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A Portaria 971 de 3 Maio de 2006 Política Nacional de Práticas Integrativas e Complmentares Percurso Histórico

Nas últimas décadas, o interesse da população mundial por Práticas Não-Convencionais em Saúde vem aumentando consideravelmente. Essas práticas dirigem a atenção para o doente e não, apenas, para a doença, adotam a concepção de preservar e ampliar a saúde, aplicando conhecimentos, experiências tradicionais e usando métodos e técnicas que estimulam os mecanismos naturais de cura do organismo. Esse fenômeno estimulou os órgãos gestores da saúde mundial – como a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a OMS/WHO World Health Organization – de diversos países, à implementação e ao desenvolvimento de medidas que visem corresponder aos anseios da sociedade nessa área (Pagliaro & Luz 2001; Teixeira 2005).

Atendendo à sociedade civil, o Ministro Humberto da Costa deliberou a formação de um grupo de trabalho, sob a coordenação da Secretaria-Executiva e

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da Secretaria de Atenção à Saúde, constituído por um grupo coordenador e quatro subgrupos específicos que inicialmente focaram a homeopatia, Acupuntura, Fitoterapia e Medicina Antroposófica (Brasil, 2003).

Em relação à Homeopatia, foco deste trabalho, como aspecto relevante, destaca-se o Primeiro Fórum Nacional de homeopatia realizado pelo Ministério da Saúde, evento que representou o reconhecimento do potencial da homeopatia na construção de um SUS em consonância com as necessidades e os anseios da população, em busca da integralidade da atenção e da humanização das ações de saúde. Os resultados deste fórum consistiram na elaboração e aprovação de cinco relatórios abrangendo: organização da atenção, assistência farmacêutica homeopática, formação e educação permanente, informação e educação popular e pesquisa em homeopatia (Brasil, 2004).

Em fevereiro de 2005, foi aprovada na Comissão Intergestora Tripartite a Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares (PNMNPC), em que a comissão esteve diretamente relacionada à continuidade do processo de implantação no SUS, seguindo todas as etapas de revisão. Em fevereiro de 2006, foi aprovado o documento final da política com as respectivas alterações, por unanimidade pelo Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2005).

Em três de maio de 2006, entrou em vigor a Portaria 971, cujo conteúdo refere-se à aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, composta pelas práticas terapêuticas da Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia, Termalismo Social - Crenoterapia; Medicina Antroposófica (Brasil, 2006f).

2.6.1 A Homeopatia no Contexto das PICS

A Homeopatia, inserida no campo das PICS, é considerada um sistema médico complexo, que possui teorias próprias sobre o processo saúde/doença, diagnóstico e terapêutica (Luz, 2003), e, portanto, diferencia-se da medicina ocidental contemporânea (Biomedicina) em seu sistema diagnóstico e de

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intervenção terapêutica, que opera segundo concepções próprias sobre a morfologia humana, dinâmica vital e doutrina médica (Salles & Schraiber, 2009).

Nela,o profissional de saúde utiliza como recurso diagnóstico a Matéria Médica e o Repertório, e como recurso terapêutico o Medicamento Homeopático (Brasil, 2006c).

Por definição, a Matéria Médica homeopática é a organização e reunião dos dados resultantes da observação da ação dos medicamentos, visando à aplicação da lei da semelhança, instrumento utilizado pelo homeopata no estudo dos medicamentos e complementar ao uso do Repertório; já o Repertório homeopático é o índice de sintomas coletados a partir de registros toxicológicos, experimentações em indivíduos sãos e curas na prática clínica; esses instrumentos se complementam como operadores na escolha do melhor medicamento a ser indicado a cada caso (Brasil, 2006c).

Dessa forma, o clínico homeopata considera durante o processo de anamnese o contato profundo com o paciente, abordando as modalidades (agravação por. melhora, por lateralidade predominante); sintomas do sistema nervoso (psiquismo, sensibilidade geral, sono); sintomas (cabeça, olhos, ouvidos, aparelho digestório, aparelho circulatório, aparelho urinário, aparelho genital, dorso e extremidades e pele). Esse processo inicial da terapêutica é muito importante, visto que, posteriormente, o clínico repertorizará o medicamento mais indicado e as doses adequadas, que constituem a etapa do diagnóstico (Vannier & Poirier, 1987).

2.6.2 Adesão dos Profissionais de Saúde e Conselhos de Classe às PICS

Gradativamente, os diversos conselhos de classe vêm reconhecendo e regulamentando o uso das Práticas Integrativas e Complementares (PIC).

No campo da medicina, em 1979, foi fundada a Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) e, em 1980, a homeopatia foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), resolução nº 1000 (Conselho Federal de Medicina – CFM, 1980). Em 1988, a Associação

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Médica Homeopática Brasileira ganhou assento no Conselho de Especialidades da AMB, instituindo-se a prova de Título de Especialista em Homeopatia pelo convênio CFM - AMB - AMHB a partir de 1990 (Ribeiro, 2005).

A Resolução do CFM nº 1785/2006 englobou a acupuntura como especialidade médica, sendo também instituída prova de Título de Especialista pelo convênio CFM-AMB e Colégio Médico de Acupuntura (CFM, 2006).

Com relação à fitoterapia, pode-se dizer que não é uma especialidade restrita ao profissional médico e não é citada na Resolução do CFM nº 1785/2006 (CFM, 2006).

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), através do Parecer Normativo nº 004/95, reconheceu que as terapias alternativas (Acupuntura, Iridologia, Fitoterapia, Reflexologia, Quiropraxia, Massoterapia, entre outras) são práticas oriundas, em sua maioria, de culturas orientais, não estando vinculadas a qualquer categoria profissional (Cofen, 1997).

Assim, a Resolução197/97 do Cofen, estabelece e reconhece as terapias alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissional de enfermagem, desde que este tenha concluído e sido aprovado em curso reconhecido por instituição de ensino ou entidade congênere, com uma carga horária mínima de 360 horas (Ceolin et al. 2009; Paranaguá & Bezerra, 2008).

No campo da Odontologia, o plenário do Conselho Federal de Odontologia aprovou em 2008 a versão final do texto normativo que regulamenta, dentro da profissão, as práticas “Complementares e Integrativas” de Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia, Florais, Hipnose e Laserterapia (CFO, 2008). A utilização dessas práticas tem sido preconizada em Odontologia por vários pesquisadores (Johnson, 1998; Rosted, 1998; Little, 2004), porém, praticamente inexistem estudos nacionais avaliando como os profissionais da área que trabalham em serviços públicos, fazem uso das mesmas.

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