• Nenhum resultado encontrado

FRAGA, Luís Alves La Lys a batalha portuguesa [autor do livro] Aniceto e Gomes, Carlos Matos Afonso Portugal e a Grande Guerra (1914-1918) Lisboa : Editorial Diário

Capítulo 33.º E quando pelo Tempo adiante parecer se deve acrescentar ou diminuir alguns destes Capitu-

49. FRAGA, Luís Alves La Lys a batalha portuguesa [autor do livro] Aniceto e Gomes, Carlos Matos Afonso Portugal e a Grande Guerra (1914-1918) Lisboa : Editorial Diário

de Notícias, 2003.

50. A.H.M. Div-1-35-676-2. 51. A.H.M. Div -1-35-1412-2.

4. CONCLUSÕES

ntes de iniciarmos a apresentação das principais conclusões, importa referir que estas foram estruturadas tendo em conta as principais épocas em que de- correu o nosso estudo. Assim elaboraremos uma síntese dos principais aconte- cimentos e da missão e acção que os enfermeiros militares portugueses desenvolveram desde da Guerra da Restauração até ao fim da Grande Guerra.

Relativamente à Guerra da Restauração, muitas foram as campanhas que os soldados por- tugueses travaram nas fronteiras do Reino, sobretudo na fronteira da província do Alente- jo. Como consequência de qualquer campanha militar naquela época, o cenário de um campo de batalha era terrível, pois ficava pejado de mortos e com muitos feridos agoni- zando sem roupas e sem pertences. Para além das consequências directas de uma batalha, o soldado português também sofria com as condições de vida na fronteira, com as altas temperaturas no verão e com a escassez de água e víveres. A juntar a estas condições, os militares tinham ainda que realizar grandes marchas, o que agravava mais as suas condi- ções de vida.

Perante esta realidade, era inevitável que o exército português sofresse muitas baixas, adoeciam e morriam muitos soldados. Para tentar minorar o sofrimento destes soldados que adoeciam ou ficavam feridos, foram organizados hospitais para se proceder à sua hospitalização, os denominados Reais Hospitais Militares, de acordo com instrução do Rei D. João IV que proclamou no Regimento dos Ministros do Exército de 31 de Maio de haja Hospital e botica para os enfermos dos quais se hade ter mui cuidado dispondose pelo meu capitao-general a sua assistência, para o que de dará tudo o que for necessario, pois he justo que neste particular se proceda cm grande atenção e esta he a minha vontade (1 p. 6).

Mas como a situação clínica dos soldados não melhorava, D. João IV manda investigar o que efectivamente se passava e para o efeito nomeia o Conde da Torre e o Desembarga- dor Gregorio Valcacer de Moraes para visitarem as fronteiras do Alentejo e reformarem os Terços e oficiais. Para levar a cabo esta missão, o Rei, também por decreto de 18 de Março do mesmo ano deu regimento às suas instruções e determinou que houvesse en- fermeiros em número suficiente para prestar os cuidados necessários, bem como hospitais

portáteis para acudir aos soldados feridos no campo de batalha e que pudesse acompanhar o exército quando andava em campanha, e que ficaria situado junto do seu acampamento. Este hospital portátil era acompanhado por enfermeiros que aí prestavam os necessários cuidados aos soldados doentes ou feridos, o que os colocaria na primeira linha na presta- ção de cuidados de saúde. Em abono desta hipótese, que nos parece bastante inovadora para a época e que em nossa opinião terá sido mesmo concretizada, pois em carta de De- nis de Mello de Castro (2) de 30 de Maio de 1668, este pedia uma mercê ao Rei para os servido a Vossa Majestade desde o e-

recerão daquelle tempo a esta parte e nas marchas, os

religiosos da Ordem de S. João de Deus (que serviam como enfermeiros), senão para acompanharem o referido hospital portátil e aí prestarem cuidados como enfermeiros, sempre que tal fosse necessário? Para consubstanciar ainda esta nossa hipótese, temos que considerar ainda as imagens dos azulejos com cenas da Guerra da Restauração da Sala das Batalhas do Palácio do Marquês de Fronteira construído em 1640, para o primeiro Marquês de Fronteira, D. João de Mascarenhas, herói da Guerra da Restauração. Estes azulejos mostram um militar ferido a ser retirado do campo de batalha, o que nos leva a supor que este soldado deveria ter os primeiros cuidados na linha da frente.

