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Porto indústrias e serviços: território logístico em expansão

SUMÁRIO

POR EIXOS TEMÁTICOS

3.1 Porto indústrias e serviços: território logístico em expansão

O eixo temático porto - indústrias e serviços analisa o processo de expansão do território em estudo, como polo logístico de apoio e demanda à atividade portuária local. Como os demais temas elencados para discussão, esta questão consiste em importante desdobramento do porto na dinâmica territorial local, a partir da implantação de uma gama de serviços logísticos e de atividades de indústria, entre

176 outros setores econômicos correlatos ao uso portuário, que alteram permanentemente, com acréscimos e substituições, o território e a paisagem da área de estudo.

Em geral, neste item demonstra-se a fase de regionalização do porto na Grande Vitória, pautada em um desenvolvimento portuário que se estende em diversas escalas, para todos os municípios da região, os quais se envolvem de forma direta ou indireta, no funcionamento do sistema portuário local.

Conforme visto no capítulo 1, para Notteboom e Rodriguez (2005) a regionalização corresponde à fase contemporânea da evolução do porto, a partir de desenvolvimento portuário em uma escala geográfica maior, para além do perímetro do porto (NOTTEBOOM; RODRIGUEZ, 2005). Neste estágio, o porto caracteriza-se por interdependência funcional, desenvolvimento de cargas específicas e dependência de plataformas logísticas multimodais no interior do território, que levam à formação de uma "rede regional de centro de carga". Como será visto empiricamente na área de estudo, todo o território fica articulado ao setor portuário. Na perspectiva empírica deste estudo, o desenvolvimento portuário associado às atividades industriais caracteriza o atual perfil econômico da Grande Vitória, no sentido que as etapas do processo produtivo (produção, circulação e consumo) articulam no âmbito econômico os municípios em questão (MENDONÇA et al., 2012). Por essa dinâmica, entende-se que a complementaridade econômica entre os municípios da Grande Vitória pode ocorrer, sobretudo, em função do desenvolvimento portuário. Em síntese, a atividade portuária inicia-se em Vitória e desdobra-se, posteriormente, para municípios vizinhos, integrando-os em níveis diferenciados no sistema produtivo portuário. Molda-se com isso, o referido território logístico, resultado do processo de regionalização do porto, cujos impactos de ordem urbana e metropolitana, se estendem dominantemente para além da frente marítima das cidades.

A articulação produtiva da atividade portuária no território se elucida mediante visão crítica de Santos (2008). Para o autor, embora as etapas do processo produtivo de uma região aparentam-se desagregadas, elas não estão desarticuladas, de modo que “[...] a região e o lugar são lugares funcionais do todo” (SANTOS, 2008, p. 92). Em acordo com Campos (2004), ao longo do tempo, as infraestruturas portuárias e de comércio e serviços de apoio ao setor portuário instituem e expandem para o

177 interior o território econômico dos portos marítimos, e junto às redes de transportes

terrestres, conformam nova territorialidade denominada arco metropolitano30 (Figura

106). Para autora, em extensa citação,

[...] a implantação dos Portos Secos (antigas Estações Aduaneiras de Interior – EADI), dos Terminais Retroportuários Alfandegados (TRA), e dos condomínios de logística integrada (por exemplo, o TIMS), configura e concentra a maior parte do território econômico dos portos marítimos no interior da malha urbana. São grandes áreas operacionais de agenciamento de polos de comércio e serviços retroportuários, regidos sob a ótica da gestão empresarial de otimização da logística e armazenagem de apoio ao comércio exterior, e da não catalisação das relações sociais locais. Identifica-se, assim, nova territorialidade interurbana, denominada arco

metropolitano. Situado entre os portos marítimos e secos da Grande Vitória,

o arco metropolitano é caso exemplar de configuração territorial decorrente das transformações dos dispositivos industriais e logísticos vinculados à lógica econômica das exportações e articulações das grandes empresas multinacionais. Apresenta ocupação urbana descontínua e fragmentada no território local, atravessa as cidades de Vila Velha, Cariacica, Serra e Vitória, delimita um circuito/corredor de ligação rodoferroviária entre os portos secos e marítimos da região metropolitana da Grande Vitória. Caracteriza-se, sobretudo, como territorialidade local a serviço da macroescala global do comércio internacional. Não institui redes de catalisação social local, e, sim, territorialidades intermitentes de exclusão e de enclave econômico. [...] um arco de desenvolvimento, estruturado pela dinâmica de intermodalidade da infra-estrutura de transportes integrada à logística e à tecnologia de informação avançada. Funciona como polo de incentivo a ilhas de consenso ou arquipélagos, caracterizadas como territorialidades locais de alcance global [...] os sistemas e fluxos globais engendram a lógica produtiva do arco metropolitano, pautada, sobretudo, na desintegração do território local, no incremento da rede infraestrutural, na transformação da distância geográfica pela diminuição econômica e na sinergia corporativa empresarial quanto aos investimentos em áreas especializadas (do global ao local e vice-versa) (CAMPOS, 2004, p. 138- 139).

