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O documento também faz referências aos cargos que fazem parte da hierarquia do colégio. Na “Ratio” encontramos as prescrições dos cargos, bem como suas características; no entanto, houve modificações. O Reitor, por exemplo, era nomeado pelo Padre Geral da Companhia. Era o responsável pela direção do colégio e estava submetido, imediatamente, ao Provincial. Hoje, é cada vez mais comum a nomeação de um leigo para ocupar tal lugar, mas sua função permanece basicamente a mesma prescrita nas regras da “Ratio”: o Reitor deve ser, em primeiro lugar, um líder apostólico que propiciará o desenvolvimento de uma visão comum (visão inaciana de mundo90) e a

preservação da unidade no interior da comunidade educativa. Também fazem parte, hoje, da administração dos colégios outros cargos, mas todos os seus ocupantes deverão, necessariamente, ser conhecedores da visão inaciana sobre a educação e a ela aderir.

O discernimento: consolação X desolação

Em sua penúltima parte, o documento “Características da educação da Companhia de Jesus” examina “O Discernimento”. O termo discernimento nos remete, inicialmente, aos “Exercícios Espirituais”, na parte denominada “Regras”, que têm como objetivo promover a distinção das coisas que trazem consolação (aproximação de Deus) e desolação (afastamento de Deus). O termo atrela-se à capacidade de fazer distinções entre formas adequadas que trarão sucesso na empreitada do aluno em direção ao “magis”. Assim, é necessário que a comunidade educativa, descrita acima, reflita sobre a sociedade na qual se encontra inserido um colégio jesuíta para que haja uma melhor adaptação à realidade, inclusive a pedagógica, com seus avanços. Cecília Irene Osowski (1997, p. 118) explica:

Acreditamos que seja necessário fazer uma diferenciação entre “discernimento” e reflexão. Talvez pudéssemos dizer que em todo “discernimento”, no sentido inaciano, há uma reflexão, mas que nem toda reflexão pressupõe “discernimento”, no sentido inaciano. Isso porque, o “discernimento” inaciano é a busca/eleição de uma resposta a Deus, buscando distinguir o que efetivamente nos move e se nossa resposta contribuirá para a maior glória de Deus. No caso da

90 “[...] visão de mundo, de sociedade e de pessoa em torno da qual e pela qual Inácio fundou a

Companhia de Jesus: a visão cristocêntrica, enquanto expressão do amor de Deus para com seus filhos,

com todas as implicações que tal visão tem nos diferentes contextos de cada época e de cada tempo [...].”

Pedagogia Inaciana, é pelo “discernimento” que examinamos se nossas ações e saberes educativos direcionam-se para concretizar uma educação comprometida com a verdade, a fé e a justiça, e o quanto nossas decisões afetam os pobres e excluídos da sociedade. Assim, o “discernimento” promove a construção da consciência crítica na busca da vontade de Deus no concreto da realidade vivida. Ele também habilita o sujeito para que realize opções livres e consistentes com a dignidade e a felicidade.

As permanências e mudanças na Pedagogia Inaciana

Já sabemos que, inspirada no “Modus Parisiensis” experienciado por Loyola em sua formação acadêmica, a educação jesuítica, através principalmente do professor, deve fazer uso de meios diversos adaptados às circunstâncias dos tempos e das pessoas, que promovam sempre a participação do aluno, evitando o tédio na aprendizagem. Essa meta é obtida, segundo o documento, com um intercâmbio permanente entre os colégios jesuítas do mundo inteiro, para troca de experiências e manutenção de visão e objetivos comuns, levando cada um a sua realidade, e também na formação permanente dos professores, que é, inclusive, custeada pela Ordem.

O documento, em sua última parte – “Alguns princípios metodológicos da pedagogia jesuíta” –, explicita claramente o que permanece, na Pedagogia Inaciana, daquilo que foi realizado nos primeiros colégios. Assim temos:

a) A semelhança entre os papéis do diretor dos “Exercícios Espirituais” e do professor: ambos estão a serviço do aluno, são facilitadores e coadjuvantes de cada um dos processos, devem ter sempre a atenção alerta para fazer a detecção de dificuldades ou ainda dos dotes especiais dos alunos. Devem ter uma relação de envolvimento com o aluno que lhes permita auxiliar no desenvolvimento do potencial de cada um.

b) Tanto o exercitante dos “Exercícios Espirituais” quanto o aluno têm um lugar de atividade em seu próprio processo de aprendizagem. Nenhum dos dois deve ser compreendido como um lugar de depósito de

verdades, mas um lugar que tem acesso às verdades e reflete sobre elas.

c) Na parte dos “Exercícios Espirituais” (2005b, p. 27) denominada “Pressuposto” encontramos:

Para que, tanto o que dá os Exercícios como o que os recebe, se ajudem mutuamente e tirem maior proveito, deve-se pressupor que todo bom cristão está mais pronto a justificar uma proposição do próximo do que a condená-la. Se não pode justificá-la, pergunte como é que ele a entende; se a entende mal, corrija-o com amor; se isso não basta, procure todos os meios convenientes para que a entenda bem e assim se salve.

