto de dotar Bonito de um ambiente propício à instalação de empresas de tecnologia, e assim criar no município um outro pilar para sua base de sustentação econômica.

4.2.4 Governança eletrônica

Um projeto que foi, desde o início, parte da plataforma política da atual gestão municipal é a utilização das TICs como ferramentas para que a população tenha acesso às informações municipais e possa interagir com todos os gestores do município. A idéia é que cada cidadão tenha pleno conhecimento das obras municipais e também tenha a possibilidade de influir nas suas prioridades, ou seja, criar de fato no município de Bonito uma governança eletrônica.

Esse projeto também ficou prejudicado pela não-instalação de um provedor de internet municipal. Hoje, a Prefeitura disponibiliza num provedor gratuito uma página com informações municipais, porém sem mecanismos de interação da população com os atos da Prefeitura. Nessa página, até agosto de 2003, eram oferecidos dados históricos do município, informações geográficas e turísticas (BONITO, 2003).

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