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CAPÍTULO II. DESCRIÇÃO DA ESCOLA E DO GRUPO

2.1. Descrição da escola

2.1.3. População e projeto educativo

Frequentam a escola quatrocentos e quarenta e sete alunos. Residem em locais bem diferenciados: por um lado, o meio urbano (bairros, na sua grande maioria, de habitação de classe média e média-alta); por outro, o meio rural (áreas limítrofes da malha urbana, onde coexistem a agricultura e a indústria). A escola integra oitenta e dois professores, dos quais 25% são contratados e 75% efetivos. No caso específico da disciplina de Inglês, esta escola conta com cinco docentes, três deles efetivos e os restantes contratados.

O rácio de alunos para cada professor ronda os vinte alunos, o que se traduz num ambiente de sala de aula quase perfeito para a utilização de técnicas da abordagem comunicativa. Quanto maior for uma turma, menor é a qualidade do ensino/aprendizagem, uma vez que se torna mais difícil para o professor poder acompanhar todos os alunos. Além disso, a utilização de técnicas comunicativas numa turma muito vasta diminuiria a oportunidade de cada um dos alunos poder

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exprimir-se oralmente, assim como iria aumentar o tempo necessário para cada atividade.

Segundo o Projeto Educativo da Escola Básica João Villaret (Agrupamento de Escolas João Villaret, 2013, p. 6), esta escola tem como missão:

[…] ser um lugar de aprendizagem e de socialização onde são facultados os meios para construir o conhecimento, interiorizar as atitudes e valores universais, formando cidadãos críticos, conscientes, participativos, capazes de interagir, disponíveis para aprender ao longo da vida e dar um contributo para o desenvolvimento económico, social e cultural do país.

As ofertas educativas desta escola são variadas, a saber:  Pré-escolar (básica regular);

 Ensino Básico: 1º, 2º (básica regular e educação para a cidadania) e 3º ciclos (básica regular; Oficina de Português – 8º ano; Oficina de Matemática – 7º e 9º anos; Educação Tecnológica – 7º e 8º anos);

 Ensino Articulado de Música (em parceria com o Conservatório de Música D. Dinis);

 Uma turma de Currículos Alternativos com quinze alunos, que procura soluções alternativas ajustadas à diversidade de casos que não se enquadram nem no ensino regular nem no ensino recorrente (para alunos com insucesso escolar repetido, problemas de integração na comunidade escolar, em risco de marginalização, de exclusão social ou de abandono escolar e registo de dificuldades condicionantes da aprendizagem, nomeadamente forte desmotivação, elevado índice de falta de assiduidade, baixa autoestima e falta de expectativas relativamente à aprendizagem e ao futuro);

 Duas turmas de Cursos de Educação e Formação denominadas de CEF (uma na área da Informática centrada na manutenção e reparação de computadores, outra na área da Jardinagem e Manutenção de Espaços Verdes);

 Um curso de Educação e Formação de Adultos ao nível do ensino básico, lecionado na escola EB 1 do Zambujal.

Os cursos alternativos ou especiais, da responsabilidade conjunta do Ministério da Educação e Ciência (MEC) e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS), destinam-se a jovens, com idade igual ou superior a 15

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anos, que pretendam obter a certificação de habilitações escolares do 2.º e 3.º ciclos e profissional do nível 2. A formação prática em contexto de trabalho assume a forma de estágio de 210 horas, correspondente a seis semanas, e com o horário de trabalho legalmente previsto para a atividade em que se insere esse estágio.

A escola mantém também ativo um projeto intitulado Construindo Novas

Cidadanias (PE, 2013), que tem como base de referência os objetivos do Programa

Escolhas Quarta Geração (2010/2011)3 e o diagnóstico das necessidades, anseios e expectativas da população-alvo. Visa dotar as crianças e jovens das competências necessárias à construção de uma cidadania ativa e responsável e criar condições para solucionar os problemas identificados, sendo eles: insucesso escolar e educativo; dificuldades de inclusão escolar e social; falta de acompanhamento familiar; baixa escolarização; falta de qualificação profissional; desemprego e falta de sentimento de pertença à comunidade.

A autoestima, juntamente com outros fatores pessoais, sociais, familiares motivam os alunos para a aprendizagem. Quando se tem confiança na capacidade de aprender e na habilidade de superar desafios em sala de aula, a motivação cresce nos alunos, permitindo que estes se integrem nos currículos escolares. Cabe ao professor identificar, por exemplo, situações de exclusão, insucesso escolar, desmotivação para a aprendizagem que podem bloquear o aluno, levando-o a desinteressar-se.

