• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 – Como vivem os Xokleng atualmente

2.1. A população das Aldeias Sede e Bugio

Nas duas aldeias percebemos que a comunidade com frequência busca o atendimento nos postos de saúde ou em casos mais graves são levados às cidades de José Boiteux ou mesmo Ibirama. Alguns apontam uma influência negativa do sistema de saúde estatal, pois as pessoas passaram a se utilizar muito dos remédios industrializados e não estão mais usando tanto as plantas medicinais.

Em ambas as aldeias foi possível perceber que a comunidade se envolve intensamente com as atividades das igrejas, participando de cultos, ensaios e outras atividades. E em ambas as aldeias os moradores estão envolvidos na construção de mais uma igreja.

No levantamento dos dados socioeconômicos entrevistamos 47 das 55 unidades familiares (UF) da Aldeia Bugio (85%) (Tabela 2.1). Das oito UF que não foram entrevistadas, uma não quis participar, em três delas foram feitas 3 tentativas porém não se encontrou ninguém a partir de 18 anos, e 4 UF foram desconsideradas (em uma das UF a entrevista não pode ser concluída pois o entrevistado precisou sair, em duas UF os moradores estavam há menos de 6 meses na TI e uma família era de pastores e nenhum dos integrantes da UF tinha origem indígena).

Na Aldeia Sede foram entrevistadas 22 das 32 UF (69%). Dessas dez UF que não participaram, 4 não quiseram participar e nas outras 6 em três tentativas não encontramos moradores com mais de 18 anos. Tabela 2. 1 - Síntese da Amostragem nas Aldeias Sede e Bugio, TI Ibirama- Laklãnõ

UFs

Estimadas Amostradas UFs Total da População Amostrada

Aldeia Bugio 55 47 249

Aldeia Sede 32 22 126

Na Aldeia Sede houve maior resistência à pesquisa. Os motivos apontados para a recusa foram, principalmente: que os entrevistados não estavam de acordo com o que outros pesquisadores divulgaram sobre os Xokleng, e que muitos pesquisadores nunca trouxeram nenhum retorno da pesquisa de volta à comunidade e ainda que ganhavam dinheiro com a venda de livros.

Entretanto, de forma geral a recepção da pesquisa por parte da comunidade foi muito positiva. Os entrevistados demonstravam interesse em participar, principalmente quando era colocado o compromisso de trazer de volta o que estava sendo registrado na forma de um livro7.

Ao entrar nas casas tínhamos a sensação de estar entrando em outro tempo, distante da pressa e da correria. Os entrevistados transmitiam tranquilidade e interesse em conversar, se alongavam nas conversas e citações de plantas, contando histórias que refletem a tradição oral desse povo. Apesar das dificuldades relatadas e das críticas e reivindicações muitas vezes levantadas, os entrevistados mantêm sempre um tom de leveza e humor nas conversas, muitas vezes até fazendo brincadeiras e piadas com os entrevistadores. Muitos, espontaneamente, nos levavam para mostrar plantas nos arredores das casas.

Nas visitas às casas para realizar as entrevistas não presenciamos muito o Xokleng sendo falado, mas quando ficávamos mais íntimos com uma ou outra família ou mesmo no centro cultural da Aldeia Bugio e no posto de saúde da Aldeia Sede, onde ficamos hospedados e estabelecemos vínculos mais fortes com as pessoas que trabalhavam em ambos locais, aí sim pudemos observá-los conversando em Xokleng. No questionário socioeconômico, ao perguntar os nomes dos moradores de cada UF, percebemos que a grande maioria possui nome em Português e também nome Xokleng.

As unidades familiares são em geral constituídas pelos pais e vários filhos, às vezes os avós também moram junto na mesma casa. A média de moradores por unidade familiar foi de 5 pessoas na Bugio e de 6 na Sede e se percebe que há muitas famílias numerosas (Figura 2.7). As famílias com sete ou mais moradores perfazem um total de 34% das UFs na Bugio e de 36% na Sede, aproximadamente um terço das UFs.

7 O livro com devolutivas desta dissertação e dos sub-projetos que compõe o projeto “Etnoecologia, Etnobotânica e Uso de Recursos Vegetais na Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ, Santa Catarina, Brasil” está em fase de preparação e deve ser concluído até o final do ano.

Figura 2.7 – Tamanho das unidades familiares nas aldeias Bugio (n=47 unidades familiares) e Sede (n=23 unidades familiares).

Também fica evidente em ambas as aldeias o grande número de crianças. A Figura 4.8 mostra que em ambas as aldeias a população jovem de até 23 anos predomina em relação aos adultos e idosos, indicando que a população está em crescimento uma vez que as duas

faixas mais largas são das idades pré-reprodutivas.

0 5 10 15 20 25 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 % de UF n° de habitantes por UF Bugio Sede

Figura 2.8 – Pirâmide Etária Aldeia Sede (n=129)

Figura 2.9 - Pirâmide Etária Aldeia Bugio (n=247)

Esse crescimento é evidenciado a partir de 1962 (Tabela 2.2), acompanhando o crescimento da população indígena verificado em todo o país. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os resultados do Censo 2010 revelaram um ritmo de crescimento anual de 1,1% para a população indígena, em relação a 2000 (Portal Brasil/2013). 15% 5% 5% 15% 0-7 16-23 32-39 48-55 64-71 80-87 Homens Mulheres Pirâmide Etária Aldeia Sede

15% 5% 5% 15% 0-7 16-23 32-39 48-55 64-71 80-87 Homens Mulheres Pirâmide Etária Aldeia Bugio

Tabela 2.2 – População da Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ dados de 1914 a 1997, segundo ISA (2013) e dados de 2013 segundo, SIASI, fornecidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena SESAI em José Boiteux.

SPI (1914) Henry (1932) Santos (1962) FUNAI (1980) FUNAI (1997) SIASI (2013)

Xokleng 400 106 160 529 723 2088 Guarani 33 102 54 Kaingang 11 88 21 Mestiços 82 129 126 Cafuzos 18 Brancos 50 18 67 Total 400 106 336 886 1009 2088

A partir da população total amostrada, do número de UF não amostradas e a média de moradores por UF em cada aldeia, calculamos a população da Aldeia Bugio em aproximadamente 300 pessoas e da Aldeia Sede em aproximadamente 190 pessoas.

Nossos dados se mostram diferentes dos dados do Sistema de Informação e Atenção à Saúde Indígena (SIASI) de 2013 que apontam a população da Bugio como constituída de 444 pessoas e da Sede de 254. Essa grande discrepância na Bugio é devido aos dados do SIASI incluírem a população da Aldeia Guarani: e o restante da diferença pode ser devido à grande mobilidade dos moradores dentro da TI.

Documentos relacionados