Essa passagem dos “Exercícios” é considerada como a norma, a referência para o estabelecimento de boas relações entre os membros da comunidade acadêmica (professores, alunos, funcionários etc.). d) Como na “Ratio”, essa parte do documento enfatiza o cuidado que se

deve ter na estruturação do currículo, no que diz respeito à organização do trabalho diário, o modo como as disciplinas se articulam e a convergência de todas as disciplinas à consecução do objetivo geral do colégio. Para além de uma instrumentalização técnica, ele se volta para a formação do aluno como um homem para os outros, tendo como modelo de referência Jesus Cristo.

e) A pedagogia deve incluir entre suas ferramentas de ensino a análise, a repetição, a reflexão ativa e a síntese articuladas com aplicações práticas.

f) A quantidade de matérias deve ser sobrepujada pela sua qualidade, ou, segundo as palavras de Loyola (2005b, p. 13), “[...] Porque não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente.”

E, finalmente, encontramos uma pequena conclusão e nela a advertência de que nesse documento não se encontra tudo pronto e acabado, mas que ele é uma proposta de compreensão progressiva da herança inaciana no campo da educação.

Assim, uma pedagogia inspirada na visão inaciana tem por objetivo despertar nos jovens a sensibilidade para a esfera ética (ênfase na justiça), pela via da

solidariedade (voltada principalmente para os mais pobres), pois enfatiza a capacidade de discernimento entre o bem e o mal. Almeja-se, dessa forma, a criação de uma escala de valores, inserida no currículo, que se contraponha ao individualismo, à globalização reinante no mundo pós-moderno, que, por sua vez, enfatiza o desrespeito aos direitos dos outros. O jesuíta João A. Macdowell (1991) reitera que Loyola apontava como essencial a realização da experiência de combate aos vícios e aquisição das virtudes, como propõe nos “Exercícios Espirituais”, bem como a rejeição de qualquer tipo de infração à lei moral, aos moldes de Jesus Cristo.

Dessa forma, sem abdicar de seu trabalho pedagógico, os colégios jesuítas insistem no ideal evangelizador, acreditando que evangelizar é educar91. A educação jesuítica pretende ser, assim, humanista, pois quer resgatar a imagem do ser humano criado por Deus em sua dignidade e liberdade.

[...] nossa “missão de evangelizar”, especialmente pelo diálogo com membros de outras tradições religiosas e pela atenção à cultura essencial para uma apresentação efetiva do Evangelho. A finalidade de nossa missão (o serviço da fé) e seu princípio integrador (a fé dirigida à justiça do Reino) estão assim dinamicamente relacionados com a proclamação inculturada do Evangelho e o diálogo com outras tradições religiosas como dimensões da evangelização. O princípio integrador estende seu influxo a essas dimensões que como ramos de um tronco comum formam uma matriz de características essenciais de nossa missão una, a serviço da fé e a promoção da justiça.

Nossa experiência desde a CG 32 levou-nos a conclusão de que nosso serviço da fé, tendem à justiça do Reino de Deus, não pode prescindir das dimensões do diálogo e da inserção nas culturas. A proclamação do Evangelho num contexto particular deve sempre dirigir-se às características culturais, religiosas e estruturais, não como uma mensagem que vem de fora, mas sim como “o princípio inspirador, normativo e unificador que [desde dentro] transforme e recrie essa cultura, dando origem a „uma nova criação‟.” (CONGREGAÇÃO GERAL XXXIV, 1997, p. 32-33).

