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Posição Original: Noções Gerais

3. A POSIÇÃO ORIGINAL APORTE NA JUSTIFICAÇÃO COERENTISTA

3.1. Posição Original: Noções Gerais

Argumentar em torno de como ocorre e qual tipo de justificabilidade dos princípios de justiça na teoria rawlsiana significa, preferencialmente, envolver e explanar, em ampla medida, o procedimento da posição original relacionado ao equilíbrio reflexivo. Saber se tal artifício contribui para a teoria rawlsiana ter uma justificação do tipo coerentista ou fundacionista está diretamente arrolado à compreensão de que tipo de justificabilidade envolve a justiça como equidade. Portanto, a partir da conexão entre posição original e equilíbrio reflexivo, outros elementos conceituais, presentes na teoria da justiça como equidade, serão envolvidos como um recurso, a título de aportes, para apontar a justificação coerentista na teoria da justiça como equidade.

Mas qual seria, em ampla medida, a conexão entre equilíbrio reflexivo e posição original? A título de resposta, aqui cumpre salientar que o método do equilíbrio reflexivo é um artifício que objetiva a justificação relacionada entre os juízos e os princípios morais no interior da posição original. Ele é um procedimento público de justificação que impõe a condição de publicidade às partes em posição original, porquanto:

Rawls admite ser este (a posição original) um conceito extremamente idealizado. Por isto mesmo, recorre à idéia do equilíbrio reflexivo a fim de calibrar a cultura política, o ethos social e o modus vivendi de uma sociedade concreta com esse ideal normativo, que inclusive modela também a concepção de pessoa moral. 34

Nessa perspectiva, o recurso que Rawls faz da posição original é um procedimento de deliberação, em que as partes envolvidas são representadas como pessoas morais. Assim, a posição original é um recurso heurístico para que as questões de justiça sejam pensadas. Sobre as razões de tal artifício, Rawls afirma que:

Partimos da linha organizadora de sociedade como um sistema equitativo de cooperação entre pessoas livres e iguais. Surge de imediato a questão de como determinar os termos equitativos de cooperação. (. . . ) eles são estabelecidos por meio de um acordo entre cidadãos livres e iguais unidos pela cooperação, à luz do que eles considerem ser suas vantagens recíprocas, ou seu bem? (. . . ) os termos equitativos de cooperação social provêm de um acordo celebrado por aqueles comprometidos com ela. 35

Conforme a citação acima, a posição original faz parte das condições de elegibilidade dos princípios de justiça, onde Rawls diferencia três aspectos para melhor compreensão desse procedimento, são eles:

(1) as partes na posição original;

(2) os cidadãos em uma sociedade bem-ordenada;

(3) os indivíduos com seus julgamentos considerados sobre a justiça. Nessa perspectiva se encontra o procedimento do equilíbrio reflexivo. Em outras palavras, um procedimento efetuado por indivíduos com o intuito de constatar se existe coerência entre os juízos considerados e os princípios da justiça como equidade.

No entanto, para saber de que modo a posição original contribui para a teoria rawlsiana ser considerada como se utilizando de uma justificação coerentista, não basta compreender que ela é um dos procedimentos que corroboram no processo da elaboração dos princípios de justiça. Portanto, com esse intuito, tem-se a necessidade de defini-la. Nessa perspectiva, cumpre afirmar o que a posição original significa, subjacente a isso, é necessário que questões sejam respondidas: quem escolhe? O que se escolhe? Com que motivação? E com que conhecimento? Qual a relação da posição original e do equilíbrio reflexivo?

Para responder à questão: ―quem escolhe? ‖, é conveniente afirmar que as partes que escolhem os princípios de justiça são indivíduos racionais, razoáveis, são pessoas singulares que têm sentimentos familiares e votam da mesma forma, porque são pessoas relativamente ignorantes.

Nesses termos, o que se escolhe na posição original é a estrutura básica da sociedade, isto é, as formas pelas quais as instituições sociais se articulam e como garantem direitos e deveres essenciais. Ela molda a divisão dos benefícios da cooperação social. As estruturas básicas que as partes em posição original devem escolher são os princípios. Eles são genéricos na forma, de aplicação universal, publicamente reconhecidos e justos.

Quanto à motivação, as partes nada sabem sobre os desejos que terão, elas escolherão uma estrutura básica baseada em desejos de bens primários que são certos direitos

e liberdades, oportunidades, poderes, rendimentos, riqueza e o auto-respeito. As partes, então, perseguem esses objetivos como algo que querem para si e para os outros, para isso elas seguem as regras habituais de racionalidade, ou seja, um conjunto de preferências no meio das opções que são oferecidas, onde nenhuma parte pode se deixar influenciar pela inveja no momento da escolha.

Nessa perspectiva, é conveniente mencionar que as partes em posição original não conhecem os fatos específicos que lhes dizem respeito. Elas só têm conhecimento em relação aos fatos gerais; estão sob um véu de ignorância, isto é, ignoram certos fatos particulares, embora conheçam aqueles aspectos que afetam a escolha dos princípios de justiça.

Quanto à conexão e justificação dos princípios de justiça, da posição original e do equilíbrio reflexivo, segundo Norman Daniels36:

(1) os princípios escolhidos na posição original são justificados, porque a posição original é um instrumento de justificação aceitável;

(2) a posição original é um instrumento de justificação aceitável, porque a teoria profunda relevante é aceitável;

(3) a teoria profunda é aceitável, porque ela estabelece uma melhor coerência com o resto das crenças em equilíbrio reflexivo amplo (wide).