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POLO CERÂMICO DE RUSSAS: Problemas versus Produção

No Nordeste brasileiro a produção de cerâmica está localizada principalmente nos Estados do Ceará, Bahia e Pernambuco, em seguida os Estados do Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, a região Nordeste tem uma produção que representa, aproximadamente, 25% da nacional, consome mais de 22% do que produz e revela-se uma região com baixo índice de exportação deste tipo de produto.

Amaral Filho (2002) afirma que no Ceará encontra-se o conjunto dos maiores produtores cerâmicos, ou seja, as principais aglomerações das indústrias de cerâmica vermelha da região localizam-se no litoral Norte e Nordeste, denominados baixo Jaguaribe e Centro-Sul Cearense. Estando as maiores concentrações nos municípios de Russas, Caucaia, Iguatú e Pacatuba.

O município de Russas apresenta diversos problemas econômicos e socioambientais que prejudicam os habitantes desta região, já que, os impactos que o crescimento destas indústrias exerce sobre os recursos naturais do município causando significativas mudanças no ecossistema local afetando diretamente a qualidade do meio ambiente, com isso, aumenta- se o sofrimento das comunidades mais vulneráveis e coloca-se em risco a sobrevivência das futuras gerações.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Russas, nos últimos cinco anos foram realizados quase 5.000 atendimentos médicos na rede pública do município de Russas, em virtude de doenças respiratórias, como pneumonia, bronquite, asma, entre outras. No distrito de Flores, por exemplo, durante a noite a fumaça lançada pelas chaminés das cerâmicas invadem o distrito de forma intensa, com isso, o distrito aparenta estar envolvido num intenso nevoeiro. Estas doenças estão associadas a problemas alérgicos resultantes da poluição, provavelmente, causada pela atividade ceramista. A fuligem expelida pelas chaminés aumentam a possibilidade das pessoas desenvolverem câncer a curto prazo.

A permanência das atividades poluidoras do ar na zona urbana deste município agrava enormemente, a cada dia, a saúde da comunidade, e como consequências nefastas para a população destaca-se os altos custos para o erário público que são despendidos com os cuidados médicos necessários as pessoas acometidas pelas doenças respiratórias. Por isso, o

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Ministério Público Estadual determinou em 2010, a paralisação das atividades em 12 indústrias de cerâmicas que operam na zona urbana da cidade, entre elas, algumas que funcionam há mais de 20 anos. Estas indústrias datam de uma época que não existiam o atual número de residências, diferente da realidade atual, onde a cidade se desenvolveu em torno das indústrias e as casas circundam a atividade industrial.

Em consequência disso, a Superintendência Estadual de Meio Ambiente – SEMACE foi proibida de emitir ou prorrogar licenças de instalação e operação para essas indústrias ou para qualquer outra empresa do ramo que se localize na zona urbana. Em caso de descumprimento a SEMACE será punida com uma multa no valor de R$ 10 mil por cada licença concedida irregularmente no local. Por outro lado, a prefeitura criou um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, com nove cláusulas, onde as empresas comprometem-se a buscar meios para amenizar os impactos ambientais, não obstante, comprometeram-se também a remover o polo para uma área distante do meio urbano. Assim, o TAC ainda destaca o seguinte:

a) “que todas as em empresas instaladas e operando deverá construir a cerca com estacas de cimento ou madeira, com a finalidade de demarcar o espaço físico em que a atividade econômica está sendo exercida; bem como o confinamento do material argiloso e do material lenhoso com o intuito de impedir a estocagem do mesmo em vias públicas e inibir a proliferação de animais peçonhentos, roedores, que possam vir a causar danos ao meio ambiente e a saúde pública” (Prefeitura de Russas – TAC, 2010. p. 1-2);

b) “Procurar a melhor forma de armazenar as cinzas provenientes dos fornos, em tanques de alvenaria recobertos ou silos abertos em valas recobertas com as camadas de terra, as quais deverão ser ensacadas quando destinadas a comercialização para fins agrícolas ou outros” (Prefeitura de Russas – TAC, 2010. p. 1-2);

c) “as empresas devem promover a cobertura dos veículos (caminhões) utilizados no transporte da argila a ser utilizada na atividade ceramista, com lona ou outro material que impeça a ação dos ventos, visando atenuar as dispersões de poeira ocasionadas pelo tráfego dos referidos veículos” (Prefeitura de Russas – TAC, 2010. p. 1-2);

