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3 A SOBREVIVÊNCIA DAS MÍDIAS TRADICIONAIS: TELEVISÃO, RÁDIO E

4.2 POLIVALÊNCIA PROFISSIONAL

As experiências de convergência mutlimídia têm requerido o aporte de recursos financeiros pelas empresas para a montagem de estações de trabalho integradas. Envolvem ainda mudanças na cultura organizacional dessas instituições, que se vêm obrigadas a mudar uma estrutura que é geralmente departamentalizada:

O modelo integrado supera a cultura tradicional de ‗um meio, uma redação‘, e promove uma cultura convergente que é, sobretudo, ‗orientada para o conteúdo‘, do que ‗orientada para a plataforma‘. Este processo erode a dedicação dos jornalistas para um só meio, e força-os a olhar as notícias como uma commodity básica, elaborada tendo em vista o meio (GARCÍA AVILLÉS e CARVAJAL, 2008, p. 236).

Esse tipo de postura se reflete em um aumento no número de atribuições dos jornalistas, com a concentração de processos como pesquisa, redação, edição, ilustração, publicação e pós-publicação em um único profissional (Steensen, 2009). E também nas exigências de se produzir um mesmo conteúdo para vários formatos midiáticos (impresso, TV, rádio, on-line), o que exige dos jornalistas o desenvolvimento de novas competências e uma sobrecarga de trabalho (GARCÍA AVILLÉS e CARVAJAL, 2008) que dificilmente é remunerada. Situação que as empresas adotam e vendem com orgulho, levando o profissional a assumir o slogan de ―jornalista 24 horas‖. De nada adiantou as tentativas dos sindicatos, relatados em inúmeros dossiês, de conscientizar os profissionais a reagir. Com receio do

desemprego, a maioria assume este discurso e mantém distância das reivindicações sindicais, mesmo para a demanda de ―múltiplo salário‖ para jornalista multimídia.

A questão da polivalência para Domingo et al. (2007) pode ser entendida de três formas: (a) polivalência funcional, a qual diz respeito ao profissional que assume diferentes trabalhos em uma única especialidade, como o caso de um enviado especial que cuida de todos os processos de uma reportagem, desde a apuração, passando pelo texto e a obtenção de imagens; (b) polivalência midiática, como a capacidade do jornalista produzir diferentes conteúdos de um assunto diferentes plataformas; e (c) polivalência editorial, na qual se destacam os profissionais que atuam em diferentes áreas temáticas, passando por diferentes editorias.

A mentalidade multitarefa, como já apontada como sendo uma característica da geração que convive espontaneamente nesse novo ecossistema, também pode ser uma habilidade para reunir os diversos profissionais que ―sejam hábeis para produzir notícias para qualquer mídia usando qualquer ferramenta tecnológica em todos os passos do processo (DOMINGO et al., 2007. online). Para os autores, esses profissionais podem ser hábeis para adaptar as histórias para a linguagem de todas as mídias e desenvolver todo processo de produção de maneira cada vez mais flexível.

Nesse sentido, como visto em momento anterior, a característica multitarefa é resultado de uma convergência orgânica, uma vez que estão envolvidos fatores produtivos de similaridades entre distintas linguagens, tecnologias e conhecimentos em processos simultâneos ou em curtos intervalos de tempo. Quinn (2004) considera o jornalista multitarefa como um inspetor de gadgets, ou seja, como alguém que sabe lidar com as mais diversas ferramentas, aplicativos e dispositivos tecnológicos, como câmeras fotográficas, filmadoras e gravadores. Ou seja, o processo de produção dos conteúdos exige que os responsáveis tenham as mesmas características, senão muito próximas, de seu novo público alvo distintamente nativo digital. Para o autor, o ideal seria o investimento em uma equipe sintonizada de profissionais ao invés de se centrar em um modelo focado em um profissional responsável por produzir conteúdo para várias plataformas. ―O time é mais importante que o repórter-lobo- solitário porque o time produz melhor reportagem multimídia‖. Ao adotar essa perspectiva, Quinn (2004) procura exaltar a qualidade do conteúdo e aposta na soma de habilidades individuais para o aprofundamento e a contextualização, bem como para a exploração de diferentes recursos o fazer jornalístico.

No entanto, a polivalência pode encontrar alguns empecilhos no processo de consolidação do ambienta convergente. Garcia Aviles (2006) lembra que os profissionais

provenientes da mídia impressa costumam ter dificuldade para produzir conteúdos em vídeo, uma vez que é preciso lidar com linguagens, tecnologias e culturas midiáticas distintas.

Domingo et al. (2007), assim como Salaverría e Negredo (2008), apostam que a mudança cultural, em conjunto com os fatores de avanço tecnológico, é um importante aspecto para a concretização de um estado de polivalência. Se o processo de fusão de bens simbólicos, como proposto por Jenkins (2012), não for bem trabalho, pode vir a ser a principal barreira no processo de convergência jornalística.

Para Kischinhevsky (2009) os jornalistas são as principais vítimas desse processo conhecido por convergência e a produção multimídia e a integração das plataformas impressa e online, incluindo as ferramentas audiovisuais, correspondem a um verdadeiro ―pesadelo trabalhista‖.

Ao receber a incumbência de cobrir um mesmo fato em texto, áudio e vídeo, um repórter se vê diante do desafio de cumprir a missão em tempo hábil, como em uma gincana, pressionado pela chefia em relação a horários de fechamento distintos – sem contar a burla à legislação, que exige formação específica para o exercício das funções de repórteres fotográficos e cinematográficos. Muitas vezes, embora resista a admitir abertamente, o jornalista acaba deixando em segundo plano a profundidade na apuração, abrindo mão de novas entrevistas que poderiam garantir maior qualidade na informação, para não estourar (em demasia) a jornada de trabalho legal (KISCHINHEVSKY, 2009, p. 69).

Para que os profissionais multitarefas sejam referência no ecossistema convergente, é preciso, no entanto, que sejam adotados conceitos e tecnologias contemporâneas para a formação do profissional. Esses devem estar em sintonia com a cultura de convergência e, de certo modo, com a apropriação social das plataformas do ciberespaço, sobretudo em função da necessidade de reclivagem do campo e da natureza social da comunicação jornalística no âmbito da formação em níveis de Graduação e Pós-graduação. ―O objetivo dessa área é formar profissionais com métodos, teorias e tecnologias que correspondam ativamente aos novos e antigos problemas conceituais, ético-deontológicos, sociais e também mercadológicos do Jornalismo‖ (MAGNONI, 2013, p.13).