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A emoção é uma reação complexa que envolve todo o organismo do indivíduo, tendo uma relação direta com as suas necessidades, metas, valores e bem-estar em geral. No estudo geral das emoções, diferentes componentes são considerados em pesquisas, e trazem a tona a discussão sobre o que as emoções são e o que precisa ser estudado quando se quer determinar seu significado (FONTAINE et al.,2002;SCHERER,2005;ALVES,2016). Alguns estudos se con- centram nos antecedentes das emoções e a avaliação de situações (FRIJDA,1986;PARKINSON,

1995;SCHERER,2001) e em termos de bem-estar de um indivíduo (ELLSWORTH; SCHE- RER,2003). Outros pesquisadores abordam os padrões da reação psicofisiológica (EKMAN; FRIESEN,1981;STEMMLER,2003).

Diversos modelos emocionais foram propostos ao longo da história dos estudos sobre emoções. No entanto, dentre estes modelos, existem duas vertentes principais para a modelagem emocional: teorias dimensionais das emoções e teorias cognitivas das emoções (RUSSELL,1980). A primeira, resultou nos modelos contínuos, ao passo que a segunda nos modelos discretos ou categóricos. Enquanto os modelos discretos preocupam-se em agrupar rótulos semelhantes sob uma mesma categoria emocional, os modelos contínuos visam descrever a relação entre tais categorias (ALVES,2016).

Dentre os modelos contínuos propostos, o mais atual e difundido é o Modelo Circumplexo proposto porScherer(2005) (Figura1) que argumenta que todas as emoções se encontram em um espaço bidimensional contínuo, dividido em 4 eixos principais, em que as dimensões são (ALVES,

2016):

∙ Valência: corresponde ao tipo de emoção e representa como um ser humano se sente (eixo X - positiva ou negativa);

∙ Excitação: corresponde à intensidade da emoção e mede a propensão dos seres humanos em realizar uma ação desencadeada pelo estado emocional (eixo Y - ativo ou passivo,

ligada ao nível de energia ou de excitação associada com a emoção);

∙ Potencial de enfrentamento: avalia o sentimento de controle do organismo sobre um determinado evento (diagonal principal - em alto ou baixo nível de controle) e;

∙ Grau de alcance dos resultados/objetivos: avalia a facilidade de se atingir um ou vários objetivos (diagonal secundária - condutivo ou obstrutivo).

Figura 1 – Modelo Circumplexo das emoções.

Ativo Passivo Positivo Negativo Condutivo Obstrutivo Alto Poder de Controle Baixo Poder de Controle Alegria Raiva Raiva Triste Triste Medo Alegria Neutro Surpresa tenso animado pretencioso ambicioso luxúria atônito convencido triunfante impaciente ciumento expectante apaixonado interessado feliz divertido corajoso deleitado entusiasmado determinado impressionado amigável relaxado contente amoroso bem-estar esperançoso confiante serene saudade sério atento contemplativo educado empático calmo pacífico cansado entediado melancólico preocupado hesitante deprimido culpa envergonhado hesitante sombrio desesperado apático decepcionado miserável surpreendido desanimado depressivo insatisfeito entediado desconfiado assustado

insultado amargurado duvidoso frustado aflito nojo descontente indignado alarmado superior invejoso desdenhoso irritado

Fonte:Scherer(2005),Alves(2016).

Scherer(2005) definiu o comportamento emocional como um processo dinâmico, em vez de um estado estacionário. Os componentes envolvidos são: 1) Relevância - importância do evento para um indivíduo e como este pode afetá-lo; 2) Implicações - consequências do evento sobre os objetivos do indivíduo; 3) Potencial de atuar - o modo como um indivíduo reage a esse evento e; 4) Significado normativo - se o evento respeita as normas sociais do indivíduo (MANO et al.,2019b). Para cada componente,Scherer(2005) definiu as intensidades das respostas emocionais que variam em função das emoções expressadas. Vale salientar, no entanto, que as respostas emocionais dependem dos indivíduos e de como eles avaliam os eventos que ocorrem (MANO et al.,2019b).

