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5. Polarização de filmes finos de PLLA e o seu efeito sobre a adsorção de

5.3. Resultados e discussão

5.3.2. Polarização dos filmes finos de PLLA

A determinação do campo eléctrico mínimo a aplicar para orientar os dipolos eventualmente presentes na amostra, foi efectuada numa zona de 100 µm2 no filme PLLA-QA,

onde 5 pequenas áreas de 10 µm2 foram sucessivamente polarizadas através da ponta com um

campo DC de amplitude variando entre ±10 e ±50V. Para cada área de 10 µm2, a metade superior

foi polarizada com um campo positivo e a metade inferior com um campo negativo. Finalmente, foi medida a resposta piezoeléctrica a zona inicial de 100 µm2. A movimentação e a orientação dos

dipolos em resposta ao campo eléctrico aplicado podem ser visualizadas na imagem da resposta piezoeléctrica obtida (figura 5.9.b).

Figura 5.9. Morfologia (a) e resposta piezoeléctrica (b) de uma zona de 100 µm2 no filme de

PLLA-QA após polarização de várias áreas de 10 µm2 com um campo DC entre ±10 e ±50V

As zonas brancas e pretas correspondem a domínios de dipolos orientados em direcção ao substrato e na direcção oposta, respectivamente. Como pode ser observado, a aplicação de ±10V não induz a movimentação dos dipolos enquanto que a aplicação de ±20 e ±30V inicia a orientação dos dipolos de acordo com a polaridade do campo aplicado. Finalmente, a aplicação de um campo entre ±40 e ±50V parece permitir a orientação mais completa dos dipolos do filme polimérico. Considerando a espessura dos filmes (300 nm), este campo corresponde à aplicação de aproximadamente 130MV/m. Este valor está de acordo com os valores médio de 100MV/m que a literatura refere para a polarização de polímeros piezoeléctricos amorfos [61].

±10V ±20V ±40V ±30V ±50V

a

b

______________________________________________________________________

Seguidamente, testou-se a polarizabilidade de áreas maiores nos filmes de PLLA-QA como também nos filmes de PLLA-SC. Foram então escolhidas em ambos os filmes zonas de 100 µm2

nas quais uma área de 50 µm2 foi submetida a aplicação de um campo DC de ±40 V através da

ponta de prova. A figura 5.10. mostra a morfologia e a resposta piezoeléctrica resultante para ambos os filmes.

Figura 5.10. Morfologia (a) (c) e resposta piezoeléctrica (b) (d) após polarização de uma área de 50 µm2 com um campo DC de aproximadamente ± 40V numa zona de 100 µm2 num filme de

PLLA-QA (a) (b) e num filme de PLLA-SC (c) (d)

A microscopia de força piezoeléctrica permite então desenhar facilmente e precisamente áreas polarizadas com diferentes polaridades e de tamanho variável, nomeadamente entre alguns nanómetros e 100 µm nos dois tipos de filmes em estudo, PLLA-QA e PLLA-SC, afim de investigar o efeito da polarização como também das diferentes polaridades sobre a adsorção de proteinas.

20µm

+ 40V

+ 40V

- 40V

- 40V

a

b

c

d

______________________________________________________________________

Adicionalmente, é também possível inverter a orientação dos dipolos por acção do campo DC aplicado através da ponta de prova procedendo a um novo varrimento sobre a amostra com um campo DC de polaridade inversa como mostrado na figura 5.11.

Figura 5.11. Morfologia (a) e resposta piezoeléctrica de uma zona de 100 µm2 num filme de PLLA-

SC (b) (c): após polarização de uma área de 20 µm2 com um campo DC de aproximadamente

+ 40V (b) e após inversão da orientação dos dipolos da mesma área de 20 µm2 por aplicação

de um campo de polaridade inversa de - 40V (c)

No PLLA, a orientação dos dipolos corresponde à rotação interna do grupo polar ligado ao átomo de carbono assimétrico presente em cada unidade de repetição do polímero. Este grupo polar corresponde ao carbonilo C=O que constitui um dipolo eléctrico.

Tendo-se mostrado que a manipulação dos dipolos do PLLA pelo uso da microscopia de força piezoeléctrica é possível nas zonas amorfas como nas zonas cristalinas do PLLA, seguiu-se a polarização de uma área para posterior ensaio de adsorção da fibronectina.

O teste de adsorção da fibronectina foi realizado apenas nos filmes finos semicristalinos PLLA-SC porque se observou, durante os ensaios de polarizabilidade, que quando o campo eléctrico deixa de ser aplicado, a polarização é mantida na fase cristalina devido ao bloqueio dos dipolos orientados nas esferulites enquanto que não é mantida na fase amorfa à semelhança do que acontece nos polímeros piezoeléctricos amorfos [61].

Foi então escolhida uma zona homogénea de 100 µm2 num filme fino de PLLA-SC (figura

5.12.a) completamente cristalizada para evitar diferenças na topografia porque esta é uma das propriedades superficiais dos materiais que pode influenciar a adsorção de protéinas bem como a adesão e proliferação de células [169]. Esta zona foi depois polarizada durante o varrimento pela ponta de prova com um campo DC de ± 50V, tendo sido o varrimento efectuado de baixo para

20µm

a

b

c

+40V

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cima e em que 20µm foram polarizados positivamente, 30µm negativamente e os 50 µm restantes positivamente.

A figura 5.12.b mostra a imagem que caracteriza a resposta piezoeléctrica resultante da polarização aplicada.

Figura 5.12. Morfologia (a), resposta piezoeléctrica (b) e perfil da resposta piezoeléctrica (c) após polarização de uma zona de 100 µm2 com um campo DC de ± 50V de num filme de PLLA-

SC

Foi usado o programa WsXM para traçar um perfil da resposta piezoeléctrica a partir da imagem para confirmar a natureza das cargas induzidas pela polarização e presentes à superfície dos filmes finos. O perfil determinado está representado na figura 5.12.c e traduz a resposta piezoeléctrica da zona polarizada de 100 µm de baixo para cima.

De acordo com os contrastes observados na figura 5.12.b da resposta piezoeléctrica e do perfil da figura 5.12.c, escolheram-se 2 zonas diferentes para análise: uma zona negativamente

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polarizada e uma positivamente polarizada (zona 1 e 2 nas figuras 5.12 (a) e (c) respectivamente). Estas zonas foram escolhidas nas áreas de maior contraste da imagem da resposta piezoeléctrica, que indicam maior orientação dos dipolos presentes. Estas zonas foram depois comparadas entre si e também com uma zona não polarizada, isto é, uma zona fora dos 100 µm2 inicialmente

polarizados e uma zona que não tinha sido submetida nem a polarização nem à adsorção de proteinas.

Depois da polarização, a amostra foi então retirada do microscópio Veeco e submetida ao ensaio de adsorção de proteinas. É importante referir que a zona polarizada foi previamente identificada no microscópio óptico do microscópio de força atómica para que seja possível reencontra-lá no microscópio PicoPlus depois do ensaio de adsorção de proteinas.