A seguir à Guerra da Restauração e com a experiência adquirida, os enfermeiros da Or- dem de S. João de Deus começaram a preocupar-se com a formação e com os conheci- mentos que os enfermeiros teriam que possuir para poder cuidar dos seus enfermos. Na sequência desta preocupação, é publicado em 1741, o primeiro livro português desti- nado à formação dos enfermeiros. Esta obra da autoria do Padre Frei Diogo de Santiago, Postilla Religiosa, e Arte de En- . Este livro é escrito por Frei Diogo de Santiago que sem dúvida era professor de enfermeiros, e como provavelmente sentiu a necessidade de escrever esta obra, temos que colocar a hipótese de que teria havido formação para os enfermeiros militares e que esta era feita de uma forma organizada, nos conventos da Ordem de S. João de Deus. Simultaneamente com a reorganização do exército, D. João V iniciou a partir de 1707, a reorganização dos Reais Hospitais Militares com o Regulamento de 17 de Agosto de 1766 (3 p. 3) onde aparecem as instruções para uso nos Reais Hospitais Militares da Cor- te. Este regulamento militar é o mais antigo que encontramos e que não o vimos referido

por nenhum outro autor, (é referido como o mais antigo alvará, o de 7 de Agosto de 1797, designado por Regulamento Económico para os Hospitais Militares de Sua Majestade Fidelíssima em Tempo de Campanha).

O regulamento de 17 de Agosto de 1766, refere as ordens que se devem observar nos Hospitais Militares, elas abrangem os diversos profissionais que aí prestam serviço: o Almoxarife, o Escrivão, o Fiel, os Médicos, os Cirurgiões, o Boticário, o Sangrador, os Padres Enfermeiros, os Capelães dos Regimentos, os ajudantes dos Enfermeiros, o Cozi- nheiro e seu ajudante, o Moço das compras.

O regulamento de 17 de Agosto de 1766 tem a preocupação de fazer referência às atribui- ções de cada uma das profissões e, neste sentido e relativamente aos enfermeiros desta- camos, que tinham que ter cuidados relativos à higiene dos seus doentes e da sua enfer- maria, tinham que ter redobrada atenção à alimentação dos seus enfermos e estarem pre- sentes, conjuntamente com o boticário, na administração dos remédios prescritos. Durante a noite também era necessário que houvesse vigilância nas enfermarias, assim para aque- nomeará todas as noites um enfermeiro; para fica- rem a seu cargo todas as enfermarias, e este examinará, se os servos, que ficam destina- dos para a vela daquela noite, fazem a sua obrigação (3 p. 16), e o enfermeiro que for nomeado pa terá para o seu descanso livre o dia sucessivo (3 p. 16). D. João em nome da Rainha D. Maria I assina em 7 de Agosto de 1797, um alvará a que se chamou Regulamento Económico para os Hospitais Militares de Sua Majestade Fide- líssima em Tempo de Campanha. Este regulamento tinha como finalidade regular as obri- gações e as responsabilidades dos indivíduos nele empregados e também fixar as regras para a polícia, administração e economia dos hospitais em benefício do pronto-socorro dos doentes.

O Regulamento Económico para os Hospitais Militares de Sua Majestade Fidelíssima em tempo de Campanha e no que diz respeito aos enfermeiros, refere-nos que todos indepen- dentemente da sua graduação, estarão às ordens do Fí conformarão em tudo quanto lhes for determinado, relativamente ao serviço dos doentes pelos Inspecto-

res, primeiros Cirurgiões, e Almoxarifes 210 Relativamente à gestão dos enfermeiros, ela

210

Cf. art.º I do título XIV do alvará de 7 de Agosto de 1797 - Regulamento económico para os Hospitais Militares de Sua Majestade Fidelíssima em tempo de Campanha

é feita pelo Enfermeiro Mor, ficando todos os enfermeiros subordinados a ele e que ficará responsável pelo seu serviço. Nesta conformidade, o Enfermeiro Mor distribuirá os en- fermeiros pelas enfermarias tendo em conta o número de doentes e a gravidade das suas doenças, determinará também o número de enfermeiros que ficarão de vela, mas este nú- mero terá por base o rácio de um enfermeiro para cada doze doentes, não incluindo o En- fermeiro Mor, referindo-se este rácio aos hospitais fixos. Nos hospitais volantes o número de enfermeiros será determinado pelo Físico Mor ou pelo Inspector e pelo primeiro Ci- rurgião do Hospital segundo as necessidades calculadas sobre o número de doentes que entram. Se os enfermeiros desempenharem eficazmente a missão e as obrigações de que estão incumbidos, e de acordo com este regulamento, poderão receber uma gratificação

pecuniária 211, que será paga pelos Almoxarifes no momento dos pagamentos ordinários.

