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análise das propostas e verificação dos pontos positivos e negativos

6.3 Pontos Positivos e Negativos

Como primeiro área revitalizada do Centro Histórico de João Pessoa, a Praça Anthenor Navarro, foi uma resposta aos esforços que vinham sendo realizados, desde o acordo de 1987 entre Brasil e Espanha. Assim como toda inovação está sujeita a erros e acertos, não poderia ser diferente com a Praça, que trazia um cenário totalmente inovador naquele momento, estabelecendo vida a um lugar a muito considerado morto e esquecido. Sua avaliação, realizada através dos critérios de qualidade setoriais relacionados ao espaço de convívio e lazer, serviu para buscar os pontos positivos e negativos da proposta, relacionando-os da seguinte maneira:

• Com relação ao Desenho Urbano: a intervenção realizada na Praça Anthenor Navarro visava a melhoria da qualidade do ambiente, e conseqüentemente da qualidade de vida para o conjunto da população usuária, assim como uma integração coerente com a macro-estrutura urbana na qual está inserida. Enquadrando-se nestes pontos, conseguiria se ajustar perfeitamente no conceito e nos objetivos do Desenho Urbano. Contudo, era necessário um conjunto de ações que pudessem reger todo o espaço urbano, considerando todas as condicionantes que interferem no desenvolvimento: espaciais, arquitetônicas, ambientais, jurídicas, econômicas, sociais, culturais, políticas, etc. Infelizmente a proposta para a requalificação da Praça, apesar de possuir algumas das ações citadas não poderia por si só solucionar problemas tão complexos, por obrigação regidos pelo Poder Público, que durante o processo deve permanecer como coordenador das ações e incentivador das atividades, capazes de despertar nas empresas e na própria sociedade civil a vontade de contribuir para a criação de espaços urbanos democráticos e de qualidade. O afastamento da classe política paraibana para os assuntos do centro histórico pode ser considerado como responsável pela grande demora para a realização dos projetos. O fato da inexistência de outras propostas, que juntas integrariam o conjunto de ações necessárias para o bom funcionamento daquele espaço, acabou por colocar a Praça Anthenor Navarro sob forte pressão, concentrando toda responsabilidade de revitalizar o Centro Histórico em um único projeto.

• Com relação ao uso do solo e a configuração espacial: No primeiro momento os usos destinados ao local conseguiram se adaptar a nova realidade, que buscava transformar o local em uma área destinada à cultura, a diversão e ao lazer. Com o sucesso do projeto e a boa receptividade da população, aos poucos foram surgindo alguns conflitos. Resultado da falta de compromisso do Poder Público em gerenciar suas ações de forma a solucionar problemas. A falta de controle com relação à chegada dos ambulantes ao local acabou por transformar a praça em um ponto de disputa entre os comerciantes locais (permanentes) e ambulantes (temporários).

aquele momento a praça estava servindo como um lugar elitizado, onde o poder aquisitivo das pessoas que a freqüentavam acabava por servir de barreira para o acesso de pessoas de outras classes sociais. A partir do momento em que a praça passa abrigar o comércio ambulante, também passa a receber pessoas de todas as classes sociais, criando assim o sentido de espaço democrático, sem barreiras sociais. Contudo, a falta de controle e organização acabou por tornar a convivência entre os comerciantes permanentes e temporários bastante delicada, acarretando na ausência gradativa dos clientes e, por conseguinte do próprio comércio. Os eventos de grande porte que passaram a existir no local também podem ser vistos de maneira controversa, pois ao mesmo tempo em que conseguem divulgar o local e atrair pessoas ao centro histórico no horário noturno, a falta de estrutura para receber esse grande público dentro da configuração espacial existente na Praça Anthenor Navarro acabava por deteriorá-la. Aos poucos em vez do projeto transformar o espaço urbano, irradiando a revitalização através da cultura de preservação, foi o projeto que acabou sendo modificado, perdendo suas características iniciais para se adaptar às novas necessidades que os grandes eventos exigiam. Assim é o caso dos jardins existentes na praça, retirados pela falta de espaço durante os grandes eventos, fato este que poderia ser solucionado se os planos de revitalização tivessem prosseguido e espaços projetados para grandes eventos tivessem sido criados.

• Com relação à circulação viária e estacionamento: esta discussão torna-se muito semelhante aos debates realizadas nos outros projetos estudados nesta pesquisa, o que pode se justificar pela proximidade existente entre estes. Sabendo-se da carência de vagas de estacionamento existentes em qualquer centro histórico e das problemáticas geradas pelo grande fluxo de carros em suas ruas estreitas, a atração de muitas pessoas durante grandes eventos resultará certamente em congestionamentos. Infelizmente este é um ponto negativo que demorará bastante a ser solucionado, cabendo não somente a melhoria dos transportes públicos coletivos como também a conscientização da população.

Muitos são os pontos discutidos, porém percebe-se que grande parte se relaciona ao fato da inexistência de outros projetos semelhantes que pudessem balancear as responsabilidades, assim como proporcionar outras atividades de maneira a alcançar todos os níveis necessários para um Desenho Urbano democrático. A falta de compromisso político também se agrega a esses fatores, já que a execução e manutenção dos projetos conta com a participação da classe política. A demora existente no Plano de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa demonstra bem essa questão. Hoje, apesar da existência de propostas que associam em seus projetos grande parte das dinâmicas sociais fundamentais para a gestão do espaço urbano, a inexistência de políticas públicas voltadas para a questão patrimonial e até mesmo a falta de parcerias público/privadas nestes projetos tem levado a demora de sua execução.

Através do exemplo da Praça Anthenor Navarro, desde seu planejamento, passando pela sua execução e chegando até a sua situação nos dias atuais, pode-se tirar muitos ensinamentos. Nenhum projeto conseguirá se manter, se depender apenas dele a revitalização de todo um espaço, pois o que conta é aquilo que está executado, já que propostas só poderão transformar o ambiente urbano se estiverem cumpridas.