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Planejar pode ser considerado um ato instintivo que está sempre presente no cotidiano do ser humano, em diferentes níveis de complexidade: do planejamento cotidiano das atividades diárias (a organização dos horários do trabalho, da ginástica, do almoço, o que comprar no supermercado a quantidade, etc.) até o planejamento complexo organizacional e intelectual do indivíduo inserido em uma instituição (o professor, por exemplo, que planeja as aulas, a pesquisa, a alteração do currículo, etc.). Basicamente, com o planejamento o ser humano busca prever ações futuras e traçar o caminho do presente até este futuro desejado.

Nesta subseção serão apresentados alguns princípios básicos e genéricos que norteam a atividade de planejar, além de enfocar sua importância e os possíveis benefícios de sua aplicação. Dentre as inúmeras definições da atividade de planejar, selecionamos a formulada por Hollanda (1983, p.26) que ilustra as características mais gerais do planejamento:

“A formulação sistemática de um conjunto de decisões, devidamente integrada, que expressa determinados propósitos e condiciona os meios de alcançá-los. Um plano consiste na definição dos objetivos, na ordenação dos recursos, na determinação dos métodos e formas de organização e no estabelecimento das medidas de tempo.”

Por ser tão instintivo e imprescindível, principalmente nas atividades intelectuais, existem inúmeras abordagens metodológicas sobre como e porque planejar. A grande maioria refere-se ao planejamento organizacional estratégico voltado às atividades empresariais. Mas existe também um grande número de autores que enfocam o planejamento de políticas públicas e o educacional voltado principalmente para a gestão universitária e para as atividades acadêmicas. O planejamento na atividade artística refere- se, em grande parte, à elaboração de modelos paisagísticos, arquitetônicos e atividades de direção e produção em geral.

Independente da área de concentração, existem princípios comuns e uma abordagem mais genérica que ilustra uma Filosofia do Planejamento e engloba algumas questões primárias, como: “Fazer o que? Fazer para que? Fazer quando? Fazer onde? Fazer com o

De acordo com Ackoff (1974, p.34) existem três tipos de Filosofias de Planejamento:

“Filosofia da Satisfação: designa os esforços para atingir um mínimo de satisfação. A grande vantagem desta filosofia é que o processo de planejar pode ser realizado em pouco tempo, com poucos recursos e exige menor quantidade de tentativas x erros nas atividades relacionadas ao planejamento.

Filosofia da Otimização: neste caso o planejamento não é feito apenas para realizar

algo suficientemente bem, mas para fazê-lo tão bem quanto possível. Caracteriza-se pela utilização de técnicas matemáticas e estatísticas e de modelos de simulação. (...). Os objetivos são formulados em termos quantitativos e o planejador procura conduzir todo o processo através de modelos matemáticos que serão otimizados.

Filosofia da Adaptação: baseia-se na suposição de que o principal valor do

planejamento não está nos planos produzidos, mas no processo de produzi-los. Esta filosofia também procura o equilíbrio (interno e externo), chamado de homeostase, após ocorrência de uma mudança significativa.”

Transpondo os pressupostos de Ackoff para o processo específico do planejamento composicional, podemos relacioná-los da seguinte forma:

• A Filosofia da Satisfação ocorre quando o planejamento contribui para uma realização plena da composição, reduzindo assim o tempo de elaboração da obra, sem o prejuízo de queda na qualidade.

• Quando trabalhamos com o Planejamento Composicional a partir da ótica da Filosofia da Otimização, partimos de uma perspectiva macro-estrutural das possibilidades de combinação das estruturas musicais parametrizadas. Assim, através da aplicação de recursos formais, pode-se construir uma diversidade de combinações das estruturas parametrizadas que vai além da capacidade intuitiva do compositor de vislumbrar os recursos iniciais de suas escolhas musicais.

• Com relação à Filosofia da Adaptação, onde “o principal valor do planejamento não

está nos planos produzidos, mas no processo de produzi-los” (Acroff, 1934, p.34), a

proposta do planejamento deixa uma infinidade de possibilidades de escolhas, partindo de quais estruturas musicais serão priorizadas pelo compositor, até como serão utilizadas, enfatizando as vantagens do processo de parametrização. No caso adaptativo,

apresentamos no Capítulo 3, a discussão do conceito de Auto-organização e da interação dinâmica entre estrutura e processo criativo musical.

Três conceitos básicos e preliminares estão presentes em quaisquer abordagens sobre características genéricas do ato de planejar: a unidade, a previsão e a projeção.

“O princípio da unidade emana da própria essência de um plano, isto é, que suas partes estejam integradas no conjunto. O requisito unidade é essencial pois à medida que não se cumpre esse requisito, anula-se o planejamento.” (Paiva, 1999, p. 28)

O princípio da previsão corresponde ao esforço para verificar quais serão os eventos que poderão ocorrer, com base no registro de uma série de probabilidades; O princípio da projeção corresponde à situação em que o futuro tende a ser igual ao passado, em sua estrutura básica.” (Oliveira, 1998, p.21)

A unidade no Planejamento Composicional Parametrizado é alcançada com a utilização limitada de parâmetros que possuem características comuns. Assim, como veremos na subseção 1.5.2 (p. 62), adotamos no PPAA somente conjuntos de classes de alturas2 relacionados entre si. A previsão ocorre com a organização temporal dos elementos constituintes que, como veremos na realização musical, passam a determinar características estruturais. A projeção pode se referir às estratégias composicionais formuladas a partir de recursos técnicos como a micropolifonia , contínuos sonoros, pontilhismo, dentre outros. Neste caso, associamos o encadeamento das estruturas musicais à projeção que o compositor faz ao construir um Gesto Composicional como apresentado no Capítulo 5.

O planejamento baseia-se também em uma visão de conjunto que abrange e reúne fatores distintos pertinentes, que podem ou não estar retro-alimentando o próprio planejamento. Desta forma, o planejamento é um sistema dinâmico que é flexível, racional e mutável sempre que recomendado pelas avaliações (retro-alimentação) permanentes em todas as fases do processo. Desta forma, a introdução da avaliação no decorrer do processo, bem como o uso de mecanismos de re-direcionamento, são fatores orgânicos do planejamento e, sem dúvida, estão presentes quando o mesmo é aplicado à composição musical.

Tonar-se fundamental, a seguir, apresentar o referencial teórico que inspirou a referida proposta de Planejamento Composicional ressaltando os elementos oriundos de Morris (1987) e as novas estratégias desenvolvidas na pesquisa aqui reportada. .

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