Nestes finais do século XVIII e início do século XIX, o exército português encontrava-se na mais desastrosa situação, faltavam-nos efectivos, a indisciplina singrava e relativamen- te ao material de guerra a insuficiência também era enorme, portanto Portugal nestas con- dições não seria capaz de garantir a independência nacional. A juntar a estes factos e fruto das guerras napoleónicas, os conceitos tradicionais de defesa tinham sido alterados por toda a Europa. Portugal verificou que seria necessário proceder a uma profunda reestrutu- ração dos conceitos de defesa nacional e consequentemente da sua aplicação no terreno. Apesar desta situação, o príncipe D. João que assumira a regência por decreto de 15 de aliviar o Estado das extraordi- nárias despesas a que tem sido obrigado (4 p. 50) e deste modo o país irá sofrer as con- sequências da referida poupança, logo em 1801 com o que se denominou Guerra das La- ranjas.

Esta guerra que começou em 20 de Maio de 1801, foi um prelúdio das Invasões France- sas. Foi a partir desta data que os portugueses começaram a preparar-se para a guerra, com a criação de novos regimentos de artilharia, de infantaria e de cavalaria, mas o país encontrava-se em grandes dificuldades financeiras, o que provocou uma forte redução dos redução efectuada por pressão francesa, exercida sobre António de Araújo de Azevedo212 (5 p. 76). Esta redução levou a que fosse decretada a redução

211

Ibidem art.º IX

212

António de Araújo de Azevedo, mais tarde conde de Barca, foi nomeado Secretário dos Negócios Estran- geiros e da Guerra, cargo no qual se manteve até 1807.

das praças do reino em tempo de paz, e por consequência os seus governadores e estados- maiores. Pela mesma ordem de ideias, podemos verificar que o regulamento de mil sete- centos e noventa e sete se aplicava somente aos hospitais de campanha, e assim manda o Príncipe Regente através do seu ministro e Secretário dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, António de Araújo de Azevedo que se publicasse um novo regulamento que ser- visse tanto em tempo de paz, como de guerra, de tal modo que os hospitais permanentes se pudessem organizar rapidamente em hospitais fixos e em hospitais ambulantes para o serviço de campanha. Este regulamento para os Hospitais Militares de Sua Alteza Real O Príncipe Regente Nosso Senhor, tanto em tempo de Paz como em tempo de Guerra, foi publicado em 27 de Março de 1805 ficando derrogado o regulamento anterior.

De acordo com este novo regulamento, os hospitais militares podem ser permanentes ou interinos, os hospitais permanentes, são aqueles que existem nas praças militares e os Quartéis-generais das Divi-

sões Militares, como nas cidades, e lugares próximos do exército 213. Estes dividem-se

em hospitais fixos e em hospitais ambulantes. Os hospitais fixos ficavam situados na pri- meira, segunda e terceira linhas do exército, enquanto que os hospitais ambulantes, seri- am usados apenas para ministrar os primeiros socorros e seguiam as divisões militares a que pertenciam. Este regulamento refere que relativamente aos enfermeiros, os hospitais organizados de tal modo em tempo de Paz, que em tempo de Guerra haja um suficiente número de Enfermeiros Mores, de Ajudantes de Cirurgia, e de Enfer- meiros Ordinários, e Supranumerários hábeis, e versados no importante serviço dos Hospitais Militares; tendo mostrado a experiência, que os Ajudantes dos Cirurgiões Mo- res tais quais eles são, de nada servem em tempo de Paz, e muito menos em tempo de Guerra; devendo em fim os Hospitais Militares ser de hoje para o futuro, verdadeiras Escolas de Medicina Operatória, nas quais se instruam os Oficiais Menores de saúde, para que deste modo possam ser úteis a si, e ao Real Serviço; por isso todos os Enfermei- ros Mores, Ajudantes de Cirurgia, de que se já falou, os Enfermeiros Ordinários, e Su- pranumerários serão tirados dos Ajudantes dos Cirurgiões, que pertencem aos diferentes

Regimentos aquartelados nos Sítios, e praças onde houver Hospital Militar214. Podemos

verificar pelo conteúdo deste artigo, que à face deste regulamento, havia alguma forma-

213

cf. art.º IV, do título I, da secção primeira, do regulamento de 27 de Março de 1805

214

Documentos relacionados