A ideia que daqui se depreende, complementa Luiz Fernando Klein (1998), é que a formação do aluno se transforme em ações que permitam mudanças das

91“[...] E que ninguém se assuste, porque evangelizar não é impor convicções – é tornar possível que elas

surjam; não é coarctar liberdades, mas ajudar o nascer da plena liberdade; não é oferecer proselitismo, mas oferecer uma visão da pessoa humana e do universo que encham de sentido o homem, o capacitem para construir um mundo mais humano e o comprometam, de facto, na sua realização. Na medida em que nossos centros de ensino conseguirem isto, terão atingido a sua meta suprema, como instrumentos

eficazes dessa „redenção-libertação‟ do homem que se realizou em e por Cristo, que a Igreja aplica e actualiza hoje e que consiste em „realizar uma humanidade amadurecida em cada homem‟ ou, por outras

palavras, capacitá-lo para o „pleno uso do dom da liberdade‟. Liberdade que se constrói, em plenitude, na

„doação incondicional de toda a pessoa humana concreta‟ ao Senhor e, através d‟Ele, aos homens (Redemptor hominis, 21).” (LOPES, 1997, p. 89).

estruturas consideradas injustas e indignas92. Para tal, torna-se de fundamental importância que a própria estruturação do currículo seja impregnada de valores e que também seja aplicado, nas atividades dentro e fora da classe, o paradigma inaciano das cinco dimensões: contexto, experiência, reflexão, ação e avaliação (as três primeiras dimensões derivam diretamente dos “Exercícios Espirituais”). Essas dimensões devem ser enfatizadas no processo de ensino/aprendizagem dos alunos, mas também devem ser apropriadas pelo professor.

O paradigma da Pedagogia Inaciana

De uma forma geral, podemos situar o paradigma da Pedagogia Inaciana, calcado nos “Exercícios Espirituais”, como verdadeira refundação da visão inaciana da educação, que leva a três momentos que, embora distintos, podem se entrelaçar. O primeiro momento diz respeito a ver a realidade, o segundo a

refletir sobre essa realidade e o terceiro a agir sobre esta com o intuito de

transformá-la. Esse movimento, que pode ser compreendido como circular, será acompanhado de uma contextualização e avaliação constantes, com o objetivo de garantir a liberdade. João Benno Lermen (1997, p. 76), doutor em Teologia Sistemática, nos lembra que “[...] Tanto o conhecimento, quanto a liberdade, adquirem em Inácio de Loyola uma forte conotação existencial. A liberdade inaciana é liberdade fundamental, quer dizer, expressão da pessoa inteira, com todas as suas faculdades e potencialidades [...].”

Esses momentos propostos para a educação são mais bem explicitados em outro documento da Ordem, denominado “Pedagogia Inaciana: uma proposta prática”, que se compõe das seguintes partes:

 Prólogo: assinado pelo padre jesuíta Vincent J. Duminuco, Secretário de Educação da Companhia de Jesus.

92Na Congregação Geral XXXIV, de 1995, em seu decreto de número 3 (1997, p. 35) encontramos: “2.

Nesses últimos anos, aparecem mais claramente novas dimensões de justiça: trabalho pela paz e pela reconciliação; luta contra todo tipo de discriminação e a favor dos direitos humanos, não apenas nas esferas socioeconômicas ou sociopolíticas; globalização dos processos sociais e econômicos; respeito pela vida humana, dom de Deus; respeito pelo meio ambiente e preservação da criação e da natureza etc. 2. Também emergem situações críticas que reclamam nossa atenção urgente [...]: a marginalização da África [...]; a nova situação na Europa Oriental [...]; a marginalização do povos indígenas [...]; a exclusão social

 Notas Introdutórias.

 Pedagogia Inaciana, contendo:

1. Objetivo da educação da Companhia de Jesus. 2. Para uma pedagogia pela fé e justiça.

3. A pedagogia dos Exercícios Espirituais. 4. Relação Professor-Discípulo.

5. O paradigma inaciano. 6. Dinâmica do paradigma. 7. Um processo contínuo.

8. Traços predominantes do paradigma pedagógico inaciano.

9. Objeções à prática da pedagogia inaciana.

10. Da teoria à prática: programas para a formação do professorado.

11. Alguns apoios concretos para entender o paradigma.

12. Convite à cooperação.

 Apêndice I: alguns princípios pedagógicos importantes (anotações inacianas).

 Apêndice II: a pedagogia inaciana hoje.

