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Pontos de maiores índices de violência no bairro Catolé

entrevista coletiva, os pesquisadores constataram que, entre estes agentes, a questão da violência ocupa como uma das principais preocupações, sendo, portanto, um dos maiores problemas sociais no bairro. Complementam ainda os autores que, mesmo com a instalação recente do mais moderno prédio da 2ª Delegacia Regional da Polícia Civil, no Catolé, as ocorrências criminosas não diminuíram.

Os pontos, indicados no Mapa 6 localizam-se em torno de importantes vias do bairro. Na opinião dos entrevistados, nestas áreas ocorrem, com maior frequência, práticas de violência contra moradores locais, do tipo assaltos e homicídios. Trata-se de áreas residenciais, comerciais e de serviços, a exemplo de locais próximos a escolas, parque, no entorno de avenidas ou, ainda, ruas com terrenos sem construções. Quanto às demais ruas, travessas e avenidas do bairro não destacadas no mapa, na opinião dos representantes de diversos setores locais, estas áreas também apresentam ocorrências criminosas, mas os pontos indicados no Mapa 6 compreendem os setores mais apontados pelos moradores do próprio bairro, enquanto vítimas constantes destas ações.

O aumento constante de atos de violência, especialmente do tipo, assaltos e homicídios, tem gerado conflitos e preocupações entre os pequenos comerciantes, como também a clientela local. Ambos têm sido as principais vítimas destas ações. Além deste tipo de ocorrência criminosa, o setor, representado pelas atividades dos pequenos comércios e serviços do bairro, como mercearias, mercadinhos, farmácias, açougues, padarias, locadoras, bares, oficinas, salões de beleza, quitandas, lojas de confecções, lojas de material de construção etc., sofrem ainda com a intensa e violenta competitividade comercial, articulada pelas modernas empresas comerciais, recentemente instaladas no bairro e adjacências (Fotografias 8 e 9). Sobre esse fato no bairro Catolé, comenta Silva Júnior et. al. (2011, p.40) que “o moderno setor comercial busca consolidar sua nova e ousada modalidade de consumo entre os novos moradores do bairro que, a cada dia, é composta em sua maioria por uma população de maior poder de compras”. Deste modo, a lógica da competitividade capitalista no lugar se revela também de forma excludente e contraditória, uma vez que subestimam realidades socioespaciais pretéritas e, ao mesmo tempo, o “insere” de forma precária e restrita a algumas esferas do consumo moderno. O pequeno comércio nesta lógica competitiva, não diferente, absorve e recua e, em alguns casos, tenta “adaptar-se” às imposições verticais do mercado e consumo hodierno.

Essas especificidades e dinâmicas do bairro Catolé influem significativamente nas sociabilidades historicamente construídas e tecidas no lugar.

Fotografia 8 – Aspectos do pequeno comércio do bairro Catolé

Fonte: Pesquisa de campo, nov./2011.

Fotografia 9 – Novas formas comerciais instaladas no bairro Catolé

4 O PEQUENO COMÉRCIO DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE: FORMAS ESPACIAIS E SOCIABILIDADES NO BAIRRO CATOLÉ

4.1 A COMPETITIVIDADE COMO REGRA ABSOLUTA DE CONVIVÊNCIA NO MUNDO ATUAL: VIOLÊNCIA E MEDO AMEAÇANDO A SOCIABILIDADE

Ao apontar a competitividade como regra absoluta, perversidade sistêmica, despótica e força maior no mundo globalizado, Santos (2000) destaca também que esta competitividade passa a ser a nova regra de convivência entre as pessoas sob os imperativos da produção e do consumo.

A sobrevivência de pequenas atividades econômicas periféricas – pequenos comércios locais –, neste contexto, está, por conseguinte, ameaçada e destinada a adaptar-se aos ditames de um mercado cada vez mais competitivo que, muitas vezes, não considera as particularidades dos lugares com suas práticas socioespaciais preexistentes. É aí onde reside o problema da sociabilidade enquanto principal elo de integração e dispersão entre as clientelas e centrais de abastecimento (grandes e pequenos mercados).

Sobre o entendimento da competitividade, em seu estado puro, e a sua dimensão socioespacial no contexto de um mundo globalizado, desigual e violento, explica Santos (2000, p.57):

Concorrer e competir não são a mesma coisa. A concorrência pode até ser saudável sempre que a batalha entre agentes, para melhor empreender uma tarefa e obter melhores resultados finais, exige respeito a certas regras de convivência preestabelecidas ou não. Já a competitividade se funda na invenção de novas armas de luta, num exercício em que a única regra é a conquista da melhor posição. A competitividade é uma espécie de guerra em que tudo vale e, desse modo, sua prática provoca um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência.

