• Nenhum resultado encontrado

1.7 Principais Problemas Ambientais Relacionados à Energia

1.7.1 Poluição atmosférica

A poluição atmosférica está associada, principalmente, à queima de carvão e de combustíveis derivados de petróleo. Esses dois insumos alimentam grandes setores da economia atual, como a própria geração de energia (termoelétricas), a produção industrial e o transporte, totalizando aproximadamente 90% da energia comercial utilizada no mundo. Estima-se que, entre 1960 e 1996, com o incremento das atividades industriais e de transporte (rodoviário e aéreo), a emissão de carbono (CO e CO2) resultante da queima desses

combustíveis mais que dobrou.

O transporte rodoviário, uma das maiores fontes de poluentes, joga mais de 900 milhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera. De 1950 até 1994, a frota mundial de

veículos (carros, ônibus e caminhões) cresceu nove vezes, passando de 70 para 630 milhões (ALMANAQUE ABRIL, 2001). No Brasil, de acordo com o capítulo Cidades Sustentáveis, da Agenda 21, a taxa de motorização passou de 72 habitantes por automóvel em 1960 para pouco mais de cinco em 1998, podendo chegar essa relação a 4,3 em 2005, ao passo que a quantidade média diária de viagens por habitante, segundo a projeção, deve subir de 1,5 registradas em 1995 para 1,7 (BOEIRA, 2001).

Os efeitos nocivos do crescimento automotivo têm aparecido continuamente em levantamentos de saúde. Uma estatística, divulgada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1999, apontou a poluição como responsável por um número maior de mortes do

que o trânsito, em decorrência de problemas respiratórios ou cardíacos desencadeados pela exposição contínua ao ar poluído (ISTOÉ ON-LINE, 2001).

Os pesquisadores europeus, que avaliaram os efeitos da poluição do ar em três países (Áustria, Suíça e França), estimam que essa seja a causa de 40 mil mortes anuais, metade das quais ligadas diretamente à poluição produzida por veículos automotores. A poluição gerada (monóxido de carbono, óxidos de enxofre e nitrogênio, material particulado) pelo transporte também é apontada como a responsável por 25 mil novos casos anuais de bronquite crônica e mais de 500 mil ataques de asma. Esses dados confirmaram informações de pesquisas anteriores, realizadas no Reino Unido, que mostraram que a poluição abrevia a vida de 12 a 24 mil pessoas por ano e provoca outras 24 mil internações (FOLHA DE SÃO PAULO, 2000, p. A-3 C).

Os dados brasileiros também revelam prejuízos significativos à saúde, em particular de gestantes, crianças e idosos. Um grupo da Faculdade de Medicina da USP constatou, em 1997, que a concentração de poluentes atmosféricos em São Paulo, principalmente nos meses de inverno, pode aumentar até 12% o risco de mortes por doenças respiratórias (REVISTA FAPEP, 1997).

Os experimentos feitos com animais de laboratório indicaram que, após três meses de exposição aos poluentes, aparecem sintomas de rinite alérgica e crises de asma, além da redução das defesas imunológicas pulmonares, o que dobra o risco de contrair câncer. O ar de São Paulo recebe, anualmente, cerca de três milhões de tonela das de poluentes, 90% deles emitidos por veículos automotores. Os efeitos agudos da poluição manifestam-se, sobretudo, durante o inverno, quando a procura por atendimento em pronto-socorros infantis aumenta 25% e o número de internações por problemas respiratórios sobe 15% em relação às outras estações, quando o regime mais intenso de chuvas e ventos ajuda a dispersar a poluição. Entre as crianças esse índice chega a 20% e a taxa de mortalidade de idosos acima de 65 anos, nesse período do ano, aumenta até 12%.

Os aspectos e impactos gerados pela queima de gasolina e diesel podem ser vistos na Tabela 3 e a ação dos resíduos sobre a saúde está sintetizada na Tabela 4, a seguir.

TABELA 3 - ASPECTOS E IMPACTOS GERADOS PELO USO DE GASOLINA E DIESEL

Aspecto Impacto Tipo Categoria

Emissão de dióxido de enxofre (SO2) Chuva ácida Negativo Regional

Emissão de monóxido de carbono (CO) Intoxicação Negativo Local

Emissão de dióxido de carbono (CO2) Efeito estufa Negativo Global

Emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) Chuva ácida, formação de ozônio de baixa

altitude (O3)

Negativo Regional e global

Emissão de material particulado Não identificado - -

Emissão de hidrocarbonetos Formação de ozônio de

baixa altitude (O3)

Negativo Global

Formação de ozônio de baixa altitude (O3)

Problemas no desenvolvimento de plantas, efeito estufa

Negativo Regional e global

Emissão de aldeídos Cancerígeno para

animais

Negativo Regional

Fonte: NUNES; MARQUES JÚNIOR; RAMOS, 2001.

TABELA 4: AÇÃO DOS RESÍDUOS DE COMBUSTÍVEL FÓSSEIS SOBRE A SAÚDE

Substância Efeitos sobre a Saúde

NOx Irritação dos olhos e aparelho respiratório, efeito potencial no

desenvolvimento de enfisema

SO2 Problemas respiratórios, aumento da incidência de rinite, faringite e

bronquite

CO Fatal em altas doses. Afeta sistemas nervoso, cardiovascular e

respiratório. Dificulta o transporte de oxigênio no sangue, diminui os reflexos, gera sonolência

O3 Irritações na garganta, olhos e nariz, aumento da incidência de tosse e

asma.

Hidrocarbonetos Sonolência, irritação nos olhos, tosse

Aldeídos Irrita olhos, nariz e garganta. Provoca náuseas e dificuldade

respiratória. Material

particulado (da queima de carvão)

Irrita olhos, nariz e garganta. Provoca náusea e dificuldades respiratórias.

Outra pesquisa, liderada pelo Laboratório Experimental de Poluição Atmosférica, também da USP, investigou os danos provocados aos fetos, apesar da proteção oferecida pela placenta e pelo próprio corpo materno. A análise comparativa entre o número de óbitos fetais tardios (ocorridos após o sétimo mês de gestação) e o nível diário de poluição revelou um número maior de mortes em períodos mais poluídos. De acordo com os pesquisadores, dois em cada oito óbitos fetais tardios estão associados à poluição. Embora não seja fator determinante para a perda do bebê, a poluição é um risco adicional à saúde das gestantes nos grandes centros urbanos (ISTOÉ ON-LINE, 2001).

Documentos relacionados