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perfIL: Capital do Rio Grande do Sul. Com área de quase 500 km2, possui uma paisagem diversificada, com morros, baixadas e um grande estuário (Guaíba). Sua população é de aproximadamente 1,4 milhão de habitantes.

A

capital gaúcha aderiu ao programa Cidade Amiga da Amazônia a partir de esforços do Greenpeace, em 2006, que buscavam a adesão dos municípios do estado do Rio Grande do Sul, dentre eles Santa Maria, Ca- choeirinha, São Leopoldo, Rio Grande e Porto Alegre.

A aproximação com o município foi capitaneada por uma volun- tária do Greenpeace que escolheu a ONG local Amigos da Terra para formalizar um compromisso com o programa, sendo esse o primeiro passo rumo a parcerias com entidades locais. No entanto, a assinatura foi meramente simbólica, já que a ONG não deu continuidade à iniciativa na época, o que denotou a necessidade de estruturação do projeto de forma mais consistente.

Parque Farroupilha, conhecido como Redenção, em Porto Alegre.

ricardo st ric her , prefeitura de por to ale gre

Isso significava que era preciso, antes da articulação com entidades da sociedade civil, um alinhamento mais profundo com o poder público para se prever a elaboração de leis que conferissem eficácia real para a iniciati- va. A partir de então, o Greenpeace iniciou as conversas com as secretarias municipais, dentre as quais as de Habitação, Obras e Planejamento, visando à adesão da prefeitura de Porto Alegre ao programa. Aliado ao movimento propulsor do Greenpeace, o envolvimento dessas secretarias-chave foi fun- damental para que o programa pudesse ser implementado no município.

Assim, em março de 2006, o então prefeito José Fogaça assinou o Termo de Compromisso pelo Futuro da Floresta, com o Greenpeace, aderin- do ao programa Cidade Amiga da Amazônia. Apesar da assinatura ter ocor- rido de forma tranquila, havia indiretamente uma pressão do Greenpeace que direcionara seu navio para o rio Guaíba a fim de promover manifesta- ções caso o prefeito não aparecesse. Ainda assim, a adesão do município ao programa não se deu apenas no papel, pelo contrário, foi bastante ativa e se iniciou logo após a formalização do compromisso.

O primeiro passo foi a formação de um grupo técnico de trabalho, que contou com a presença das secretarias municipais previamente abor- dadas e do Ibama, sendo Porto Alegre o único município onde se verificou a participação efetiva do Ibama no programa. O grupo trabalhou na ela- boração do Decreto nº 15.699, de 2007, que passou regulamentar as com- pras e contratações públicas de produtos e subprodutos madeireiros. Logo após, o grupo se desfez, mas os procedimentos foram internalizados pelos sistemas de gestão do município.

É importante ressaltar que houve envolvimento da Secretaria da Fa- zenda mesmo antes da implementação do decreto, já que, em dezembro de 2006, os critérios socioambientais foram inseridos nos editais de com- pras da secretaria. Segundo Urbano Schmitt (secretário da Fazenda à épo- ca), essa tendência se solidificou em 2007, pois todas as licitações públi- cas passaram a obedecer às normas estabelecidas no Decreto nº 15.699, tendo em vista a centralidade das compras pelo poder público e o controle realizado sobre elas a partir da avaliação da qualidade e não somente do preço e da quantidade.

Após a dissolução do grupo de trabalho, formou-se um pequeno gru- po para acompanhar a primeira obra a ser executada com madeira de acor-

do com os critérios estabelecidos pelo decreto, que consistiu na constru- ção de uma escola pública. A execução da obra mostrou, na prática, que era possível construir empreendimentos públicos exigindo da construtora a comprovação da origem legal da madeira. Hoje, segundo informações da prefeitura, todas as licitações públicas obedecem aos critérios estabe- lecidos no decreto, sendo a qualidade da compra um aspecto importante e controlado, não se atendo somente a critérios de preço e quantidade.

Com isso, o caso de Porto Alegre demonstra que a implementação do programa Cidade Amiga da Amazônia só foi possível pela conjuga- ção de fatores como: (i) a predisposição do município em trabalhar os desafios envolvendo o consumo da madeira amazônica; (ii) a influência da cultura ambientalista, característica da região, por meio de organi- zações e movimentos sociais de proteção ao meio ambiente; e (iii) o comprometimento e vontade política do secretário de Meio Ambiente à época, Beto Moesch, e das secretarias municipais que se dispuseram a encampar e implementar as proposições do programa. Atualmente, o programa Porto Alegre Amiga da Amazônia faz parte do programa municipal Cidade Integrada.

Entretanto, a ausência de uma lei que institucionalize os termos do decreto no 15.699 de forma mais permanente ainda é um desafio impor- tante para o município, bem como o engajamento dos servidores e a disse- minação da causa para além das áreas públicas.

Obras na Escola Municipal Paulino Azurenha em Porto Alegre.

samuel ma ciel , prefeitura de por to ale gre

“Diferentemente da aquisição de papel reciclado (um exemplo de caso que não enfrentou grandes entraves), alterar procedimentos para consumo da madeira encontrou resistências dentro da prefeitura. Isso decorreu do fato do consumo de madeira provocar maiores movimentações estruturais e burocráticas da prefeitura, além de haver preocupação do poder executivo com os impactos dessa ação no mercado e junto à sociedade civil.”

Beto Moesch

Ex-secretário municipal de Meio Ambiente e atual vereador de Porto Alegre

“O maior desafio do programa hoje é atingir a sociedade, por meio da disseminação dos aprendizados e conquistas, a fim de gerar um movimento orgânico de adesão à causa e incorporação de novas práticas. O poder público já dá um bom exemplo e agora deve pressionar o mercado para que também desempenhe o seu.”

professor GArcIA

Secretário municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre, em exercício em 2010

“Para garantir a qualidade do programa é importante: evoluir o decreto para uma lei; assegurar a participação de servidores públicos efetivos; haver vontade política; expor os benefícios da regulamentação do mercado, já que fomenta uma concorrência legal; e conscientizar a sociedade sobre a importância do consumo responsável da madeira amazônica, que pode impactar positivamente a conservação florestal, ajudando a manter a floresta em pé.”

roGérIo rost

Coordenador do extinto grupo técnico de trabalho de Porto Alegre no programa Cidade Amiga da Amazônia

Desafios

Avenida 23 de maio, em São Paulo.