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1 ARCABOUÇO TEÓRICO METODOLÓGICO

3.1 Políticas públicas redistributivas no Brasil

O Brasil ainda é um país com alta concentração de renda e desigualdade social, e essa desigualdade que acomete grande parte da população brasileira, se apresentando, em parte, como uma perversa herança dos projetos de desenvolvimento pensados ao longo dos 500 anos de ocupação, o forte aporte patrimonialista, onde, na divisão internacional do trabalho13, a prioridade foi a exploração dos recursos naturais em detrimento do crescimento social e da melhoria dos aspectos de vida da população, tal qual nos legaram a realidade vivenciada. (POCHMANN, 2012).

Listamos entre os países mais populosos do mundo, temos um território de dimensão continental e uma população multiétnica, aspectos que tornam a superação de problemas como a desigualdade social, pobreza ou acesso a educação, um desafio ainda maior, nesse sentido, a discussão do papel do Estado no contexto de proteção social, é questão eminente, ao passo que, ainda que de forma breve, nos propomos, a partir de agora, a descreve-lo dando ênfase nas políticas redistributivas.

Tomamos aqui o trabalho Suplícy (2010), para estabelecermos uma ordem cronológica do início de políticas redistributivas em nosso país:

[...], podemos considerar a instituição da Renda Básica de Cidadania como algo em consonância com os valores defendidos pelas comunidades indígenas, pelos quilombolas e abolicionistas e por todos os pesquisadores e cientistas que lutaram pela criação de uma nação justa no Brasil. Entre eles podemos citar Caio Prado

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[...] A divisão internacional do trabalho tende a expressar diferentes fases da evolução histórica do capitalismo, inicialmente como relação dicotômica entre bens manufaturados e produtos primários, para, posteriormente, expressar uma relação entre produtos industriais de maior e de menos valor, e alto e baixo coeficientes tecnológicos, e, mais recentemente, uma relação de serviços de produção e bens manufaturados. Essas relações que sustentam distintas divisões de trabalho, podem ocorrer simultaneamente no tempo entre nações do centro, da semiperiferia e da periferia (POCHMANN, 2012, p. 18).

Junior, Milton Santos, Josué de Castro e Celso Furtado. Josué de Castro, autor da “Geografia da Fome” e da “Geopolítica da Fome”, quando deputado federal, já preconizava esse direito como se pode observar no seu pronunciamento em 1956, na Câmara dos Deputados, num discurso sobre a desigualdade de renda (SUPLICY, 2010, p. 9).

É interessante destacar que o Brasil, assim como outros países latino-americanos, copiou modelos de políticas de instituição de renda baseados em modelos europeus.Todavia, a exclusão dos indígenas de suas terras e a escravidão que perdurou até o final do século XIX legaram ao nosso país um alto quantitativo de excluídos sociais. Nessa linha, os primeiros esforços para construção de políticas ainda se mostravam como “um sistema de proteção social contributivo e excludente.” (SOARES; SATYRO, 2009, p. 7)

As políticas de proteção social no Brasil via transferência de renda sempre se caracterizaram pela contrapartida do trabalhador, fato descrito por Fonseca e Roquete (2018):

Na experiência brasileira todas as formas de garantia de renda (décimo terceiro salário; pagamento de férias; aposentadoria; seguro-desemprego, FGTS, abono salarial, auxilio de licença-maternidade, pensão, salário-família) estiveram associadas à condição de assalariamento com carteira de trabalho assinada. Era o primado do princípio do seguro social (FONSECA; ROQUETE, 2018, p. 12).

Para tanto, no ano de 1971, o Brasil criou a chamada Previdência Rural, que, pela primeira vez, apresentara o acesso a um beneficio sem que antes o trabalhador tivesse contribuído. Essa assistência representava um reconhecimento, da parte do Estado, para com os milhares de trabalhadores que permaneceram no campo e do trabalho destes, denotando uma “introdução da dimensão das necessidades no sistema de proteção social. Ademais, inaugurou um novo paradigma no processo de construção da proteção social brasileira - a solidariedade” (SOARES; SATYRO, 2009, p. 7).

Avançamos para o ano de 1988. Com a redemocratização do país, uma nova constituição trouxe à luz aspectos mais explícitos da proteção social que remetiam ao campo da educação, saúde e segurança, a concretização da lei de aposentadoria dos trabalhadores do campo e também a um beneficio denominado Beneficio de Prestação Continuada – BPC, direcionado para pessoas idosas ou que portassem alguma deficiência (BRAGA, 2019).

Caminhando para o final do século XX , início dos anos 1990,onde novos campos políticos ganhavam espaço no mundo, com destaque para as ideias neoliberais. Estas já se mostravam fortes em nosso país, reveladas através de privatizações de empresas estatais como plano de governo e que categorizavam ainda mais as dimensões do sistema capitalista nacional. Entretanto, o projeto de lei 2.561, do senador Eduardo Suplicy, que propunha a

instituição de um “Programa de Garantia de Renda Mínima – PGRM, sob a forma de imposto de renda negativo” (SOARES; SATYRO, 2009, p. 9) nunca chegou a ser votado.

Em meados finais do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, a lei n° 9.533, que em seu escopo “autorizava o governo federal a conceder um apoio financeiro de 50% do montante gasto pelos municípios com a renda mínima associada à educação” (SUPLICY, 2010, p. 10), visando, assim, um repasse mais volumoso para a área da educação. Contribuindo com o exposto, Fonseca e Roquete (2018) descreveram que, no final de 1998:

[...] foi regulamentada a legislação que autorizava o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a programas de renda mínima associados a ações socioeducativas instituídos por municípios que não dispusessem de recursos financeiros suficientes para financiar integralmente sua implementação. Entre a metade do segundo governo e no último ano de governo, porém, foram lançados os programas Bolsa- Escola (Ministério da Educação), Bolsa-Alimentação (Ministério da Saúde) e Auxílio-Gás (Ministério de Minas e Energia) (FONSECA; ROQUETE, 2018, p. 10).

Baseados nesses programas, ainda tivemos, no início do século XXI, a iniciativa do programa do então governador do Distrito Federal Cristovam Buarque chamado poupança escola. Tanto a propositura da lei do senador Eduardo Suplicy, quanto esses outros programas, deram sustentação ao que mais tarde desenharia a lei do PBF. Em suma, os aspectos apresentados fomentam um breve arcabouço histórico de modelos de politica publica redistributiva no Brasil, ao passo que, atualmente, o Brasil vem ganhando destaque por seu programa de transferência de renda,PBF, que passamos a descrever a partir de agora.

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