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A polianilina (PANI) é um dos polímeros condutores mais estudados devido à sua excelente estabilidade química em condição ambiente, facilidade de síntese, baixo custo do monômero e, principalmente, pelo seu mecanismo único de dopagem por protonação [7, 15]. A PANI tem atraído atenção considerável para aplicação em

supercapacitores, por apresentar alta capacitância específica (400-500 F g-1 em meios ácidos [11]) e sua condutividade pode ser controlada entre valores de 10-10 à 10 S cm-1 [54].

A PANI pode ser sintetizada a partir da oxidação química ou eletroquímica do monômero anilina em meio ácido [51]. A composição química deste monômero é C6H7N, sendo constituído por um anel benzênico ligado ao grupo NH2, conforme mostrado na Figura 14. A polianilina na sua forma base (não dopada) pode ser representada pela fórmula geral .{(-B-NH-B-NH-)y (-B-N=Q=N-)1-y}n, onde B e Q indicam

respectivamente os anéis C6H4 na forma benzenóide e quinóide [55], conforme esquematizado na Figura 14.b. Ou seja, a estrutura geral da PANI é composta por y e (1-y) unidades repetitivas reduzidas (nitrogênios amina-NH-) e oxidadas (nitrogênios imina–N=), respectivamente [15].

Figura 14. a) estrutura química do monômero anilina. b) estrutura química geral

da polianilina não dopada, composta por y e (1-y) unidades repetitivas reduzidas e oxidadas, respectivamente.

A presença do átomo de nitrogênio entre os anéis da cadeia confere uma flexibilidade da estrutura química, permitindo a existência da polianilina em diferentes configurações (proporções de espécies reduzidas e oxidadas). A princípio o valor de y pode variar continuamente de 0 até 1, resultando em diferentes graus de oxidação da polianilina conhecidos como: leucoesmeraldina (y=1), protoesmeraldina (y=0.75), esmeraldina (y=0.5), nigranilina (y=0.25) e pernigranilina (y=0) [15]. No entanto, as formas mais estudadas e diferenciadas na literatura são as duas formas extremas, correspondentes ao polímero totalmente reduzido (leucoesmeraldina) ou totalmente oxidado (pernigranilina), e a forma intermediária (esmeraldina) que é parcialmente oxidada (50%) [51]. A Figura 15 representa a estrutura química destes três estados de oxidação da PANI na sua forma base (não dopada).

Figura 15. Representação da forma base (não dopada) dos três estados de

oxidação mais estudados da polianilina: leocoesmeraldina, esmeraldina e pernigranilina.

Estes diferentes estados de oxidação apesar de serem estruturalmente semelhantes, apresentam comportamento óptico e eletrônico bastante distintos. Cada um destes estados pode existir tanto na sua forma base (não protonada) quanto na forma sal (protonada). Esta é uma característica única da polianilina, fazendo com que ela e seus derivados formem uma nova classe de polímeros condutores: polímeros que podem ser dopados por protonação. Ou seja, a dopagem pode ocorrer sem provocar alteração do número de elétrons associados à cadeia polimérica, diferentemente da dopagem por oxidação ou redução [40].

A reação de protonação ocorre principalmente nos nitrogênios iminas da polianilina [40], no entanto tanto os nitrogênios iminas quanto os aminas, podem estar total ou parcialmente protonados, dependendo do estado de oxidação da PANI e do pH da solução no qual o polímero está imerso [39, 51]. A esmeraldina na sua forma protonada, conhecida como sal esmeraldina, é a forma estrutural onde a PANI alcança os maiores valores de condutividade [15].

A dopagem química da polianilina no estado base esmeraldina pode ser feita por protonação dos nitrogênios imina, através da imersão da PANI em solução aquosa de ácidos fortes, necessitando a incorporação

de contra-íons (dopante) para neutralizar as cargas excedentes. A Figura 16 exemplifica o processo de dopagem por protonação da base esmeraldina para o sal esmeraldina, na presença do ácido clorídrico (HCl). Este processo provoca um aumento da condutividade de cerca de 10 ordens de grandeza. A desprotonação pode ocorrer de modo reversível, por tratamento em solução alcalina [15, 39].

Pela Figura 16 podemos observar que o processo de protonação da base esmeraldina cria inicialmente um bipolaron. Esta estrutura bipolarônica depois se dissocia espontaneamente, através da relaxação geométrica da cadeia polimérica, formando um par de polarons, os quais se separam devido a repulsões eletrostáticas e geram uma rede polarônica, que corresponde ao sal esmeraldina (coloração verde) [56, 57].

