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POSIÇÃO DOS SINDICATOS E ASSOCIAÇÕES E A OPINIÃO PÚBLICA

Entre os principais pontos criticados nos IUFMs desde a sua criação, estava a tentativa de unificação da formação de professores primários e secundários, como vimos anteriormente. O relatório sobre a implantação dos IUFMs, elaborado pelos inspetores gerais Borne e Laurent, concluía, em 1990, que os professores, na sua maioria, não viam sua atividade como um ofício que se possa aprender, mas acreditavam que o seuconhecimento e personalidade eram suficientes. Os professores primários exerceriam uma espécie de artesanato, aprendido quando freqüentaram eles próprios a escola; já os professores secundários exerceriam uma atividade liberal, sendo sua autoridade natural de mestre assegurada pelo seu saber e seu talento. A reivindicação de um corpo único de professores é apontada pelo relatório como uma "constante quase mística da esquerda (política) e de certos sindicatos" (ROBERT, 2000: 102). Esse relatório distinguia a oposição existente entre a maioria dos membros da FEN e do SGEN, favoráveis aos IUFMs, e os

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membros do SNES, do SNALC e da Sociedade dos Agregés71

, contrários à reforma da formação de professores.

Desde o início se levantaram as denúncias contra a suposta "primarização" da formação dos professores secundários, cujo foco principal de crítica estava centrado nos saberes não- disciplinares, como a psicopedagogia e a pedagogia geral ou didática geral, oposta à didática disciplinar, e tidas como pseudo-disciplinas vazias de conteúdo e validade científica. Uma pesquisa local indicava que a psicosociologia do grupo de classe e a psicologia genética de Piaget eram levadas em consideração pelos professores nas reflexões sobre o comportamento e as atitudes dos alunos.

Entretanto, Robert (2000) afirma que, ao contrário do que se dizia, mesmo que enriquecida a formação dos professores secundários com os dispositivos sistematicamente experimentados em outros setores, foi antes a formação dos professores primários que se "secundarizou". Em 1995, uma outra pesquisa coordenada pela DEP indicava que os professores das escolas tinham a tendência de julgar a formação disciplinar (em francês, matemática, línguas, etc) mais útil que a formação geral (em psicologia, gestão de classe, técnicas de comunicação e expressão, por exemplo).

Porém, em 1992, a Associação de Professores de Filosofia - que agrupava cerca de 20% desses profissionais - ainda reclamava a supressão dos IUFMs, criticando a introdução de uma pretensa formação em Pedagogia "pura", em detrimento da didática das disciplinas, a única didática efetivamente possível de existir, pois cada disciplina pressupõe sua metodologia específica de ensino.

Para a Academia de Ciências, havia dois problemas na criação dos IUFMs: a demora ou falta de definições jurídicas, que havia permitido aos diversos grupos de pressão ideológicos ou corporativistas de mobilizar sua rede de influências, tentando desviar o projeto, influenciando na sua configuração, e o fato de que , raramente, foi feito o trabalho essencial de levantamento dos recursos humanos e materiais existentes, para medir o potencial do qual se dispunha, ouvindo aos envolvidos, a fim de que estes se sentissem reconhecidos na sua identidade e para que, assim, fosse possível construir novas identidades. Dessa forma, ouve um afrontamento entre culturas, entre os antigos atores da formação de professores e as novas funcionalidades criadas com os IUFMs.

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A transição do governo de esquerda para um governo de direita, em 1993, fez emergir uma campanha de supressão dos IUFMs. O secretário nacional do Ensino Superior, M. Pecheul (professor agregé), pertencente ao partido vencedor na eleições legislativas (o RPR72

) indicava que o processo de implantação dos IUFMs e sua lógica deveriam ser suprimidos. Fazendo eco a esse discurso, a Sociedade dos Agregés relembrava no jornal de circulação nacional, “Le Figaro” , que a maioria havia se engajado em favor de suprimir os IUFMs e deveria cumprir sua promessa (ROBERT, 2000: 109).

Mundando sua intenção inicial de suprimir os IUFMs, o Ministro do Ensino Superior, François Fillon, do RPR, decidiu modificá-los ao invés de suprimi-los. Entre as razões apontadas pelo Ministro para sua decisão, estava o aumento do sucesso dos candidatos ao CAPES: 36% dos estudantes dos IUFMs passaram no concurso, contra 33% antes da criação dos institutos. Entre as medidas da reforma implementada por Fillon, a formação disciplinar passava a ser confiada inteiramente às universidades, as aulas expositivas sendo substituídas por grupos de trabalho, os formadores passando a alternar seu tempo de trabalho entre as funções universitárias e o trabalho nos IUFMs, e os estagiários tendo maior contato com os professores em exercício73

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A reforma encontrou oposição sindical do SE-FEN. O SNUipp-FSU também manifestou- se contra o que julgava ser "regressões inadimissíveis" para a formação dos professores primários. O SNE-Sup, FERC-CGT, SGEN-CFDT, UNEF-ID e UNEF manisfestaram-se contra a supressão da prova profissional e a tentativa de desestabilizar a instituição recém-criada. Já o SNES apresentou uma posição intermediária, aprovando a maior participação das universidades na formação dos professores, a implantação de estágios desde o início da formação e a evolução da prova profissional do CAPES. Os profissionais dos próprios IUFMs e certos júris de concurso criticaram a desestabilização dos candidatos ao CAPES, provocada pela reforma implementada em pleno período de concurso. Na imprensa, as críticas também se centraram na supressão da prova profissional do CAPES (ROBERT, 2000).

Os Ministros do Ensino Superior e da Educação decidiram, superando divergências iniciais, reforçar o potencial e a qualidade da formação dos IUFMs e atenuaram as medidas

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RPR (Rassemblement pour la République): partido gaulista de direita (inspirado no ex-presidente francês Charles De Gaulle), ao qual pertence o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy. Equivalente francês do Partido Conservador Britânico, foi criado sob a impulsão de Jacques Chirac e substituído pela UMP (Union pour um

Mouvement Populaire), durante as eleições legislativas de 2002. 73

reformadoras. A prova profissional do CAPES, cuja opção 1 se baseava nas observações em classe, feitas pelos estagiários, foi substituída por uma análise de dossiê, que comportava uma exposição e uma entrevista; foi proposta uma licence pluridisciplinar para os professores de 1o Grau, além de se reforçarem os estágios ditos "de sensibilização", visando a uma melhor acolhida e introdução dos estudantes à vida das escolas.

Entretanto, em junho de 1994, a Sociedade dos Agregés continuava a reivindicar uma avaliação pública e exaustiva dos IUFMs e sua eventual supressão, sob a alegação de que a reforma não fora além de melhorias precárias e, por vezes, locais, longe da reforma necessária (ROBERT, 2000).

Em dezembro de 1995, um novo relatório foi publicado por L. Galloin, qualificando o balanço de 4 anos de IUFM como positivo. Segundo o relatório, os IUFMs deveriam formar melhor, mas já formavam mais: de 60.000 candidatos em 1991, havia subido para cerca de 200.000 candidatos apresentados em 1995 (ROBERT, 2000:116).

4 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DOS