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A seguir será apresentada uma síntese das concordâncias e discordâncias dos participantes sobre a contribuição/incentivo do governo, com relação ao sistema jurídico (poder familiar), legislação trabalhista, serviços de saúde e escolas.

5.3.1 Políticas de apoio à paternidade

Notou-se que os menores percentuais de concordância com relação à contribui-ção/incentivo do governo no que se refere às políticas públicas que favoreçam a paternidade foram encontrados no sistema de saúde, onde nenhum dos pais de menores salários e apenas 14% dos pais de maiores salários concordaram que o governo contribui/incentiva a paternida-de. Com relação à discordância dos pais de que os serviços públicos de saúde apoiavam a pa-ternidade, a maioria dos entrevistados alegou que o governo incentivava apenas a mulher a levar a criança ao sistema de saúde; a precariedade dos serviços públicos de saúde; o pouco suporte e instrução sobre o papel do pai; o desamparo total em termos do serviço público de saúde (havendo a necessidade de se ter um plano de saúde particular) e a não autorização para o pai acompanhar o parto.

Verificou-se também, o baixo percentual de concordância com relação à contribuição das políticas públicas à paternidade no que se refere à legislação trabalhista pois alega-se a deficiência de infraestrutura; indiferença do governo à paternidade; segurança e saúde pública deficientes; longas jornadas de trabalho; altos impostos e transporte público deficiente.

Em resposta à pergunta sobre o que o governo deveria fazer para que os homens se sentissem mais estimulados a exercerem o papel de pais, a maioria dos entrevistados de

ambos os grupos pesquisados afirmou que o governo deveria promover campanhas de valorização/conscientização dos pais, seguindo-se de promoção de acesso à educação formal/profissionalizante.

Tendo sido perguntado aos entrevistados se eles se sentiram apoiados a acompanharem a gestação e o parto da criança, a maioria em ambos os grupos pesquisados, responderam que sim. Perguntando-se sobre quem os apoiou em tal acompanhamento, a maioria dos entrevistados do grupo de pais de menores salários respondeu que foi apoiado pela família, pelo plano de saúde e por interesse próprio. Com relação aos pais de maiores salários a maioria respondeu que foi apoiado tanto pela esposa quanto pela família. Os que não se sentiram apoiados a acompanharem a gestação e o nascimento do seu filho alegaram que os prejudicaram os seguintes fatos: (a) trabalhar em outra cidade; (b) não existir um curso específico para o pai e (c) não ser casado com a mãe da criança na época do nascimento.

Considerando-se as políticas de apoio à paternidade, notou-se aí, mais uma vez, a necessidade de políticas que favoreçam o apoio e a conscientização do papel de pai uma vez que, segundo Palkovitz (1997), o conceito de paternidade era unidimensional, limitava-se à presença ou ausência do pai. A partir de 1986, a paternidade foi definida segundo critérios de interação, disponibilidade e responsabilidade. Na atualidade, constata-se a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o conceito de paternidade, uma vez que, se nota que as análises realizadas através das categorias de Palkovitz (1997) e Lamb (2004) nos mostram uma riqueza de conteúdos em constante mutação, pois, segundo Bastos, Pontes, Brasileiro, Serra, Helena, (2012, p.244-5),

Os pais brasileiros estão mudando num contexto social e histórico, onde a coexistência de diferentes e diversas formas de famílias está sendo formada e a mistura de tradição e modernidade é regra e não exceção.

Segundo as respostas dos entrevistados, nota-se a necessidade de políticas nacionais de apoio à paternidade, principalmente no que se refere à saúde pública, pois os pais sugeriram que os governantes deveriam promover ações de conscientização e apoio à paternidade que facilitariam o desempenho do seu papel na sociedade.