Figura 16. Esquema da protonação ácida da base esmeraldina para o sal

esmeraldina.

A protonação é um processo específico de dopagem da PANI e de seus derivados, no entanto, assim como os outros polímeros condutores, ela também pode ser dopada por oxidação da cadeia polimérica. A oxidação da base leucoesmeraldina leva ao estado condutor sal de esmeraldina. Portanto, o estado condutor da PANI, sal esmeraldina, pode ser obtido de duas formas: protonação da base esmeraldina (variação do número de prótons), ou oxidação da base leucoesmeraldina (variação do número de elétrons) [56, 57]. Em ambos os casos é necessário a incorporação de ânions na matriz polimérica para neutralizar o excesso de carga. A Figura 17 exemplifica estes dois processos de dopagem da PANI, na presença do ácido clorídrico.

Figura 17. Mecanismos de dopagem da polianilina: oxidação e protonação.

Fonte: [56].

O tipo de dopante utilizado tem influência nas propriedades da polianilina, tais como: morfologia, solubilidade, condutividade, etc [58, 59]. Através de reações de oxidação e redução, bem como de tratamentos com ácidos e bases, é possível converter reversivelmente a PANI em seus

diferentes estados de oxidação, o que confere a este polímero um grande potencial para aplicações tecnológicas [51].

A voltametria cíclica consiste na varredura do potencial elétrico a uma velocidade constante, observando a resposta da corrente em função do potencial aplicado. Através dela é possível investigar o comportamento eletroquímico da polianilina e analisar a reversibilidade de conversão entre seus diferentes estados de oxidação. Na Figura 18 temos um voltamograma cíclico típico de um filme de PANI em meio ácido, onde se observa a presença de dois pares de picos, que correspondem a dois processos redox distintos. O primeiro par de picos redox (P_1 / P_1’) é atribuído às reações de oxidação/redução da base leucoesmeraldina para o sal esmeraldina [6, 7, 15, 60, 61]. Estes picos normalmente encontram-se entre 0 e 0.3 V vs SCE [60]. O segundo par de picos redox (P_2 / P_2’) é atribuído às reações de oxidação/redução entre o sal esmeraldina e o sal pernigranilina [6, 7, 15, 60, 61], sendo que estes picos normalmente encontram-se entre 0.65 e 1 V vs SCE [60].

Figura 18. Voltamograma cíclico típico de um filme de polianilina em solução

ácida, com a indicação das cores observadas nas diferentes regiões de potencial. (solução aquosa com 1 mol l-1 de HCl, v= 50 mV s-1).

A PANI apresenta propriedades eletrocrômicas, ou seja, ela possui diferentes colorações, devido ao estado de oxidação e protonação da molécula. As reações redox sugerem que a PANI passa do estado base leucoesmeraldina para o sal esmeraldina, e deste para o sal pernigranilina. No entanto, imagina-se que exista uma variação contínua do grau de oxidação da polianilina entre o estado completamente reduzido e completamente oxidado, com vários estados intermediários. A mudança destes estados de oxidação é acompanhada pela mudança na coloração do filme. A Figura 18 mostra uma variação aproximada da coloração do filme, em função do potencial (amarelo, verde claro, verde, azul e violeta corresponderiam às formas protonadas leucoesmeraldina, protoesmeraldina, esmeraldina, nigranilina e pernigranilina, respectivamente) [15].

Apesar da Figura 18 mostrar o voltamograma da polianilina com apenas dois pares de picos redox, é bastante relatada na literatura a presença de um terceiro ou quarto par de picos [6, 60-62]. Este par de picos intermediários (entre 0.3 e 0.65 V vs SCE [60]) não está relacionado com a mudança do estado de oxidação da PANI, e corresponde a transição entre benzoquinona/hidroquinona que são possíveis produtos de degradação da cadeia polimérica. Ou seja, este pico é associdado à degradação da PANI pela formação de produtos intermediários como a p- benzoquinona, oriundos da hidrólise das espécies quinóides [60, 61].

3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Neste capítulo serão descritos os materiais, equipamentos e técnicas experimentais utilizadas neste projeto. Apresentaremos brevemente o funcionamento e objetivo de cada técnica experimental utilizada.

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