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2.3 Uma ponte muda os rumos da história

As ferrovias têm papel de destaque no povoamento goiano. De um lado, propiciaram o acesso dos produtos goianos aos mercados do litoral, de outro, favoreceram a ocupação meridional de Goiás. Em 1896, a Estrada de Ferro Mogiana chegou até Araguari (MG) e, em 1913, a transpôs o rio Paranaíba e alcançou a cidade de Ipameri (GO).

“A chegada da ferrovia em Ipameri, em 1913, ligando a Araguari, Ribeirão Preto, Campinas e São Paulo, permitiu que Goiás escoasse sua produção pecuária” (ALBUQUERQUE, 1998, p. 51).

O coronel Bento de Godoy, àquela época prefeito de Caldas Novas, acreditava que a construção de uma ponte sobre o rio Corumbá, não só abriria os caminhos para o sul de Goiás, mas colocaria Caldas Novas na rota do desenvolvimento. A construção da ponte era um sonho que modificaria o destino da região.

“A ponte São Bento iniciada em 1918 foi construída pelo coronel Bento de Godoy, que contratou para esse serviço o armador francês Joseph Jory e foi supervisionada durante a sua construção por Juca de Godoy” (ELIAS, 1994, p. 73-74). Essa ponte constituiu-se em elo de ligação com outros estados.

Com chegada da ferrovia a Ipameri, a ponte possibilitou a abertura de uma estrada de rodagem ligando Caldas Novas àquela cidade. Em 1913, com a posse do governador Olegário Pinto, começa a delinear-se essa estrada de rodagem:

[Ele] adquiriu duas diligências para serem colocadas numa linha de Caldas Novas a Ipameri: uma até o rio Corumbá e a outra, da margem oposta até Ipameri. Finalmente, 1918, o coronel Bento conseguiu do presidente João Alves de Castro a concessão para a exploração dos serviços da ponte. Em troca do pedágio, Bento de Godoy arcou com os duzentos e oitenta contos de réis que a ponte custou. (SE LIGA NO FUTURO, 2004, p. 17)

José Theófilo de Godoy, mais conhecido como Juca de Godoy, mineiro de Bagagem, atual município de Estrela do Sul, presenciou o

assentamento dos trilhos da ferrovia em Araguari (MG). Sobrinho do coronel Bento de Godoy, ele foi para Caldas Novas aos 22 anos, em 19061 0.

Para construir a ponte sobre o Rio Corumbá, Juca de Godoy, que era engenheiro, se fez presente. “Os cálculos preliminares, o levantamento topográfico, bem como o projeto, foram sugeridos por Juca de Godoy” (SE LIGA NO FUTURO, 2004, p. 19). O engenheiro francês encarregado da obra confirmou todos os cálculos feitos pelo sobrinho do coronel Bento.

A ponte pênsil São Bento, com 200 metros de extensão foi inaugurada em 31 de janeiro de 1920. O cimento “portland” utilizado, bem como o ferro das estruturas e os cabos de sustentação, vieram da Inglaterra. Quase todos os operários vieram de fora, já que não havia mão de obra qualificada na região. Todo o transporte de material ainda foi feito em carros de boi. Além disso, o coronel teve que adquirir as terras nas duas margens do rio, pertencentes ao barqueiro Romano, que tinha o direito de passagem. Na inauguração da ponte, foram montados ranchos para o churrasco, com direito a banda de música e foguetes. A madrinha da ponte foi a filha do coronel Bento e mulher de José Gumercindo Márquez Otero, Maria Aparecida. E o coronel ainda reservou uma surpresa para os convidados. Depois da bênção e inauguração solene, ele fez uma pequena boiada de 40 cabeças atravessar livremente a ponte como demonstração de solidez. Gradualmente, a ponte foi dotada de todos os recursos possíveis: casa de administrador, curral, rego d`água e ranchos para tropeiros, carreiros e boiadeiros. As diligências funcionavam perfeitamente. Até uma linha telefônica foi instalada na ponte. Um ano depois era inaugurada a estrada até Ipameri. (SE LIGA NO FUTURO, 2004, p. 18)

A construção da ponte foi um marco histórico determinante para o desenvolvimento da região (Figura 05). No lugar dos carros de boi e da difícil passagem pelo rio, principalmente nos períodos chuvosos, deu-se a

10 T rabalho u co mo caixeiro da loja de seu tio, fotó grafo a mador, op erador d e máq uina d e

cinema, far macêutico prático, auxiliar de ger ente de ho tel, poeta. E xcelente orado r, cronista, co ntista e jor nalista, ele foi ser ventuário d a J ustiça, co m tabelionato, pr efeito (o terceiro) e ver eador em diver sas legislatur as (SE LI GA NO FUT URO, 2004).

interligação com outros estados através de uma rodovia e de uma ponte. Formou-se, desse modo, um corredor de mão dupla que possibilitou o comércio dos produtos da região. Esses fatos também influenciaram no fluxo de turistas para Caldas Novas para tratamento de saúde.

Figura 05 - Ponte sobre o rio Corumbá, construída na gestão de Bento de Godoy. Fo nte: SE LIGA NO FUT URO, 2004.

Além da participação na construção da ponte, Juca de Godoy teve presença marcante em vários momentos da história de Caldas Novas. Segundo Elias (1994, p. 54), ele “fez o levantamento topográfico e a planta da cidade quando a pequena vila de Caldas Novas, ainda conservava as características rurais da época” e, na zona rural, “dividiu e mapeou todas as fazendas do município”.

Com a atuação de Juca de Godoy, ruas e avenidas se alargaram, praças foram desenhadas e o aspecto urbanístico da cidade melhorado.

No tempo do arraial, com o movimento de tropas de boiadas e comitivas, uma barca deslizava sobre as águas do rio Corumbá, entre Corumbaíba e Caldas Novas. O porto denominado “Limoeiro” era já bastante movimentado. Caldas Novas se expandia, tendo uma população crescente. A espacialidade do município transformou-se em função da exploração turística das águas quentes.

No próximo capítulo, analisa-se a produção e reprodução do espaço urbano de Caldas Novas e a influência do turismo de águas quentes nesse processo.