A partir desta explicação, observa-se que competitividade e violência fundem-se num mesmo contexto socioeconômico, dominante no meio geográfico atual. Neste novo cenário, portanto, a violência, em seu estágio mais perverso – o da competitividade –, torna-se mais complexa e dominante em todas as esferas sociais, sobretudo, nas camadas excluídas.

Para Santos (2000, p.55), a violência tornou-se uma situação característica do nosso tempo, uma vez que se agravam as questões relativas a esta temática. Todavia, explica ainda o mesmo autor que, dentre as violências que são discutidas, a maior parte delas é formada de violências funcionais derivadas e violências periféricas particulares. Enquanto que a questão e a origem central deste problema não são destacadas em profundidade.

De acordo ainda com Santos (2000), a violência, sobretudo, estrutural constitui a forma mais perversa e real do nosso tempo. Esta resulta da presença e das manifestações conjuntas, nessa era de “globalização perversa”, do dinheiro em estado puro e da brutal competitividade social e econômica. Nesse sentido, para Morais (1998, p.80), com base em estatísticas mundiais, “a maior parte dos crimes (e até mesmo das doenças mentais) resulta da opressão das injustiças sociais, da miséria financeira ou afetiva”.

Costa e Pimenta (2006, p.9) entendem a violência, sobretudo, como resultado da dinâmica social, pois “vai além das justificativas instintivas ou vinculadas ao biológico, [...]”, bem como “das dimensões da criminalidade, do revólver, do sangue, da faca, do corpo e da morte”. Quanto à complexidade da dinâmica social, Souza (2008, p.182) ao observar a realidade das cidades indianas, onde a pobreza absoluta é maior, destaca que os índices de criminalidade violenta neste país são menores que das cidades brasileiras. Deste modo, percebe-se que os aspectos culturais exercem também influência no modo de vida das populações em variados contextos.

Caldeira (2008), ao analisar a dimensão e os efeitos da criminalidade na cidade de São Paulo, embora aponte a desigualdade social, materializada também através do uso generalizado de grades de proteção, como elemento segregador, acredita que não se pode explicar a violência apenas pelas variáveis socioeconômicas e de urbanização, mas deve-se levar em consideração uma combinação de fatores socioculturais.

Tangerino (2007), utilizando, como aporte teórico-metodológico, os estudos clássicos de cientistas sociais da Escola de Chicago101 sobre a questão da violência urbana, aponta a “organização social”102

como condição essencial na qualidade de vida e equilíbrio social. Para

101 Trata-se de um grupo de professores e pesquisadores da Universidade de Chicago (EUA) que surgiu na

década de1920. Este grupo realizou diversos estudos e pesquisas sociológicos, especialmente, no campo da psicologia social e das ciências da comunicação. Esclarece Tangerino (2007) que, a questão da criminalidade crescente na cidade de Chicago no início do século XX motivou estudiosos deste grupo a pesquisarem os fatores responsáveis por este fenômeno social, relacionando-o com o intenso processo de urbanização e de mobilidade populacional vivenciado nesta cidade no período mencionado.

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Tangerino (2007), nesta perspectiva sociológica, relaciona o aumento da violência em muitos lugares da cidade com a ausência da chamada “organização social”. Para ele, esta organização seria um equilíbrio vital a sociedade. Trata-se de relações estruturais de convívios diversos, como família, valores, princípios morais, laços

o autor, “uma sociedade desorganizada, assim pode ser entendida como aquela incapaz de impor condutas e, como corolário, como aquela sociedade incapaz de fazer incluir” (TANGERINO, 2007, p.85), em seus territórios, todos os “cidadãos” de forma igualitária.

Melgaço (2003), ao discutir o uso do território pela violência destaca que esta se faz presente de forma complexa em diferentes dimensões da sociedade, sendo, portanto, de difícil definição. Mesmo assim, para o autor, a chamada violência estrutural constitui o cerne da questão da qual as outras formas de violência são derivadas, atingindo os mais diversos âmbitos sociais.

