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SUMÁRIO

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

1.2 Polimorfismo no gene AMP Deaminase 1 (AMPD1)

Outro polimorfismo muito investigado é o do gene da AMP Deaminase (AMPD1). Durante contrações musculares intensas e de curta duração, a súbita demanda de ATP excede a capacidade de resíntese da célula. Esta depleção do ATP pode atingir valores de aproximadamente 40% do normal (41, 42). O consequente aumento do ADP (queda na razão ATP/ADP) em atividade contrátil intensa é um fator inibidor do processo contrátil (43) e componente característico da fadiga muscular (44), entretanto, este processo é antagonizado por vias bioquímicas, mediadas por enzimas com atividade quinase e deaminase, na tentativa de manter as necessidades energéticas da célula. Neste sentido, a reação catalisada pela AMP

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deaminase (AMP IMP + NH3) minimiza indiretamente o acúmulo de ADP por remover o AMP e deslocar o equilíbrio da reação da adenilato quinase (2ADP ATP + AMP) (45). Essa reação catalisada pela AMP deaminase e ativada durante a atividade metabólica intensa no músculo esquelético é mediada pela isoforma M (mioadenilato deaminase) codificada pelo gene AMPD1, localizado no cromossomo 1 p13-p21 (46). Esta isoforma corresponde a mais de 95% do total de AMPD (47) e está presente principalmente em fibras musculares do tipo II (48). Uma mutação do tipo nonsense, transição do nucleotídeo C T na posição 34 do éxon 2 do gene AMPD1 (C34T), converte o códon CAA (glutamina) em um stop codon (TAA), resultando na interrupção prematura da síntese da proteína (43). Em consequência, indivíduos que apresentam a sequência polipeptídica mutante, homozigoto TT ou heterozigoto CT, apresentam, respectivamente, menor e intermediária atividade enzimática da mioadenilato deaminase, quando comparados com os indivíduos homozigotos CC (49).

Segundo alguns estudos (47, 50), parte da população que expressa o gene mutante (2% da população caucasiana é homozigota e aproximadamente 20% é heterozigota) é suscetível a sintomas de câimbras musculares, dores e fadiga prematura durante exercícios. De maneira geral, o motivo para a reduzida capacidade ao exercício em conexão com a deficiência de mioadenilato deaminase estaria fundamentada no acentuado acúmulo de ADP e AMP durante o exercício (45). Esta hipótese foi testada por alguns pesquisadores que utilizaram um teste com exercícios de curta duração e alta intensidade (Wingate) em 18 indivíduos não atletas com os diferentes genótipos para AMPD1. O teste de Wingate, teste de potência anaeróbia com duração de 30 s, induz expressiva ativação da AMP deaminase (51, 52). Nestes trabalhos não se verificou a diferença no pico de potência e na média da potência gerada durante os 30 s de teste entre os diferentes genótipos. Apesar da distribuição dos tipos de fibra entre os genótipos CC (wild- type), CT e TT (mutante) ser semelhante (51%, 48% e 62% de fibras do tipo II, respectivamente), foi verificada pronunciada diferença na atividade da enzima miodenilato deaminase, com valores variando de 1.010 - 2.169 mmol/kg tecido seco/min para CC, 337-632 mmol/kg tecido seco/min para CT e 4-14mmol/kg tecido seco/min para TT. Homozigotos TT têm atividade da miodenilato deaminase inferior a 1% da atividade enzimática encontrada nos indivíduos wild-type (45).

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Na busca de associação entre o polimorfismo C34T da AMPD1 e fenótipos cardiorrespiratórios e de desempenho, indivíduos sedentários foram submetidos a um programa de treinamento físico aeróbio por 20 semanas. Neste estudo foi verificado que antes do início do treinamento, os indivíduos com genótipo TT apresentaram maiores valores de percepção de esforço (escala de Borg) comparados aos indivíduos dos genótipos CT e CC. Além disso, a carga absoluta de 50 W representava intensidade relativa de exercício 7 % superior nos indivíduos TT comparados aos indivíduos CT e CC. Após o período de treinamento, os valores de ventilação minuto máxima, VO2 max e VCO2 max eram menores nos indivíduos TT.

Estes autores (53) sugeriram ainda que indivíduos sedentários e homozigotos TT apresentem capacidade reduzida ao exercício, além de menor adaptação ventilatória em resposta ao treinamento.

Um estudo feito com atletas poloneses que desempenham atividades que demandam força, tais como corredores e nadadores de curtas distâncias e levantadores de peso, revelou que estes não apresentaram o genótipo TT, ao passo que este genótipo foi identificado no grupo controle (54). Neste mesmo trabalho observou-se que 89 % dos atletas possuíam o genótipo CC e 10 % o genótipo CT, em contraste com 75 % e 23 %, respectivamente, no grupo controle. Estes dados nos levam a considerar a possibilidade da influência positiva do genótipo CC para atletas que desempenham provas que requeiram força.

Foi relatado por Rubio e colaboradores (2005) que 4,8 % dos atletas da elite espanhola em provas de endurance (ciclistas e corredores) possuem alelo T, enquanto que em indivíduos saudáveis não atletas a frequência foi de 8,5 % (~50 % superior). Entre os atletas, não foi verificada diferença no VO2 max, limiar ventilatório

e ponto de compensação respiratória entre os diferentes genótipos, sugerindo que estas variáveis fisiológicas não são influenciadas por este polimorfismo. Entretanto, pacientes com doença coronariana, portadores do genótipo TT ou CT e submetidos a treinamento aeróbio por três meses apresentaram menor ganho no VO2 max

quando comparados àqueles com genótipo CC (55).

Juffer e colaboradores (2009) verificaram a frequência dos diferentes genótipos do gene AMPD1 entre jogadores de futebol, corredores e não atletas. A distribuição do genótipo CT foi significativamente menor nos corredores quando

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comparado aos jogadores de futebol e aos não atletas. Mais uma vez estes autores não associaram os diferentes genótipos ao desempenho dos atletas. Até o presente momento, não há relatos na literatura da associação entre os diferentes genótipos do gene da AMPD1 ao desempenho de jogadores de futebol. Baseado nos fatos supracitados é possível que se encontre menor desempenho nos atletas polimórficos para o teste de endurance e/ou velocidade.

1.3 Polimorfismos no gene da Enzima Conversora de Angiotensina