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Políticas Públicas para a Educação Física Escolar

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CAPÍTULO I – Quem deve dar aulas de Educação Física nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental?

1.4 Políticas Públicas para a Educação Física Escolar

O Poder Público, particularmente algumas prefeituras, tem a possibilidade de contar com o professor polivalente ou o especialista, pois ambos são habilitados para o desempenho da função. Não há nenhum tipo de legislação que obrigue os municípios a optar pelo especialista ou pelo polivalente, mas fica a questão: o que é determinante para esta escolha?

É possível que encontremos respostas apontando várias vertentes: o professor polivalente é suficientemente habilitado para ministrar essa disciplina; o especialista não valoriza esse segmento; nessa fase da infância não há necessidade de um trabalho com alto grau de especificidade; e até questões financeiras, uma vez que o especialista significa um gasto a mais para o desenvolvimento dessa disciplina na escola – afinal, a professora polivalente é paga também para isso.

Observando os documentos oficiais, é possível perceber a relevância que é dada ao desenvolvimento da criança. A Constituição Federal, na Seção I, Artigo 205, traz o seguinte:

A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Ao lermos que educação é direito de todos e dever do Estado, devemos entender que as aulas de Educação Física, em sua essência, fazem parte do processo educacional do ser humano e podemos concluir que o Estado deve não só garantir esse processo, mas fazê-lo com coerência e responsabilidade. Também podemos observar na expressão “pleno desenvolvimento” que a criança deve ser atendida em todas as suas necessidades, cabendo aí seu desenvolvimento físico e motor.

O aprendizado e o desenvolvimento da cidadania passam também pela quadra. Aliás, é ali, em um contexto de aulas de Educação Física, que muitas situações vivenciadas nos desafiam à cidadania – regras, limites, divisão de tarefas, relações de ajuda, tolerância e tantas outras virtudes podem ser cultivadas, estimuladas e desenvolvidas em quadra.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Capítulo II, trata do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade:

Artigo 16º O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: IV – brincar, praticar esportes e divertir-se.

Dentre os vários sentidos que pode dar-se à liberdade, chama-nos a atenção este que alinhava o exercício deste direito através do brincar, praticar esportes e divertir-se. Podemos mais uma vez destacar a importância fundamental da Educação FísicaEscolar como espaço para viabilização deste direito.

No Capítulo IV o Estatuto versa sobre o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. Nesse sentido, vejamos o que nos traz o Artigo 59º:

Os Municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltados para a infância e a juventude.

Nesse Artigo fica evidente o dever do Município, apoiado pelos Estados e pela União, como segmento aglutinador e fomentador de tais práticas, que podem ser plenamente desenvolvidas nas aulas de Educação Física.

As Normas Gerais sobre o Desporto (Lei Pelé) trazem contribuições pertinentes para nossas reflexões:

Capítulo II – Dos princípios fundamentais

Artigo 2º - O desporto, como direito individual, tem como base os princípios:

VIII – da educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante e fomentado por meio da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

Capítulo III – Da natureza e finalidade do Desporto

Artigo 3º - O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes manifestações:

I Desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus participantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.

Mais uma vez observamos a presença do desporto e do lazer como prática a ser desenvolvida nos sistemas de ensino, trazendo como resultados o desenvolvimento integral do indivíduo e o exercício da cidadania.

No dia 17 de março de 2003, o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, promulgou um Decreto da Assembléia Legislativa que traz em seus dois primeiros artigos:

Artigo 1º - A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório em todas as séries da rede estadual de ensino.

Artigo 2º - Somente profissionais devidamente habilitados, portadores de Licenciatura Plena em Educação Física, podem ministrar a disciplina a que se refere o artigo anterior.

Esse Decreto, promulgado como Lei nº 11.361 de 17 de março de 2003, é o projeto de lei nº 716/2002 de autoria do Deputado Estadual Marquinho Tortorello, que é advogado e graduado em Educação Física. Publicou-se no Diário Oficial do Estado de São Paulo do dia 13/11/2004 Seção I, na página 58:

O Secretário da Educação, considerando:

- a relevância da ação docente na implementação da política educacional e na construção de uma escola democrática, solidária e competente;

- a necessidade de se ampliar o quadro efetivo de professores da rede estadual de ensino objetivando o fortalecimento da equipe escolar na execução e consolidação da proposta pedagógica,

- comunica às autoridade de ensino e aos interessados que fará realizar concurso público de provas e títulos para o preenchimento de cargos de Professor de Educação Básica – PEB II, na disciplina Educação Física, disponíveis no quadro de recursos humanos da SEE.

A partir daí garantiu-se ao professor especialista o acesso definitivo ao desenvolvimento da Educação Física com crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo. Percebe-se aí o diferencial entre todas as citações anteriores da legislação e esta, pois nenhuma delas considera a obrigatoriedade da presença do profissional em Educação Física, e sim que tanto o especialista quanto o polivalente estão habilitados para o desempenho da função.

Observemos agora o que a Lei Orgânica de cada Município da Região do ABCD (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema), localizada no Estado de São Paulo, contempla em termos de Educação Física para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

A Lei Orgânica do Município de Santo André, no Capítulo III, trata da educação, da cultura, do esporte, do lazer e do turismo. Na Seção I – da educação, Artigo 251, consta:

§ 1º - O ensino público municipal assegurará, individual e coletivamente, a prática de esportes e recreação, a expressão artística em suas diferentes linguagens e o estímulo à preservação do meio ambiente como complemento à formação integral do educando, sem perder de vista as necessidades dos portadores de deficiências.

