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O solo é a porção mais externa da crosta terrestre composta de matéria mineral sólida (rochas e minerais) associada ou não a matéria orgânica (resíduos vegetais, organismos em estado de alteração, substâncias em estado coloidal e microrganismos em atividade), que interage com a água, o ar e os organismos vivos (MIOTTO47, 1990).

• zona não-saturada – é a camada entre o perfil do solo e a zona saturada, de

condição aeróbica e freqüentemente alcalina, formada de vazios entre as partículas sólidas, parcialmente preenchida por água, que desempenha importante papel de filtração natural e autodepuração da água, para atenuar ou eliminar o efeito nocivo dos contaminantes microbiológicos, químicos inorgânicos e compostos orgânicos, em virtude de suas propriedades físicas, químicas e microbiológicas, nos importantes processos de filtração mecânica, aeração e adsorção, que funcionam como retentores de microrganismos, em distâncias relativamente curtas, muitas vezes em menos de três metros;

• zona saturada – é a camada abaixo da zona não-saturada com poros ou fraturas

totalmente preenchidos por água excedente da camada anterior que se move por gravidade em velocidades muito lentas e formam o manancial subterrâneo propriamente dito. Essa água pode desaguar na superfície dos terrenos, na forma de fontes, ou desaguar em rios, ou ainda diretamente em lagos e oceanos. Os processos de interceptação, adsorção e biodegradação de contaminantes geralmente continuam nesta zona, porém com velocidades de percolação muito menores (MIOTTO47, 1990; MIGLIORINI44, 1994; PACHECO53, 2000; ABAS1, 2007).

Entre as duas zonas existe faixa de transição denominada franja de capilaridade, é a região mais próxima ao nível de água do lençol freático, além de ser ambiente aeróbico, quase sempre alcalino, com índice de vazios, benéfico para eliminação de contaminantes, como bactérias, vírus, hidrocarbonetos e compostos orgânicos sintéticos (PACHECO et al.56, 1993).

A atenuação e capacidade de autodepuração, ou seja, de retenção dos poluentes no subsolo ocorrem por processos biológicos (ação de microrganismos aeróbicos, anaeróbicos e facultativos para digestão de matéria orgânica) e processos físico- químicos (adsorção e retenção de microrganismos e substâncias indesejáveis, relacionadas à capacidade de troca catiônica dos argilo-minerais do solo e do tempo de residência do percolado). Estes processos se tornam favoráveis, dependendo de

diversos fatores, tais como, condutividade hidráulica, granulometria, composição mineralógica, capacidade de troca catiônica, permeabilidade, umidade, presença de nutrientes e condições de aeração. Se estes fatores forem desfavoráveis, pode ocorrer a desestabilização do meio e inviabilizar a eliminação de microrganismos patogênicos e gerar condições oportunas de contaminação das águas subterrâneas (MIOTTO47, 1990; GEOCON33, 1995; MARINHO39, 1998; CETESB20, 1999;

PACHECO53, 2000).

Porém, há relação inversa da capacidade de retenção com a permeabilidade do solo, ou seja, a capacidade de retenção de microrganismos é mais eficiente em solos argilosos (menos permeáveis) do que em solos arenosos e cascalhos (mais permeáveis). Sendo assim, no caso de existência de solos com interstícios, fraturas e canais de dissolução, esses podem ter maior vulnerabilidade à contaminação

(MARINHO39, 1998; PACHECO53, 2000).

Com a expansão urbana desordenada, o solo tem sido modificado intensa e continuamente pelo homem com a exploração agrícola, mineral e urbana, e processos como compactação, erosão, deslizamentos, inundações, poluição por substâncias orgânicas, inorgânicas e patógenos são constantes, o que ocasiona efeitos negativos, bem como a sua degradação. Portanto, o solo deve ser utilizado conforme sua aptidão de uso, com observação de suas potencialidades, respeitadas suas limitações e fragilidades, pois a degradação pode causar prejuízos irreparáveis ou recuperações inviáveis (PEDRON et al.58, 2004).

Em toda a existência do homem, dentre outras funções, o solo tem sido utilizado para a disposição de resíduos, inclusive de cadáveres. Por sua constituição mineralógica, em conjunto com o histórico geológico, as condições intempéricas, microrganismos presentes, condições de aeração e posicionamento espacial da superfície piezométrica do lençol freático, o solo pode ter a sua capacidade de depuração natural prejudicada pelo processo de urbanização sem planejamento, por isso é importante conhecer a natureza do resíduo descartado, determinar a sua

periculosidade e as transformações promovidas no solo (MIGLIORINI44, 1994; PACHECO53, 2000; PEDRON et al.58, 2004).

PEDRON et al.58 (2004) definem poluição do solo como a “presença de níveis de algum elemento ou substância que pode afetar componentes bióticos do ecossistema, comprometendo sua funcionalidade e sustentabilidade”.

Segundo MARINHO39 (1998), os processos antropogênicos capazes de causar poluição ou contaminação de águas subterrâneas têm origem na superfície do solo, e o comportamento dos contaminantes no solo e subsolo é determinado por processos geoquímicos, físicos e biológicos, como, por exemplo, decomposição de matéria orgânica, atividade bacteriana, bioacumulação, dentre outros.

O mais proveitoso tipo de solo para maximizar a retenção dos produtos da degradação é uma mistura de argila e areia de baixa porosidade e grãos de textura fina.

No caso dos cemitérios, a zona não-saturada do solo é a faixa mais importante da defesa contra o transporte dos produtos da decomposição aos aqüíferos, que funciona como filtro e absorvente e pode reduzir as concentrações de alguns microrganismos e elementos da decomposição que ocorrem durante a putrefação de cadáveres humanos, pois aumenta a oportunidade de atenuação de infiltração durante a putrefação de cadáveres humanos. Nessa zona os poluentes fecais são degradados a compostos inócuos e a maximização do tempo de residência é o fator chave que afeta a efetiva remoção de bactérias e vírus.

Para selecionar o solo, deve-se considerar a quantidade de bactérias, a distribuição dos tamanhos dos poros e a interação entre as bactérias e a fase sólida, sendo que a distribuição do solo é o fator mais importante para aumentar a área superficial de adsorção e remoção de bactérias. Portanto, o solo deve ter fortes características de adsorção para remover os produtos da degradação de águas infiltradas e também

minimizar o impacto dos cemitérios a águas subterrâneas locais, pois o tamanho dos poros do solo afeta a eficiência da filtração (ÜÇISIK E RUSHBROOK68, 1998).