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Como expomos no primeiro capítulo, os avanços tecnológicos, a ampliação dos conhecimentos técnico-científicos na área de saúde e a melhoria na assistência prestada nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIN) possibilitam, cada vez mais, a intervenção e a sobrevivência de crianças com condições adversas no nascimento. Dentro do conjunto de fatores de risco ao nascimento, destacam-se a prematuridade e o baixo peso pela sua prevalência em todo o mundo (Bhutta et al., 2002, Rugolo, 2005; Tideman, 2000). A literatura da área das ciências da saúde indica esses dois como fatores de grande perigo ao desenvolvimento neurológico, cognitivo, psicológico, sensorial e motor infantil, predispondo durante a infância a problemas e déficits como timidez, ansiedade, hiperatividade, baixa autoconfiança, menor vínculo social, fraca concentração, distúrbios perceptivos, verbais e da atenção e dificuldade de aprendizagem (Bordin, 2005; Chaudhari et al., 1991; Hack & Taylor, 2000; Hutton et al., 1997; Lewis et al., 1988; Linhares et al., 2000; Méio et al., 2003; Méio et al., 2004; Reichman, 2005; Rodrigues et al., 2006; Rose et al., 1992).

É importante lembrar ainda que o grau de severidade e complexidade da saúde do RNPBP se circunscreve, também, durante a evolução clínica hospitalar. Nesse sentido, ampliasse o foco no tratamento de morbidades e seqüelas incapacitantes pelos programas de Follow-up com a promoção da qualidade de vida e bem-estar no atendimento ao RN de alto risco após alta hospitalar. Desse modo, são importantes e imprescindíveis pesquisas para elaborar procedimentos de avaliação, de correlacionar os resultados com um possível prognóstico, de discutir questões e de encontrar respostas acerca do desenvolvimento de crianças com condições adversas no nascimento, quando se pensa no nível das políticas públicas de saúde. Consideramos, ainda, que uma avaliação psicológica precoce e preditiva pode auxiliar no diagnóstico e na prevenção de possíveis distúrbios e déficits cognitivos e

maturacionais (crescimento) da criança RNPBB, para se tentar alcançar o desenvolvimento dentro dos parâmetros normativos satisfatórios.

Estima-se que as crianças prematuras tenham maior probabilidade de apresentar disfunções específicas na aprendizagem, por isso necessitariam de educação especial em comparação a crianças que não apresentaram complicações no nascimento (Bhutta et al., 2002; D’Angio et al., 2002; Hack & Taylor, 2000; Nadeau et al., 2001; Rickards et al., 2001; Rodrigues et al., 2006). Com referência ao desempenho acadêmico, a Matemática, mais especificamente a Aritmética, mostrou-se a área mais prejudicada, à medida que o peso ao nascer diminui (Anderson & Doyle, 2003; Rodrigues et al., 2006; Rugolo, 2005; Nadeau et al., 2001).

As crianças nascem e convivem em um mundo em que o número se apresenta como forma de expressão e comunicação social. Os primeiros contatos das crianças com as noções matemáticas e numéricas ocorrem no cotidiano, seja utilizando-os nas brincadeiras, no reconhecimento de um número de telefone, de endereços, ao selecionar um canal de televisão, ao realizar pequenas contas com os dedos, entre outros exemplos de atividades diárias inseridos no universo infantil.

A educação matemática, com referencial construtivista, parte da proposição de que o conhecimento lógico-matemático é inventado por cada criança na interação com o meio e nas descobertas arroladas na experiência ativa (Kamii, 2005a, 2005b; Kamii & Declark, 1988; Kamii & Livinsgton, 2001). A formação da noção de número encontra-se na origem de todo conhecimento matemático que será desenvolvido no ensino escolarizado, portanto é importante assegurar a construção dessa noção pela criança em idade pré-escolar (Costa 1988, citado por Carmo, 2003). Nesse ponto, Piaget e Szeminska (1941/1975) apontaram quatro condições para formação desse conceito: conservação de quantidades, a correspondência termo a termo (essencial para a contagem), determinação do valor cardinal e do princípio

ordinal. A conservação de quantidades, por sua vez, é fundamental para formar o conceito de número, já que “(...) um número só é inteligível na medida em que permanece idêntico a si mesmo, seja qual for a disposição das unidades das quais é composto” (Piaget & Szeminska, 1941/1975, p. 24).

