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Posicionamento Científico e Avaliação da Qualidade

2.4 A Divulgação Científica em Turismo: As Revistas Académicas

2.4.2 Posicionamento Científico e Avaliação da Qualidade

O acentuar da tónica da produtividade por parte das universidades, e a prevalência da cultura “publish or perish” anteriormente referida, são em grande parte resultado da fixação de parâmetros de produtividade pelos designados sistemas governamentais de avaliação de qualidade (Research Assessment Exercises, RAE, no Reino Unido;

Performance Based Research Fund evaluations, PBRF, na Nova Zelândia; Fundação para a Ciência e Tecnologia, FCT, e Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, A3ES, em Portugal). Atingir as metas impostas permite aos investigadores,

individualmente, granjear prestígio, promoção e estabilidade nas suas carreiras (Jogaratnam, Chon, McCleary, Mena e Yoo, 2005; McKercher, Law e Lam, 2006; Page 2003, 2005; Park, Phillips, Canter e Abbott, 2011 ). Por outro lado, o volume e a qualidade da investigação publicada por uma universidade influenciam a perceção da qualidade dos seus programas, contribuindo consideravelmente para o reconhecimento internacional e facilitando a atração de recursos essenciais à sobrevivência institucional (Park et al., 2011).

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O número de artigos publicados em revistas de qualidade é usualmente a forma encontrada para avaliar a produtividade em termos individuais ou institucionais, estando subjacente o reconhecimento e valorização do rigor da avaliação anónima por pares a que os artigos são sujeitos antes de publicação (Law e Chon, 2007; McKercher, 2005; Park et al., 2011; Zehrer, 2007).Consequentemente, a publicação de artigos em revistas académicas é consistentemente considerada mais relevante que a publicação de artigos em atas de conferências, a publicação de capítulos de livros e até mesmo que a publicação de alguns livros (McKercher, 2005).

Para Hall (2005b) é evidente que a avaliação da investigação, nestes moldes, tem implicações, não só para os investigadores e instituições, mas também para o próprio desenvolvimento do Turismo como campo de estudo. O autor fala em “crescente instrumentalização das publicações académicas”, de “comercialização” e “controlo da atividade académica” e dos efeitos nefastos ao nível da investigação, consubstanciados numa redução da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, em virtude da necessidade de publicar em determinadas revistas e segundo determinados moldes (2005b:655).

Também, na opinião de Page (2005), este controlo administrativo, governamental, político se quisermos, não propicia um ambiente favorável ao desenvolvimento de investigação de elevada qualidade. A investigação tornou-se um exercício mecânico com o único objetivo de produzir artigos (Page, 2005:663).

Outros autores (McKercher, 2005; Ryan, 2005b) embora partilhem, em certa parte, das opiniões anteriores, defendem que os exercícios de avaliação, e os consequentes rankings produzidos, são contudo necessários. Alertam, ainda assim, para a necessidade de clareza na sua elaboração de forma a poderem servir como verdadeiros guias para quem produz conhecimento e também para quem o utiliza.

Tomando como certa a necessidade de avaliação da produtividade, baseada no número de artigos publicados em revistas de qualidade, o problema que se coloca, no Turismo, é o de não haver, ao contrário do que se passa nas disciplinas há muito estabelecidas, uma lista ampla e consensual que estabeleça uma hierarquia qualitativa entre as (já) muitas revistas de Turismo existentes. Embora, a maioria dos autores não questione a clara existência de uma hierarquia das revistas de Turismo, apontam como principal problema a inexistência de uma hierarquização formal.

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Essa formalização seria conseguida pela inclusão das revistas de Turismo nos chamados índices de citação, que são o meio mais generalizado, reconhecido e comummente aceite de medição do impacto dos artigos publicados, nomeadamente no Thomson Scientific (TS) (anteriormente designado Thomson Institute of Scientific

Information (ISI)) que é o mais usado índice de citações (Hall, 2006; McKercher et al.,

2006).

Esta base de dados alberga mais de 8600 revistas organizadas por áreas: o Science

Citation Index (SCI), criado em 1964, que inclui cerca de 6000 revistas; o Social Science Citation Index (SSCI), criado em 1974, e que inclui cerca de 1700 publicações;

e o Arts and Humanities Citation Index (AHCI), de 1978, que cobre aproximadamente 1100 publicações. No entanto nenhum destes índices foi criado ou desenhado de forma a poder acomodar, especificamente, o Turismo e áreas adjacentes como a Hospitalidade, o Lazer ou a Recreação, pelo que apenas duas revistas, o Annals of Tourism Research e o Tourism Management, estavam indexados no índice TS do ISI em 2007 (Hall, 2006; Jamal, Smith e Watson, 2008; Law e Chon, 2007; McKercher, 2005; Murphy e Law, 2008), estando atualmente cerca de 30 revistas presentes no índice.

Como a avaliação da produtividade está fortemente dependente destes índices, e estando a maioria das revistas de Turismo ausentes dos sistemas de ranking de revistas criados a partir dos mesmos, as agências auditoras acabam por usar critérios variáveis e subjetivos, baseados na opinião de um pequeno grupo de indivíduos que poderão inclusive não estar familiarizados com a literatura em Turismo. A situação descrita leva a que, invariavelmente, a investigação em Turismo obtenha baixas classificações, o que leva a um sentimento de frustração coletiva e ao perpetuar da necessidade de defesa do Turismo como um legítimo campo de estudo (Hall, 2006; McKercher, 2005; McKercher

et al., 2006).

O descontentamento sentido por esta inadequação dos índices TS ao domínio do Turismo, e o reconhecimento de que se tem que ir mais além, “beyond Thomson Scientific’s citation databases” (Hall, 2006:120), tem levado muitos autores a apresentar

propostas alternativas de avaliação que procuram refletir de forma mais adequada o real impacto no Turismo: Hall, 2006 e 2011; Law e Chon, 2007, McKercher et al., 2006; Pechlaner, Zehrer, Matzler e Abfalter, 2004; e Ryan, 2005b são algumas boas referências desse esforço coletivo.

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Ainda a propósito dos rankings, na opinião de McKercher (2005) esta omissão das revistas de Turismo do índice do ISI, e de qualquer outro índice, vai contra os interesses da academia uma vez que ao não permitir uma perceção do real impacto de nenhuma das revistas da área, para além das incluídas no índice, pode incentivar uma cultura de mediocridade: “Ranking systems provide a means for authors to target the most appropriate vehicle for their scholarly output, and to be rewarded accordingly. The absence of such a system or the implementation of a narrow, exclusive system may result in papers being submitted to inappropriately strong or weak journals.” (2005:650). O autor deixa ainda uma advertência final:

Because a field of study is only as strong as its strongest journals. Strongest journals do not just mean just the top three; it means that collective body of five, 10, 20 or how many journals that make a real contribution to the intellectual development of this diverse field. Yet, without a broad consensus of what these journals are and, therefore, where people should target their papers, it is difficult to foster a culture where excellence is recognized. (McKercher, 2005:651)