Na esfera da sociabilidade103, que envolve as mais diversas formas de socialização humana, interação e convívio social104, levantam-se novos utilitarismos como regra de vida mediante a exacerbação do consumo, dos narcisismos, dos imediatismos, do egoísmo, do abandono da solidariedade, com a implantação de uma ética pragmática individualista. Dessa forma, a sociedade e os indivíduos abandonam as relações solidárias, típicas de cada lugar, com a entronização do reino do cálculo econômico, da competitividade e da violência exacerbada, fato constatado de forma mais concentrada, especialmente, nos espaços urbanos (SANTOS, 2000, p.54).

De acordo Frúgoli Júnior (2007, p.18), fundamentado nas ideias de Georg Simmel, as conexões entre sociabilidade e cidade moderna no período atual adquirem novos contornos mais concretos, como convivência, interação, socialização e associação. Todas estas ações estabelecidas a partir de localizações espaciais precisas, como ocorrem em estudos que destacam as relações de vizinhanças, especialmente em bairros residenciais marcados, mesmo em contextos de violência e medo, por um caráter comunitário, com tradições históricas próprias [em alguns casos], caracterizam as complexas particularidades de cada organização socioespacial das cidades.

sociais etc. A perda, portanto, desses elementos/práticas sociais resultaria em um quadro de “desorganização social” que, em diferentes períodos da história, atravessa inúmeras transições. A criminalidade neste contexto, na opinião de Tangerino (2007, p.92), “acaba também por reforçar a condição de desorganização social”, um vez que “afrouxa os laços sociais e fragmenta ainda mais a dimensão comunitária”.

103 Moreira (2006; 2007) entende que a sociabilidade compreende todo o sistema “societário formado pela

integração das esferas da vida humana pelo metabolismo do trabalho [...] A sociabilidade é, pois, a sociedade humana vista pelo prisma da relação metabólica que integra a esfera inorgânica, a esfera orgânica e a esfera social num todo societário, cujo ponto de coagulação é o trabalho [...] E são essas características que explicitam a sociabilidade como ontologia do homem e o homem como um ser social” (MOREIRA, 2007, p.174-175).

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Segundo Frúgoli Júnior (2007, p.23), “ao longo do século XX, o conceito de sociabilidade passou a ter usos e significados cada vez mais abrangentes, referindo-se a esferas, como relações cotidianas ou familiares, costumes, festas e rituais, encontros etc.”.

O fenômeno da violência nas cidades atuais e o crescente sentimento de insegurança entre os seus habitantes são indicadores e fatores de uma transformação radical do espaço urbano. Ao enfraquecimento das defesas tradicionais do sistema, como os valores de solidariedade e os laços comunitários, já relativizados pelas sociabilidades individualistas contemporâneas, correspondem mudanças bruscas que acompanham as novas tendências de um mercado cada vez mais individualizado e seletivo (PEDRAZZINI, 2006, p.99-100).

Acredita Bauman (2009, p.21) que, “quando a solidariedade é substituída pela competição105, os indivíduos se sentem abandonados a si mesmos, entre aos seus próprios recursos”. Tal quadro de corrosão e de dissolução dos laços comunitários, das relações de vizinhanças, acompanha a sociedade moderna atual, gerando inseguranças e alterando as rotinas urbanas.

Observa Santos (2000, p.58) que jamais houve na história um período em que o medo fosse tão generalizado e alcançasse todas as áreas da nossa vida: medo do desemprego, medo da fome, medo da violência, medo do outro. Afirma, ainda, que tal medo se espalha e se aprofunda a partir de uma violência difusa, mas estrutural, cujo entendimento é indispensável para se compreender as questões mais emergentes da sociedade atual.

Para Bauman (2008a, p.31), as oportunidades de ter e sofrer com o medo e suas mazelas está entre “as poucas coisas que não se encontram em falta nesta nossa época, altamente carente em matéria de certeza, segurança e proteção”. Explica, ainda, que os perigos dos quais a sociedade atual tem medo podem ser enquadrados em três tipos: o primeiro deles referente à ameaça de sofrer danos ou perdas ao corpo e às propriedades; outros medos “são de natureza mais geral, ameaçando a durabilidade da ordem social e a confiabilidade nela, da qual depende a segurança do sustento (renda, emprego) ou mesmo da sobrevivência no caso de invalidez e velhice” (BAUMAN, 2008a, p.10).