68 d) “O aumento da altura das chaminés existentes/recuperação das mesmas em seu estabelecimento industrial, as quais deverão medir no mínimo 30(trinta) metros de altura como também tirar as rachaduras presentes nas mesmas, exceto as indústrias que as estruturas não suportem a referida medição mediante a apresentação de laudo descrito pelo engenheiro da Prefeitura Municipal de Russas, onde em ultimo caso as mesmas não poderão medir menos que 25 metros de altura ” e; (Prefeitura de

Russas – TAC, 2010. p. 1-2).

e) “Também foram obrigados a construir os sanitários, nos lugares de produção obedecendo as normas de engenharia sanitária pertinentes no intuito de melhorar as condições dos funcionários dessas empresas” (Prefeitura de Russas – TAC, 2010. p. 1-2).

A pesar das exigências, ainda persistem vários problemas que precisam de soluções, como, por exemplo, a extinção de comunidades tradicionais, uma vez que os seus habitantes venderam suas terras aos aglomerados industriais para ocorrer a extração de argila. Está prática se repete até hoje, no município de Jaguaruana com caprinocultura, ambas as atividades econômicas são altamente impactantes. À vista disso, de 2012 a 2014 segundo a estimativa de Maria Vileni de Sousa, funcionária da Secretaria Municipal de Saúde de Russas, a quantidade de óbitos ocorridos divido as infecções respiratórias no município totalizaram 94, ou seja, o maior índice do estado nos últimos anos.

De modo igual, o consumo intensivo de “lenha” como insumo energético, nas indústrias de cerâmica vermelha em Russas, também está associada às práticas de degradação ambiental e desmatamento sistemático. Por apresentar uma vasta gama das indústrias no local, o setor tornou-se uma ameaça a meio ambiente do município nos últimos anos. Visto que, estas indústrias necessitam de combustível nas suas atividades para secar de maneira artificial as cerâmicas. Para isso, o combustível utilizado poderia ser diversificado, mas, como o setor ainda carece de avanços tecnológicos e recursos financeiros, a lenha abundante na região, com preço baixo em relação aos demais combustíveis firmou-se como a fonte de energia dominante nestas indústrias.

Atualmente, o setor consome uma média de 400 a 1.100m3 de lenha por mês, e estima- se uma geração mensal de aproximadamente 400 a 600 toneladas de cinzas. Portanto, o tipo de lenha mais utilizadas pelas indústrias é a de “Cajueiro”. O constante uso dessa madeira nas indústrias de cerâmica gera grandes quantias de resíduos, que ocasionam a poluição do ar

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responsável por graves problemas respiratórios. No entanto, como havia dito, as empresas produtoras de cerâmicas encontram-se na maioria dos casos instalada próxima às jazidas, que situam-se normalmente nas regiões da zona da mata no semiárido, nesse sentido, a utilização da lenha por parte delas contribui para o agravamento do já debilitado ecossistema de Russas.

Quanto aos cuidados necessários com as cinzas, já que o setor cerâmico vermelho tanto do estado do Ceará quanto do Brasil ainda não dispõe de tecnologias de controle rigoroso das matérias primas, sendo mundialmente utilizado para incorporar resíduos industriais incluindo as cinzas. Portanto, os trabalhos científicos a esse respeito obteve um crescimento significativo em termos global nos últimos cinco anos. O que impulsionou esta busca tecnológica é o crescimento do ramo que tenta encontrar soluções estáveis para adequação das cinzas, com a intenção de reduzir seus efeitos poluidores na atmosfera.

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