 Apêndice III: exemplos de métodos para ajudar os professores no uso do paradigma pedagógico inaciano. Publicado seis anos e meio depois das “Características da Educação da Companhia de Jesus”, em 1993, apresenta um procedimento muito semelhante a esse documento anterior, pois foi escrito de forma colegiada por jesuítas e leigos de todo o mundo, durante mais de três anos. Derivado da décima parte das “Características” (“Alguns aspectos metodológicos da Pedagogia jesuíta”), é uma tomada de posição, formulada pela Comissão Internacional para o Apostolado Educativo (CIAE), uma resposta dada pela Ordem aos educadores que pediam orientações para aplicá-las em sua prática de sala de aula. O documento assim se caracteriza:

Na primeira parte, [...] retoma, brevemente, o objetivo a educação da Companhia de Jesus; a pedagogia em vista da fé e da justiça; e a relação entre professor e aluno. A seguir apresenta as etapas do

paradigma pedagógico inaciano – contexto, experiência, reflexão, ação

e avaliação –, sua dinâmica interna, os traços predominantes e as

objeções à sua aplicação. O paradigma traz ainda três apêndices: o primeiro com alguns princípios pedagógicos mais importantes tirados das Anotações dos Exercícios Espirituais; o segundo é o discurso do superior geral aos participantes do treinamento em Villa Cavallettii; o terceiro é um elenco de métodos sugeridos para a aplicação do paradigma em sala de aula (KLEIN, 1997a, p. 103).

Nas “Notas Introdutórias”, já encontramos a afirmação da impossibilidade de hoje se ter um currículo que seja universal para todos os colégios da Companhia de Jesus, como se tinha nos tempos da “Ratio Studiorum”. Mas, ao mesmo tempo, assegura-se a importância de se dispor, segundo a própria tradição dos jesuítas, de uma pedagogia que possa ser sistematicamente organizada, adaptada ao seu tempo e local, e que seja capaz de auxiliar o trabalho de professores e alunos como “homens para os outros”. Eis aqui então o objetivo sobre o qual se calcará esse documento.

Hoje, a missão da Companhia de Jesus, como ordem religiosa dentro da Igreja Católica, é „o serviço da fé, da qual a promoção da justiça é elemento essencial‟. Missão arraigada na crença de que um novo mundo de justiça, amor e paz precisa de gente formada e com competência profissional, responsabilidade e compaixão; homens e mulheres que estejam preparados para acolher e promover tudo o que for realmente humano, comprometidos no trabalho em favor da liberdade e dignidade de todos os povos, e decididos a agir assim, na cooperação com outros igualmente empenhados em modificar a sociedade e suas estruturas. Precisamos de gente perseverante e capaz de renovar nossos sistemas sociais, econômicos e políticos, de tal forma que fomentem e preservem nossa humanidade comum, e libertem as pessoas para se dedicarem generosamente ao amor e cuidado dos outros. Precisamos de pessoas educadas na fé e na justiça, que tenham convicção possante e sempre crescente de que podem chegar a ser defensores eficazes, agentes e modelos de justiça, do amor e da paz de Deus, nas circunstâncias habituais da vida e do trabalho cotidiano, bem como fora delas (PEDAGOGIA INACIANA, 1993, p. 27-28).

Dimensões abordadas pela Pedagogia Inaciana em sua proposta prática

A primeira dimensão, a contextualização, refere-se ao enfrentamento da realidade, local no qual se situam os protagonistas (professor e aluno). Como fase preliminar, a inclusão do contexto no processo pedagógico vincula-se à consideração dada ao valor, adequação, atenção e cuidado particular endereçada a cada aluno, seus conhecimentos anteriores, bem como à preleção já estabelecida pelo “Modus Parisiensis”.

Da mesma forma, a atenção pessoal e a preocupação pelo aluno, que é um distintivo da educação jesuíta, requer do professor que conheça quanto for possível e conveniente, a vida do aluno. E, como a experiência humana, ponto de partida da pedagogia inaciana, nunca se produz no vazio, devemos conhecer, na medida do possível o contexto concreto em que se processa o ensino-aprendizagem. Como professores, portanto, precisamos entender o mundo do aluno, sem descuidar as formas pelas quais a família, os amigos, os companheiros, a subcultura juvenil e seus costumes, bem como as pressões sociais, a vida escolar, a política, a economia, a religião, os meios de comunicação, a arte, a música e outras realidades estão

causando impacto neste mundo e influindo no aluno para o bem ou para o mal [...] (PEDAGOGIA INACIANA, 1996, p. 43-44).