O esforço está em estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro dos alunos, para que estes se sintam estimulados a pesquisar e a questionar-se. Como exemplo, posso referir uma aluna da Turma D do 9.º ano da escola em causa, que todos os anos entrava em situação de abandono escolar no 3.º período. Era o seu segundo ano consecutivo a desistir do 9.º ano de escolaridade para voltar a inscrever- se no ano letivo seguinte. Era considerada uma aluna com extremas dificuldades na LE e ela própria dizia que não sabia Inglês, pretexto que utilizava para não participar oralmente.

Durante as cinco aulas que lecionei, esta aluna foi ganhando gradualmente interesse na língua, o que lhe permitiu iniciar-se na prática da oralidade, ocorrência que, segundo a professora cooperante, nunca acontecera em anos letivos passados. Tornou-se muito participativa e interessada em aprender e, quando foi avaliada no

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teste sumativo (ver Anexo P), obteve a brilhante nota de 91%, facto que deixou a aluna em lágrimas. Lamentável foi saber, já depois de terminado o meu estágio nesta escola, que durante o 2.º período a aluna voltou a desistir.

Os objetivos gerais do projeto educativo existem no sentido de promover o sucesso escolar e educativo de crianças e jovens, proporcionando situações favoráveis à construção do seu projeto de vida, impulsionando assim o desenvolvimento de uma cultura em harmonia com a comunidade. Este projeto oferece apoio escolar, ateliês de leitura e escrita, ateliês de expressão plástica, dramática e corporal, atividades lúdicas e pedagógicas, apoio psicológico e psicopedagógico, formação em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), integração de jovens em cursos com vertente escolar e profissional, encaminhamento de jovens para estágios profissionais, apoio na integração no mercado de trabalho, apoio a dinâmicas associativas e de intercâmbio juvenil e, finalmente, formação parental a pais com défices na formação pessoal e académica.

De uma forma geral, considero que a Escola Básica João Villaret tenta focar a sua intervenção nas aprendizagens, independentemente do estrato social a que os alunos pertencem. Porque esta escola se situa num local que abrange tanto zonas rurais quanto citadinas, o leque de estratos sociais dos seus alunos é bastante variado. Assim, a escola aposta na integração desses mesmos estratos na comunidade escolar e na procura do cumprimento de metas e objetivos globalizantes.

Outro aspeto que considero importante focar é o cuidado e acompanhamento prestado aos alunos com deficiências acentuadas, físicas e/ou mentais, revelando uma preocupação no acompanhamento destes alunos com necessidades especiais. Desta forma, considero a escola João Villaret inclusiva e regida pelo objetivo de formar jovens adultos conscientes e plenamente integrados na sociedade.

A realização desta pesquisa relacionada com a população e o projeto educativo desta escola foi bastante enriquecedora, porém também confusa em alguns momentos. Se, por um lado, me permitiu perceber a realidade de uma instituição escolar, e tudo aquilo que a faz funcionar, por outro, deu-me a conhecer a complexidade do seu funcionamento que, passo a passo, se desmistificou aos meus olhos, ao longo das várias estadias no local e leituras que fiz de todo este acervo organizativo.

Adicionalmente, caso tivesse havido tempo para uma pesquisa mais aprofundada destas questões relacionadas com o projeto educativo, seria interessante

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poder trazê-lo para dentro da sala de aula e adaptar as técnicas da abordagem comunicativa para desenvolver atividades retiradas deste projeto, possibilitando, por exemplo, realizar em conjunto um diagnóstico dos constrangimentos e potencialidades da escola e definir estratégias para colmatar e desenvolver o pretendido.

Usando as técnicas da abordagem comunicativa e desenvolvendo atividades que tenham como função tornar os alunos mais solidários e democraticamente comprometidos na construção de um destino comum e de uma sociedade melhor, poder-se-iam promover aulas interativas que motivassem o aluno para refletir sobre temas do projeto educativo, encaminhando-o para a expressão de opiniões, de forma crítica e em conversa livre, em diálogos e leitura.

Em suma, o projeto educativo desta escola é um ótimo instrumento para trabalhar em aulas em que a abordagem comunicativa é utilizada, pois permite que a tradicional aula frontal seja em grande parte substituída por trabalhos em pares e em pequenos grupos, desenvolvendo a motivação, o empenho e um espírito colaborativo por parte de todos (professor e alunos), visto que a comunicação e a aprendizagem são construídas, primordialmente, na e pela interação social e sobre questões pertinentes da comunidade escolar.