§ 2º - é obrigatório em todas as unidades da rede municipal:

V – a atividade física, voltada para o desenvolvimento motor do educando.

Já a seção III – dos esportes e lazer – apresenta o seguinte:

Art. 275 – As ações do Município, através de programas e projetos, e a destinação de recursos orçamentários para o setor darão prioridade:

I – ao esporte educacional e ao esporte comunitário;

IV – à promoção, estímulo e orientação, à prática e difusão da educação física.

No município de São Bernardo, podemos observar, no Capítulo I, que trata da educação, da cultura e dos esportes, lazer e turismo, o seguinte:

Seção I – Da educação

Art. 176. O município deverá construir escolas municipais em condições de manter o educando durante todo o período diurno em atividades pedagógicas, culturais e esportivas, adequando os estabelecimentos já existentes a esta realidade.

Na seção III – Dos Esportes, Lazer e Turismo

Art. 199. O Poder Público Municipal incrementará a prática esportiva às crianças, aos idosos e aos portadores de deficiência.

Parágrafo único. Toda prática esportiva deverá estar vinculada a uma ação educativa e cultural.

Art. 200. As ações do Poder Público e a destinação de recursos orçamentários para o setor darão prioridade:

I – ao esporte educacional, ao esporte comunitário e, na forma da lei, ao esporte de alto rendimento;

IV – à promoção, estímulo e orientação à prática e difusão de Educação Física.

Seguindo nossa trajetória pelas leis municipais, vamos ver o que temos em São Caetano, no Capítulo V – Da Educação, Da Cultura e dos Esportes e Lazer:

Art. 174 – O dever do Município com a educação será efetivado mediante a garantia de:

X – prática de esporte e recreação, individual e coletiva, como complemento à formação física e mental do educando, inclusive para atender às necessidades das pessoas portadoras de deficiência.

Já na Seção IV – Dos Esportes, Lazer e Turismo, consta:

Art. 191 – O Município apoiará e incentivará, como direito de todos, as práticas esportivas.

Art. 192 – O Município proporcionará à comunidade meios para a prática de esportes e recreação, quer por ações diretas, quer por meio de estímulo à comunidade, para autogestão dessas ações, mediante:

I – reserva de espaços verdes ou livres, em forma de parques, bosques, jardins e assemelhados, como recreação urbana;

II – construção, adequação e equipamento de parque infantis, bem como áreas livres para convivência...

Art. 193 - As ações do Município e a destinação de recursos orçamentários para o setor darão prioridade:

I – ao esporte comunitário e ao esporte educacional; II – a recreação e ao lazer popular;

III – a construção, à manutenção e ao equipamento de espaços destinados à prática de atividades desportiva, educacional e cultural; IV – a promoção, ao estímulo e à orientação quanto à prática e a difusão da Educação Física.

Finalmente, em Diadema, no Titulo VIII – Da Ordem Social, temos a seguinte legislação, no Capítulo VI – Do Desporto:

Art. 247 – é dever do Município fomentar práticas desportivas, como um direito de todos, observados:

I - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e comunitário, na forma da lei.

Podemos observar algumas questões interessantes na Lei Orgânica dos municípios. Na Seção que trata do esporte, todos os municípios assumem de maneira clara a responsabilidade por fomentar, destinar verbas e dar condições para a prática desportiva educacional. Em Santo André, São Bernardo e São Caetano, há menção sobre a prática da Educação Física. No que se refere à Seção que trata da educação, observamos diferenças reveladoras, em termos de Educação Física escolar. A Lei Orgânica de Santo André teve o acréscimo de um inciso, em 10 de março de 1994, que obriga a atividade de educação física em todas as unidades da rede municipal. Em São Bernardo o documento apenas menciona o dever de construir e adequar escolas com espaço destinado a atividades esportivas. A cidade de São Caetano tem na sua lei, como dever, a garantia à prática de esporte e recreação como parte da formação física e mental e, finalmente, Diadema não faz menção da educação física na Seção da Educação.

Considerando o cotidiano das escolas, no Município de Santo André implantou-se de maneira plena o projeto Vivências do Movimento, abrangendo desde a Educação Infantil até as séries iniciais do Ensino Fundamental no 1º semestre de 2007. Esse projeto existe desde 2005, mas era desenvolvido só em algumas escolas da Rede Municipal de Ensino. Os profissionais envolvidos no projeto são graduados em Educação Física e atuam como monitores. São Caetano sempre garantiu, de maneira efetiva, as aulas de Educação Física com professores especialistas que ingressaram por concurso público. Na cidade de São Bernardo, apenas as escolas de Educação Especial contam com os especialistas para as aulas de Educação Física. Em Diadema, as aulas de Educação Física ficam a cargo das professoras polivalentes.

Com base nas considerações aqui apresentadas para tratarmos da questão que é a indagação principal deste capítulo – “Quem deve dar aulas de Educação Física nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental?” –, percorremos um caminho com a intenção de apontar alguns aspectos e algumas análises que envolvem a atividade docente em Educação Física nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental – este caminho aponta uma posição favorável à compreensão da legitimidade da atribuição dessas aulas ao professor especialista, ao profissional licenciado em Educação Física, porém em parceria com a professora polivalente. Essa questão será retomada nas considerações finais.

CAPÍTULO II – Um estudo sobre a formação e a atuação do Professor de

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