Além destes medos, há ainda outro perigo que atinge de forma direta o lugar da pessoa no mundo (posição na hierarquia social, identidade) que, segundo o referido autor, este tipo de ameaça gera exclusão social e degradação. Nesse contexto de intensas ameaças, a vida social solidária local com as suas particularidades, assegura Bauman (2008a, p.15), num ambiente líquido-moderno, está longe de ser livre destes perigos e ameaças constantes.

105 Percebe-se que, para o autor, o sentido do termo “competição” é o mesmo que M. Santos dá ao de

Com relação ao tema desta tese, esses perigos/medos somados às instabilidades promovidas pelas inovações do mercado, intensificam e geram formas de insegurança e medo entre os agentes dos setores comerciais menores, que não dispõem de recursos para se equipararem às demais formas comerciais da atualidade e nem vantagens competitivas. O medo de perder o “pouco que tem” nos seus microespaços cidadãos é compartilhado ainda por outras populações que sofrem com a deterioração sociopolítica da cidade.

Segundo Souza (2006, p.24), “a grande cidade contemporânea, em muitos lugares, se vai transformando em algo, sob alguns aspectos, mais e mais amedrontador”. O medo presente na cidade contemporânea se configura em diversas formas espaciais. A fragmentação do tecido urbano em espacialidades e formas exclusivas para alguns, a grande utilização do aparato técnico de segurança moderno, a sensação de não pertencer ao lugar, a deterioração sociopolítica da cidade, a vida vigiada e restrita mergulham a sociedade num conflito constante.

Souza (2006, p.29) ainda acredita que uma sociedade profundamente marcada por prisões reais e metafóricas, por uma estrutura social extremamente desigual e excludente, “se reflete e, ao mesmo tempo, é condicionada por uma espacialidade correspondente (fragmentada sociopoliticamente), que, em vez de colaborar para ‘educar para a liberdade’, estimula o individualismo e o privatismo”.

Destaca ainda Souza (2006, p.492) que o medo, a violência, os muros e proteções nada têm de novo na história, especialmente na vida das cidades. O que há de novo, para o referido autor, é a intensidade, a complexidade e o contexto atual destes fenômenos que, embora não definam completamente a cidade, são elementos marcantes no espaço e nas formas urbanas, impondo, ainda, limites às tradicionais sociabilidades.

Tuan (2005, p.12), ao abordar as diversas paisagens e formas do medo existentes ao longo da história da humanidade, expressa que, “de modo geral, todas as fronteiras construídas pelo homem na superfície terrestre – cerca viva de jardim, muralha na cidade, ou proteção do radar – são uma tentativa de manter controladas as forças hostis”. Estas fronteiras desenhadas pelo homem são constatadas, na atualidade, em novas e variadas formas de proteção, sobretudo no meio urbano, onde a questão da segurança pública e privada tornou-se algo extremamente indispensável entre as populações, principalmente para aquelas que detêm bens e mercadorias de valor.

Lembra Bauman (1999, p.55) a este respeito que a cidade, construída originalmente em nome da segurança, para proteger os que moravam intramuros de invasores mal intencionados, tornou-se, em nossa época, associada mais a espaços do perigo do que da segurança. Continua:

Os muros construídos outrora em volta da cidade cruzam agora a própria cidade em inúmeras direções. Bairros vigiados, espaços públicos com proteção cerrada e admissão controlada, guardas bem armados nos portões dos condomínios e portas operadas eletronicamente – tudo isso para afastar concidadãos indesejados [...] Em vez da união, o evitamento e a separação tornaram-se as principais estratégias de sobrevivência [...] (BAUMAN, 1999,p.55-56).

No que se refere à função de “segurança e proteção” da cidade para os seus habitantes, ao longo da sua história, destaca ainda Bauman (2009, p.40) que houve profundas mudanças, pois “paradoxalmente as cidades – que na origem foram construídas para dar segurança a todos os seus habitantes – hoje estão cada vez mais associadas ao perigo”, ao medo, à segregação. A exemplo das tendências segregacionistas nas maiores cidades do mundo contemporâneo, em que os mecanismos de exclusão e individualização estão cada vez mais explícitos, através da criação de espaços residenciais e comerciais exclusivos, da utilização exacerbada de sistemas de segurança por alguns, entre outras formas de segregação socioespacial.