Em face desses aspectos, esta pesquisa pretendeu responder às seguintes questões: crianças nascidas prematuras e com baixo peso, em idade pré-escolar, apresentam noção de conservação de quantidades discretas? A prematuridade e o baixo peso no nascimento estão relacionados a dificuldades na construção da noção de conservação de quantidades discretas e conseqüentemente na formação do conceito de número? A hipótese é a de que crianças nascidas prematuras e com baixo peso apresentem defasagem ao construir a noção de conservação de quantidades discretas, se comparadas a crianças nascidas a termo que não apresentaram problemas no nascimento seguindo indicações da literatura que aponta problemas na área de Matemática para aquelas crianças (Anderson & Doyle, 2003; Rugolo, 2005; Rodrigues et al., 2006).

A justificativa para usar a Prova Operatória piagetiana de Correspondência termo a

termo se baseou no fato de que ela possibilita observar variados níveis de conservação de

quantidades discretas por meio de três categorias de operacionalidade dos sujeitos: não conservador, intermediário e conservador. A escolha pelo jogo de Dominó se deu pelo fato de este possuir regras simples, desenvolver o raciocínio lógico e aritmético das crianças e trabalhar consolidando a concepção de número, seja na representação gráfica dos números em cada peça, seja na freqüência com que cada número aparece (Macedo, Petty & Passos, 2003a; Santo & Alves, 2000). Na sua forma modificada como foi utilizado nesta pesquisa, o jogo possibilitou avaliar também o nível de conservação de quantidades discretas pela comparação da disposição diferente assumida pelas quantidades em cada peça.

5.1. Objetivos

O objetivo geral desta pesquisa foi avaliar a noção de conservação de quantidades discretas de crianças, com idades entre cinco e cinco anos e 11 meses, nascidas prematuras e com baixo peso (PT-BP). Para alcançar o propósito deste trabalho, formularam-se os seguintes objetivos específicos:

1) Avaliar, na Prova Operatória piagetiana de Correspondência termo a termo, o desempenho cognitivo de crianças nascidas prematuras e com baixo peso, com idades entre cinco a cinco anos e 11 meses;

2) Avaliar, no jogo de Dominó, o desempenho cognitivo de crianças nascidas prematuras e com baixo peso, com idades entre cinco a cinco anos e 11 meses;

3) Avaliar, na Prova Operatória piagetiana de Correspondência termo a termo, o desempenho cognitivo de crianças nascidas a termo e com peso acima de 2.500 gramas, com idades entre cinco a cinco anos e 11 meses;

4) Avaliar, no jogo de Dominó, o desempenho cognitivo de crianças nascidas a termo e com peso acima de 2.500 gramas, com idades entre cinco a cinco anos e 11 meses;

5) Comparar o desempenho em relação à Prova Operatória piagetiana de Correspondência

termo a termo entre o grupo de crianças nascidas prematuras e com baixo peso (G1 – PT-BP)

e o grupo de crianças nascidas a termo e com peso acima de 2.500 gramas (G2 – AT);

6) Comparar o desempenho em relação ao jogo de Dominó entre o grupo de crianças nascidas prematuras e com baixo peso (G1 – PT-BP) e o grupo de crianças nascidas a termo e com peso acima de 2.500 gramas (G2 – AT);

7) Investigar se, para G1 (PT-BP), a noção de conservação de quantidades discretas está defasada quando comparada a G2 (AT).