A experiência também se fundamenta nos “Exercícios Espirituais”, na ideia de Loyola de que o mais importante não é o muito que se sabe, mas a possibilidade de “sentir e saborear as coisas internamente”. Refere-se não só à matéria estudada pelo aluno, mas também à maneira como ele reage aos diferentes assuntos e conteúdos e interage com eles. Ela não é uma mera vivência espontânea, mas requer o envolvimento dos aspectos intelectuais e afetivos93, seja de forma direta ou indireta. Assim, algumas experiências ocorrerão de forma direta, através do contato imediato. Estas são mais fortes e intensas. Há também aquelas que se darão de forma indireta, ou seja, mediadas pela imaginação, pela aplicação dos sentidos ou pela via de recursos técnicos. Nessa etapa a tarefa do professor é

[...] ajudar o aluno a aguçar seus sentidos internos e externos, de modo a envolvê-los no processo de conhecimento. É provê-lo dos meios para dar-se a experiência direta (mediante conversas, debates, laboratórios, pesquisas, práticas diversas) ou indireta (por meio da imaginação e aplicação de sentidos) [...]. É selecionar os elementos que importam para o estudo: fatos, sentimentos, valores, e apresentar outros que ampliem a experiência [...]. É ajudar a relacionar o conhecimento novo com os anteriores (KLEIN, 1997a, p. 126).

A reflexão, dimensão seguinte do paradigma da “Pedagogia Inaciana: uma proposta prática”, encontra-se intimamente vinculada à experiência, não podendo uma existir sem a outra no percurso educativo, dado que a reflexão faz o movimento de dar um sentido mais profundo à experiência. Luiz Fernando Klein (1997a) argumenta que essa dimensão deve ser considerada através de duas de suas manifestações básicas: entender94 e julgar95. Segundo ele,

93 “[...] a experiência inaciana ultrapassa a compreensão puramente intelectiva. Inácio exige que „o

homem todo‟ – mente, coração e vontade – se envolva na experiência educativa. Estimula a valer-se tanto

da experiência, da imaginação e dos sentimentos, como do entendimento. As dimensões afetivas do ser humano devem ficar tão implicadas quanto as cognoscitivas, pois, se o sentimento interno não se alia ao conhecimento intelectual, a aprendizagem não moverá ninguém à ação. Por exemplo, uma coisa é saber que Deus é Pai. Mas, para que esta verdade se torne vida e chegue a ser eficiente, Inácio nos fará sentir a ternura com que o Pai de Jesus nos ama e cuida de nós, perdoando-nos. E esta experiência mais profunda pode fazer-nos cair na conta de que Deus partilha seu amor com todos os irmãos e irmãs da grande família humana. No mais íntimo do nosso ser, poderemos sentir-nos compelidos a nos preocupar com os outros – com suas alegrias e penas, esperanças, provações, pobreza, e com a injustiça que sofrem – e a

querer fazer algo por eles. Nisto estão implicados o coração e a cabeça, a pessoa e sua totalidade.”

(PEDAGOGIA INACIANA, 1996, p. 49-50).

94 No documento “Subsídios para a Pedagogia Inaciana” (1997, p. 21-22) encontramos a seguinte

definição para “entender”: “[...] é descobrir o significado da experiência, estabelecer as relações entre os

dados vistos, ouvidos, tocados, cheirados etc. É o clarão que ilumina o que se apresentava em penumbra na percepção sensível.

entender permite a descoberta do significado da experiência, o estabelecimento de relações e a formulação de hipóteses. Já o julgamento permite a verificação da adequação entre o entendido e o experimentado. É, pois, uma reconsideração séria e ponderada de temas, experiências, ideias, visando captar seu sentido mais profundo, suas implicações sociopolíticas, suas relações com outras áreas do conhecimento.

Assim, a reflexão aqui proposta é considerada como um elemento libertador de crenças, pensamentos, valores e posturas. Através dela será possível a ultrapassagem do nível intelectivo presente nos estudos e o alcance da ação transformadora de si e também da sociedade. Aqui também o trabalho de professor é de suma importância, pois consiste em

[...] estimular a sensibilidade dos alunos formulando perguntas e situações que os façam ultrapassar suas próprias experiências; partilhar com eles suas reflexões, mas prevenindo-se para não manipulá-los ou doutriná-los pela imposição de suas convicções [...] (KLEIN, 1997a, p. 128).

A ação é dimensão considerada insubstituível, dado o fato de que a Pedagogia Inaciana considera que o processo formativo deve ser uma capacitação para uma vida solidária. A ação pode ser verificada através da introjeção, por parte do aluno, à sua história particular, das descobertas e conhecimentos trabalhados, como uma maneira de ser, assumida. “[...] a ação decisiva que a pedagogia jesuítica espera de seus alunos hoje é a vida ativa de serviço, a fé