Aponta Souza (2006, p.17) que, embora a prisão não seja o único símbolo da privação da liberdade no espaço capitalista moderno, a exemplo dos condomínios exclusivos de uma parcela da sociedade que busca “pseudo-soluções escapistas”, esta forma de restrição e fragmentação socioespacial, condiciona, cada vez mais, os novos padrões das relações sociais no meio urbano. Para Souza (2006, p.489), a dimensão sociopolítica dessa restrição e fragmentação do tecido social e espacial “se corporifica em muros altos, cercas eletrificadas, guarita e guardas particulares, cancelas para fechar logradouros públicos e câmeras de TVs nos espaços da autosegregação”. Estas ações envolvem todas as camadas sociais de diversas formas, bem como as atividades econômicas desenvolvidas em várias áreas da cidade.

De acordo com Lefebvre (2006, p.94), o fenômeno da segregação/isolamento atinge diferentes setores da vida social. Para o autor, a formação de “guetos” constitui o “caso- limite” entre as formas de segregação socioespacial, como é o caso de alguns bairros residenciais luxuosos “isolados” (condomínios), como também de áreas de lazer (resorts,

parques etc.), denominado pelo autor por “guetos da riqueza”106

. Trata-se de espaços privativo-exclusivos para uma parcela social, onde os custos com a segurança são altos, visíveis ainda pela suntuosidade da estética das formas arquitetônicas modernas implantadas, repletas de recursos tecnológicos de segurança. Estas técnicas modernas de vigilância se contrastam com outros elementos de segurança amplamente difundidos em diferentes espaços residenciais da cidade capitalista atual, como os bairros da cidade de Campina Grande.

Destaca Souza (2008, p.84) que tanto a formação de “enclaves territoriais criminosos”, como a expansão do impacto sociopolítico das territorializações impostas pelo tráfico de drogas, quanto à proliferação de “condomínios exclusivos” enfraquecem a vida pública no cotidiano, uma vez que as interdições diretas de acesso e locomoção, o medo de frequentar certos locais em certos horários, o medo de expressar livremente opiniões representam ameaças contínuas na vida dos habitantes. Neste complexo contexto socioterritorial, os espaços públicos da cidade tornam-se, cada vez mais, na opinião de Souza (2008, p.84), “vítimas do que se poderia chamar de a síndrome da cidade vigiada107”.

Ainda sobre a extensão e a complexidade do tema da violência urbana, Rodrigues (2006, p.77) considera que, “cada vez mais, a violência associa-se ao medo de viver nas grandes cidades, onde tudo muda vertiginosamente e todos são incógnitos”. Acrescenta que o comportamento da sociedade atual em relação ao medo difere, em alguns aspectos, do medo das sociedades passadas. Assim explica: “Mas o medo que perpassa a vida, hoje, é diferente, pois trata-se do medo do roubo, da morte, das drogas, dos lugares ermos, de perder o pouco ou o muito que cada um tem” (RODRIGUES, 2006, p.77).

Quanto à dimensão da violência urbana, ainda de acordo com Rodrigues (2006), esta compreende desde a violência gerada pela vasta exclusão social, pela desleal concorrência econômica, que está concentrada nos espaços de maior pobreza aos espaços mais equipados e requintados da cidade, onde circulam os que detêm propriedades.

O reflexo da violência estrutural existente nos bairros periféricos, que vitima e ameaça inúmeras pessoas, é constatado na forma como as populações convivem com esta questão. A

106 Para Lefebvre (2006), o fenômeno da segregação deve ser analisado segundo índices e critérios diferentes,

tais como: ecológicos (favelas, zonas pobres e decadentes da área central da cidade), formais (deterioração dos signos e significações da cidade, degradação do “urbano” por deslocação de seus elementos arquitetônicos), sociológico (níveis e modos de vida, etnias, culturas etc.) (LEFEBVRE, 2006, p.94).

107 Explica Souza (2008, p.85) que a “cidade vigiada” ou “monitorada” caracteriza-se pela disseminação e

diversificação de aparatos de proteção e controle (câmeras de vídeo, cercas eletrificadas etc.), tanto em espaços públicos quanto em espaços privados. O autor utiliza ainda o termo “fobópole” para designar uma cidade dominada pelo medo da criminalidade violenta (SOUZA, 2008, p.9).

grande e intensa adoção de mecanismos de segurança menos dispendiosos nestes espaços, como, por exemplo, a aplicação de grades e portões de ferros nas janelas e entradas dos domicílios, reflete uma situação de desespero e angústia das populações pobres. Tal forma de organizações privadas aplicadas nestes lugares, comuns na maioria dos bairros das cidades brasileiras, como o bairro Catolé na cidade de Campina Grande, constitui, nas análises de

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