5.3.2 Políticas de pesquisa e paternidade

São necessárias mudanças não apenas nas esferas das políticas sociais relacionadas à paternidade, como também as referentes às pesquisas, pois, as investigações referentes ao

tema e relacionadas à nossa realidade são insuficientes e, quando existentes, em sua maioria, apresentam uma visão conformista sobre o panorama da paternidade, a exemplo do recente livro de Shwalb, Shwalb e Lamb (2013, p. 393), que apresenta abordagens teóricas “adapta-cionistas” e “culturalistas” e, conforme os autores, “estas configurações de crenças e práticas são mantidas por mecanismos conservadores e de transmissão de cultura”. Os autores conclu-em que, a despeito do conclu-emergente modelo mundial de paternidade, a diversidade e a mudança foram os temas dominantes em todos os relatos sobre paternidade nos 14 países estudados por eles e também concluem que o pai ainda continua invisível para os pesquisadores de fora dos Estados Unidos e Oeste da Europa. Nota-se, ainda, que os autores do referido livro assumem uma posição conservadora e não realizam um esforço interpretativo sobre a realidade da pa-ternidade na contemporaneidade nos diversos países. Eles realizam uma descrição social e histórica, excluindo o entendimento político sobre o porquê a paternidade é ainda invisível para os pesquisadores de fora da América do Norte e Países Nórdicos.

A análise política da história da paternidade em nossa realidade torna-se essencial pois, se constituirá em um alicerce norteador para que políticos e pesquisadores encontrem uma nova proposta de desenvolvimento social apoiado na família, uma vez que esta representa a célula mãe da civilização.

A paternidade é um importante papel que tem como função o cuidado e a educação das gerações futuras e, como tal, merece plena atenção dos planejadores e pesquisadores sociais, haja vista que a história comprova a sua importância como instrumento de poder, coerção e controle social. De acordo com Zoja (2001), no período da colonização os europeus tentaram monopolizar o modelo da família patriarcal, reforçando seu domínio sobre os índios e escra-vos. Dominar a figura do pai era uma condição para pertencer a alta sociedade, índios e ne-gros não tinham necessidade de terem pais.

O entendimento da importância da figura paterna, sua autoridade, envolvimento, ensino, provimento e cuidados pelas novas gerações são essenciais para um desenvolvimento sólido e sustentável de uma sociedade, pois, de acordo com Horkeimer (2008), a remissão das relações de dependência é uma das mais perigosas ameaças a estrutura social e denota a sua fragilida-de.

De acordo com Shwalb, Shwalb e Lamb (2013), os elaboradores de políticas e pesquisadores sobre paternidade trabalharam e continuam trabalhando juntos, para mudar o comportamento do pai nos Estados Unidos e Países Escandinavos e esses países apresentam as mais antigas e bem estruturadas políticas de apoio à paternidade. É evidente, nos dados apresentados pelos referidos autores, que esses países têm as maiores rendas per capita do

mundo. Deve-se perguntar então, por que não existem fortes políticas e pesquisas sobre paternidade também nos demais países do mundo? Pesquisadores sociais devem procurar responder por que o pai é ainda invisível fora dos Estados Unidos e Países Nórdicos, buscando um entendimento numa perspectiva da política de dominação e de desigualdades, uma vez que, enquanto as abordagens conservadoras sobre o entendimento da importância do pai não mudarem, esse cenário de disparidades, provavelmente, também não mudará. Segundo Dowbor (1999, p.9):

Isto não implica, naturalmente, que as políticas sociais possam se resumir à ação local, às parcerias com o setor privado, e à dinâmica do terceiro setor. A reformulação atinge diretamente a forma como está concebida a política nacional nas diversas áreas de gestão social, colocando em questão a presente hierarquização das esferas de governo, e nos obriga a repensar o processo de domínio das macroestruturas privadas que dominam a indústria da saúde, os meios de informação, os instrumentos de cultura.

Assim, trata-se de buscar também novas formas de encarar a paternidade, através da mudança das políticas e práticas sociais e de pesquisa, e de inseri-la nas redes de cuidados com a criança, tais como as escolas, hospitais, serviços de saúde, creches, serviços de lazer e outras instituições, tendo em vista que o pai constituiu-se em um rico recurso para a geração de capital social e desenvolvimento sustentável.

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