Ainda nesse sentido,Ekman(1973) eEkman(2006) propõem um modelo discreto de emoções básicas - Alegria, Desgosto, Medo, Raiva, Surpresa e Tristeza.Ekman(1973) defende que estas emoções básicas são aquelas universalmente reconhecidas, independentemente da

2.2. Conhecimento prévio sobre emoções - Teoria Componencial das Emoções 33

língua ou cultura das pessoas envolvidas na comunicação. A principal característica do modelo proposto por Ekman(1973) eEkman(2006) é a semelhança de como as pessoas utilizam tal esquema para descrever demonstrações emocionais observadas no cotidiano. O modelo permite facilmente associar as emoções com expressões faciais que as representam, pois implicam em alterações nas expressões que acompanham a experiência emocional do usuário (MANO et al.,

2019a). Por exemplo, a face sofre mudanças de acordo com o grau de excitação; em termos de respostas emocionais têm-se, por exemplo, um olhar de ódio, o franzir a testa, comprimir os lábios ou até mesmo um sorriso. Todas as outras categorias emocionais são, então, construídas a partir de combinações dessas emoções básicas.

As emoções analisadas nesse estudo são baseadas no modelo proposto porEkman(1973) e Ekman (2006) com adição da expressão Neutro (como marco zero para as emoções), por se tratar de uma abordagem mais recente (MANO et al.,2019a; MANO et al.,2019b). Tais expressões são apresentadas na Figura2.

Figura 2 – Emoções básicas propostas porEkman(1973) eEkman(2006), com a expressão Neutro.

Alegria Desgosto Medo Neutro Raiva Surpresa Tristeza

Fonte:Ekman(1973),Ekman(2006),Mano et al.(2019a),Mano et al.(2019b).

Diante do exposto, a Teoria Componencial das Emoções (STEMMLER,2003;SCHE- RER, 2005; NIEDENTHAL; KRAUTH-GRUBER; RIC, 2006; ALVES, 2016) entende as emoções como sendo níveis variáveis de mudanças inter-relacionadas entre um conjunto de cinco componentes: avaliações cognitivas, experiências subjetivas, tendências comportamentais, reações fisiológicas e expressões motoras.Mahlke e Minge(2008) destacam que uma abordagem baseada em componentes oferece uma maneira abrangente para entender os diferentes aspectos das emoções em todo o tipo de situações. Assim, diferentes aspectos podem ser utilizados para a análise emocional sem, no entanto, deixar de considerar a relação entre os diferentes componentes (SCHERER,2001). A seguir, são detalhados os cinco componentes da Teoria Componencial das Emoções (ALVES,2016):

1. Avaliação Cognitiva: está ligada à interpretação de uma situação e contribui para o desenvolvimento das emoções. O indivíduo avalia constantemente o mundo ao seu redor e procura perceber as qualidades afetivas de eventos, objetos e recursos (FONTAINE et al.,2002). Essa constante avaliação implica em utilizar recursos sensoriais, perceptivos e cognitivos para interpretação emocional do usuário (SCHERER, 2005; MAHLKE; MINGE,2008).

2. Experiência Subjetiva: é responsável pela avaliação de um episódio emocional, ou seja, da experiência subjetiva consciente que se relaciona com a capacidade do indivíduo de regular as emoções (DESMET,2003). De acordo comScherer(2005), não há nenhum método objetivo capaz de avaliar os sentimentos subjetivos, pois a única maneira de se obter tais informações é perguntando ao próprio indivíduo.

3. Tendências Comportamentais: preparam e orientam o organismo para, ou durante, uma determinada ação (FONTAINE et al.,2002). Esse componente aponta a direção e a energia de repostas emocionais específicas para o desempenho de tarefas que preparam o indivíduo para uma determinada situação (EKMAN,2006).

4. Reações Fisiológicas: são aspectos fisiológicos que permite ao usuário revelar esponta- neamente e inconscientemente suas emoções (SCHERER,2005;ALVES,2016). Esse componente é responsável por regular e controlar as funções do corpo, tais como: respira- ção, digestão, circulação, entre outros.

5. Expressões Motoras: são responsáveis por comunicar aspectos comportamentais (SCHE- RER,2005;MAHLKE; MINGE,2008;XAVIER; GARCIA; NERIS,2012). Esse compo- nente implica em alterações nas expressões faciais, vocais e gestuais que acompanham a experiência emocional do usuário.

É importante notar que ambas as representações de emoções, contínuas e categóricas, têm sido utilizadas em várias aplicações computacionais com bom desempenho (SCHERER,

2005;MANO et al.,2015;ALVES,2016;MANO et al.,2016a;MANO et al.,2019a;MANO et al.,2019b).

2.3

Inteligência Artificial para a classificação do estado

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