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1 A AGRICULTURA FAMILIAR: uma análise teórico-conceitual

1.3 POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA AGRICULTURA FAMILIAR

Essa análise buscou evidenciar a compreensão das diferentes dimensões das políticas agrícolas em operação no contexto regional baiano, oriundas da administração pública federal, estadual, ou mesmo, da esfera do governo municipal, voltadas para agricultura familiar.

Para tanto, primeiramente, procurou-se resgatar, de modo particular, no âmbito da literatura econômica e social, os diferentes aportes oferecidos pela bibliografia especializada para o tratamento do tema.

Em The Civic Culture, o conceito de cultura política encontra-se delimitado às atitudes e orientações dos cidadãos em relação aos assuntos políticos: "O termo 'cultura política' refere- se às orientações especificamente políticas, às atitudes com respeito ao sistema político, suas diversas partes e o papel dos cidadãos na vida pública" (ALMOND; VERBA, 1989, p. 12).

Por meio desse conceito, pretendia-se chegar à caracterização daquilo que seria a cultura política de uma nação, definida como "[...] a distribuição particular de padrões de orientação política com respeito a objetos políticos entre os membros da nação"18 .

Neste sentido, políticas públicas compreendem as decisões de governo em diversas áreas que influenciam direta e indiretamente a vida de um conjunto de cidadãos.

Até a década de 70, os estudos das políticas públicas tiveram seu foco voltado, sobretudo, para a análise dos processos de definição de problemas, para tomada de decisão e, para a relação entre o conhecimento e a melhoria da qualidade de vida. Foi a partir dessa década que as atenções se voltaram para as fases posteriores à tomada de decisões relativas à política pública e aos processos de gestão.

DENARDI (2001), faz uma cronologia acerca da política agrícola no Brasil, destacando três pontos principais:

a) a política agrícola brasileira, em substância, sempre foi decidida em consonância com os interesses dos empresários do agribusiness;

b) nas últimas duas décadas (anos 80 e 90), as políticas setoriais, inclusive a política agrícola, perderam importância e cederam espaço para as políticas macroeconômicas, sobretudo a partir dos pacotes econômicos e da liberalização;

c) por fim, nos anos 90, passou-se a atribuir novos papéis para a agricultura e o meio rural, com destaque para a geração de emprego e a preservação ambiental (DENARDI, 2001, p. 57).

Ao final do Século XX as políticas públicas voltadas para o campo passam por um processo de transformação acompanhado da necessidade de alinhamento das novas demandas sociais que emergirão no contexto dos anos 90.

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Para MIOR (2005, p. 162), ao mesmo tempo em que a agricultura passa a conviver com a abertura da economia e a desregulação, a política pública brasileira direcionada para o campo começa a produzir os primeiros sinais de diferenciação, com políticas dedicadas a tratar das questões ambientais, de desenvolvimento rural e da produção agrícola.

Conforme SOUZA (2006, p. 1), as duas últimas décadas registraram o ressurgimento da importância do campo de conhecimento denominado políticas públicas, assim como das instituições, regras e modelos que regem sua decisão, elaboração, execução e avaliação.

MIOR (2005) classifica em cinco grupos os principais componentes das políticas agrícolas: “Grupo 1 - Melhoria da produtividade e da competitividade; Grupo 2 - Suporte ao Setor Agrícola; Grupo 3 - Política Fundiária; Grupo 4 - Políticas Regionais Programas/ Projetos de desenvolvimento Rural; e Grupo 5 - Política de Produtos” (GASQUES; VILA VERDE, 1997 apud MIOR, 2005, p. 162).

Dentre as principais políticas públicas específicas para agricultura familiar, podem ser destacadas: a Previdência social, o crédito, a comercialização, a assistência técnica, o seguro agrícola e a garantia de safra.

Uma política agrícola diferenciada para a agricultura familiar começou a emergir com o Decreto 1.946, de 28 de Junho de 1996, que criou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Não é mais uma simples diferenciação nas normas de crédito rural para “pequenos produtores” (VEIGA, 1996, p. 38).

O seu advento e manutenção do PRONAF devem-se à reivindicação e da pressão dos agricultores e trabalhadores rurais organizados e liderados pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG).

Ao longo da trajetória do PRONAF desde sua criação, diversos decretos foram assinados, sempre no intuito de atender as demandas e garantir as conquistas de seus beneficiários.

Segundo GEHLEN (2004, p. 99), a concepção e execução do PRONAF contemplam a participação de organizações dos agricultores, produzindo assim, mudanças que expressam uma nova visão do significado e do papel da agricultura familiar no Brasil, sobretudo para o desenvolvimento sustentável.

Cinco anos após o lançamento do PRONAF o governo federal procede a alteração no mesmo, por meio do Decreto nº 3.991, em 30 de outubro de 2001. Entretanto, a conseqüência dessa trajetória foi à sanção do Presidente da República à Lei nº. 11.326 de 2006, a qual estabelece conceitos, princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas a agricultura familiar e empreendimentos familiares rurais, consolidando e tornando irreversível o processo de fortalecimento da agricultura familiar.

Observa-se, contudo, que a competitividade e a profissionalização não sobrepujaram as desigualdades sociais no meio rural. Necessário se faz que o poder público tenha um novo olhar sobre o rural, propiciando assim um resgate a agricultura familiar, cada vez mais participativa, não só no que se refere às questões locais, mas também, às nacionais e internacionais. Em sua análise, Gehlen (2004) assegura que:

Neste sentido, as políticas de tipo participativas e dirigidas para segmentos específicos (como é o caso do PRONAF), embora apontem para mudanças, tendem a fortalecer os que apresentam racionalidade "moderna" e centrada na ética do trabalho e da competitividade, apropriando-se das melhores chances. Não havendo igualdade de chances nas oportunidades que se oferecem, verifica-se que as políticas públicas convencionais (tipo crédito agrícola, por exemplo, ou estímulo à formação de cooperativas) não superam a discriminação e a desigualdade entre uns e outros [...] (GEHLEN, 2004, p. 2).

De um modo em geral, as políticas públicas direcionadas para a agricultura familiar, atualmente, estão direcionadas para quatro eixos de ação: redução da pobreza rural, sistemas de produção sustentáveis, geração de renda e segurança alimentar.

Conforme aponta a literatura, o Brasil está diante de uma grande oportunidade de desenvolvimento e de um grande desafio que exige escolhas estratégicas de políticas públicas sérias e eficientes propulsoras do desenvolvimento rural sustentável.