30 O aprimoramento do conceito arco metropolitano “[...] se deve ao contexto da pesquisa ‘MG-ES: Um Sistema Infraestrutural’, na ocasião do Workshop ‘MG-ES: Um Sistema Infraestrutural’, realizado na UFMG: Belo Horizonte (MG) e UFES: Vitória (ES), em abril de 2004. Projeto de Intercâmbio Interinstitucional entre as Faculdades de Arquitetura da UFES e UFMG, Arte/Cidade e IaaC(Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha/ Espanha), [...]”, no qual Campos (2004) participou da equipe de pesquisadores da UFES (CAMPOS, 2004, p. 213).

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Figura 106: Mapa de interface de áreas portuárias e retroportuárias junto às redes rodoferroviárias conformando o arco metropolitano (linha pontilhada) na Grande Vitória. Observar que algumas áreas retroportuárias (tracejado amarelo) localizam-se fora da delimitação proposta para o arco. Fonte: Elaborado pela autora junto a grupo de pesquisa do Nau-Ufes.

179 A ideia de conformação do arco metropolitano devido à concentração de atividades portuárias e retroportuárias, serviços logísticos e indústria em território situado entre os portos marítimos da região, com abrangência dos municípios de Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica, exemplifica o desenvolvimento portuário em escala regional, em outras palavras, o processo de regionalização do porto na Grande Vitória. Ainda na Figura 106, nota-se intensificação deste processo, visto a localização dispersa de atividades vinculadas ao comércio internacional, tal como os Redex, nas imediações da territorialidade proposta para o arco, confirmando a dispersão da territorialidade infraestrutural, a partir da expansão espacial de serviços logísticos como incremento ao desenvolvimento portuário local. Neste contexto, confirma-se

A alteração do conceito de porto, de simples interface física de deslocamento (embarque e desembarque de cargas e pessoas) para polo de atração de atividades econômicas por excelência multimodais, caracteriza atualmente o porto moderno como agente econômico, elo de cadeia logística e interface física (CAMPOS, 2004, p. 177).

Quanto às infraestruturas que conformam o arco metropolitano – vias, ferrovias e áreas logísticas - em concordância com Santos (2008) importa acentuar que apesar de se constituírem como elementos fixos, implicam em configuração espacial particular de uma área e não possuem autonomia de funcionamento. Na explanação do autor, “[...] o território é formado por frações funcionais diversas. Sua funcionalidade depende de demandas de vários níveis, desde o local até o mundial” (SANTOS, 2008, p. 96). Reafirma-se, portanto, que a formação do arco metropolitano e a dispersão de atividades logísticas pelo território, não são resultados somente de demandas locais, pelo contrário, valendo-se novamente de Santos (2008, p. 36), “[...] não se pode fazer uma interpretação válida dos sistemas locais na escala local”. Para Santos (2008), fatores de escala mundial respondem mais pelo surgimento dos subespaços produtivos que os fenômenos locais, tal como se processa com o setor portuário, cujas implicações no âmbito local, são decorrentes de dinâmicas externas.

Para formatar este subitem, além de observação in loco, em que se nota o incremento do território em estudo como área “infraestutural e logística”, resultado de atuante atividade portuária, adicionalmente, a pesquisa contempla a identificação das principais indústrias e serviços da Grande Vitória, relacionados ao setor portuário. Como metodologia de identificação e caracterização dessa problemática, recorre-se ao mapeamento temático do território. O mapeamento explora interfaces

180 entre as principais empresas (setores industrial e serviços) e as áreas das atividades portuárias e retroportuárias (Figura 107). De início, procede-se ao levantamento das empresas, utilizando publicação do IEL-ES - Instituto Euvaldo Lodi - de 2013, com listagem das 200 maiores empresas do Espírito Santo, por tipo de setor, receita e outros atributos. A partir da pré-seleção das empresas por meio de critérios de localização e tipos relacionados à atividade portuária, se obtém o resultado de quatro categorias para o setor de serviços - 1. importação e exportação, 2. logística, 3. gestão de portos e 4. transportes (cargas) - e todas as empresas do setor industrial, à exceção da indústria imobiliária31 (Quadro 5).

EMPRESAS SETOR SERVIÇOS - IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO