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Esta seção apresentará estudos sobre os substantivos com intuito de mostrar suas funções sintáticas, semânticas e pragmáticas. Começando com as questões sintáticas, o substantivo é o elemento principal de um Sintagma Nominal (SN), que apresenta a seguinte definição, segundo Perini (2006, p.64):

Sintagma Nominal (SN) é uma sequência de uma ou mais palavras que pode ser sujeito, objeto direto ou complemento de uma preposição. E ele se define, além disso, por determinado tipo de estrutura interna: por exemplo, um artigo mais um nominal, como em o camelo.

Segundo Perini (2006), o sintagma nominal, como outras classes de sintagma, tem uma estrutura interna que é formada de termos relacionados por funções sintáticas. Assim, alguns desses elementos internos do sintagma nominal se definem em termos de ordem: palavras como o, um, esse, aquele, se caracterizam por aparecer em primeiro lugar no sintagma nominal. Essas palavras ocorrem, então, na função de determinantes.

Além disso, cada sintagma nominal é composto de um núcleo (núcleo do sintagma nominal) que é o elemento com o qual outros termos do sintagma

nominal concordam. Perini (2006) coloca ainda que os sintagmas têm coesão semântica e formal porque dão a impressão de que alguma coisa “faz sentido”.

Halliday e Hasan (1976) já apresentavam a noção de coesão lexical, que é o efeito coesivo atingido pela seleção vocabular. Na fronteira entre coesão gramatical e lexical está a função coesiva da classe denominada por eles como Substantivos Gerais (General Nouns). A classe dos Substantivos Gerais é um pequeno conjunto de substantivos que possuem referência generalizada dentro de uma classe maior de substantivos como:

Quadro 4 - Substantivos Gerais Substantivos Gerais

Humano – pessoa, pessoas, homem, mulher, criança, menino, menina

Não-humano animado – criatura Inanimado concreto – coisa, objeto Massa concreta abstrata – coisa

Inanimado abstrato – negócios, caso, assunto Ação – movimento

Lugar – lugar Fato – fato

Fonte: Halliday e Hasan (1976) – Tradução da autora (2014)

Os substantivos gerais podem ser considerados itens lexicais (membros de um conjunto aberto) ou itens gramaticais (membros de um sistema fechado). Quando estão em função coesiva, os substantivos gerais quase sempre vêm acompanhados pelo item de referência the em inglês (também chamado de anafórico). A alternativa mais comum para the é o demonstrativo that, como no exemplo that idea.

Outra importante função dos substantivos gerais é a expressão de sentido interpessoal, de uma atitude particular por parte do falante. Essa atitude transmitida é essencialmente de familiaridade, na qual o falante assume o direito de representar aquilo a que está se referindo pessoalmente.

Um estudo importante sobre posicionamento e substantivos em textos acadêmicos é o de Charles (2003). Sua pesquisa mostra que a escolha dos substantivos permite que os escritores incorporem suas próprias avaliações no texto contribuindo, assim, para a construção de formas apropriadas de posicionamento para cada disciplina.

Charles (2003) analisou os sintagmas nominais (noun phrases) indicativos de posicionamento através de uma perspectiva textual, rotulando um corpus de um milhão e meio de palavras extraído de teses nas disciplinas de política, relações internacionais e ciências dos materiais. A autora conclui que o uso de sintagmas nominais para expressar posicionamento é uma fonte valiosa para escritores de teses. Charles (2003) investiga em seu estudo a construção do posicionamento através de substantivos em inglês, em dois corpora de teses: Política, Relações Internacionais e Material Science. A autora analisa os substantivos precedidos pelo dêitico ‘This’, que serve para encapsular proposições anteriores (retrospective labels). Charles salienta ainda que o uso dos substantivos para construir posicionamento tem atraído pouca atenção, apesar do fato de vários pesquisadores identificarem um grupo de substantivos que oferecem a possibilidade de incorporar sentidos interpessoais no texto. Esses substantivos apresentam dois traços característicos: eles requerem a realização gramatical no seu contexto imediato e criam coesão.

Assim, Charles (2003) apresenta uma lista de vários pesquisadores que analisaram os substantivos em seus estudos, classificando-os com diferentes nomes. Halliday & Hasan (1976) foram os primeiros a identificar a classe dos ‘General Nouns’, demonstrando que eles permitem ao escritor introduzir um elemento interpessoal no sentido. Hunston e Francis (1999) propõem uma possível nova classe de palavras chamada por eles de ‘Shell Nouns’. Francis (1994) usa o termo ‘Label’ para classificar elementos nominais não-específicos que requerem a realização gramatical dentro do co-texto, ou seja, o que está

escrito antes ou depois de cada rótulo. Esses Labels são como formas interativas de organização do texto. Francis propõe, então, dois tipos de Labels:

a) Advance Labels – referem-se a proposições que estão por vir;

b) Retrospective Labels – referem-se a proposições anteriores, “encapsulando” toda a proposição anterior de forma que o sentido está presente na sentença seguinte.

Charles (2003) analisa, então, Restrospective Labels usados na construção de posicionamento nas áreas das ciências sociais e ciências naturais para estabelecer uma comparação entre as disciplinas. Segundo pesquisas anteriores, Retrospective Labels são mais frequentes do que Advance Labels e são quase sempre precedidos por dêiticos específicos como: the, this, that, such.

Charles também utilizou na sua pesquisa a classificação elaborada por Francis (1994) sobre head noun labels, que divide esses substantivos em metalinguísticos e não-metalinguísticos. Os rótulos metalinguísticos são aqueles usados pelo autor para avançar as relações que se encontram inteiramente dentro do próprio texto. Esses rótulos instruem os leitores a interpretar o status linguístico da proposição de uma forma particular. São exemplos de substantivos metalinguísticos em inglês: point, distinction, expression. Os substantivos não-metalinguísticos são: effect, result, observation.

Os resultados da pesquisa de Charles mostraram que a área política usa mais substantivos metalinguísticos do que a área de materiais. Isso se deve às diferenças entre as disciplinas na construção do conhecimento. Os recursos utilizados na área política são baseados na linguagem, já na área de materiais os substantivos se referem ao processo e a performance dos experimentos.

Em 2007, Charles realizou uma nova pesquisa para analisar o uso do substantivo + that (the argument that) e mais uma vez utilizou o corpus acima mencionado. A partir dos achados das duas pesquisas, a autora criou um modelo para classificar a construção do posicionamento nas disciplinas por ela analisadas:

Grupo Ideia: apresenta substantivos que se referem a crenças, ideias, desejos e processos de pensamento – idea, assumption, belief, hypothesis

Grupo Argumento: apresenta substantivos que se referem a algo que é escrito ou falado anteriormente – argument, contention, point, claim

Grupo Evidência: apresenta substantivos que se referem a sinais ou evidências de que algo acorre – evidence, indication, observation, indicator

Grupo Possibilidade: apresenta substantivos que são usados quando se está falando o quão provável ou improvável é algo – possibility, probability, chance, danger

Grupo Outros: apresenta substantivos abstratos, com sentidos que não podem ser cobertos pelos outros grupos – fact, case, concern, sense

Os resultados da pesquisa de Charles mostraram que existe uma variação de posicionamento, conforme a área acadêmica em que o escritor se insere. O grupo Política/Relações Internacionais usa mais substantivos do grupo argumento, pois a disciplina constrói o conhecimento através do exame de ideias e da construção de argumentos. Em contraste, os escritores da área da Ciências de Materiais utilizaram mais os substantivos do grupo evidência, uma vez que nessa disciplina o conhecimento avança através do uso de métodos experimentais que fornecem evidência para dar suporte ou rejeitar as hipóteses investigadas. Essa variação de posicionamento, de acordo com a autora, se deve a forma como o conhecimento é construído nas diferentes áreas.

Neste trabalho, pretende-se verificar se existe essa variação de posicionamento nas diferentes disciplinas em português. Também se tem a intenção de montar um modelo para os substantivos de posicionamento próprio do português, para auxiliar estudantes brasileiros e estrangeiros que necessitam escrever seus textos acadêmicos. No próximo capítulo, serão apresentadas as pesquisas sobre Linguística de Corpus e sua contribuição para o levantamento dos substantivos de posicionamento, nesta pesquisa.

5 METODOLOGIA

Este capítulo tem como objetivo, apresentar a metodologia utilizada para a realização da análise deste trabalho. Para tal, a linguagem acadêmica será abordada numa perspectiva pedagógica, para logo em seguida, apresentar um panorama da Linguística de Corpus e pesquisas realizadas, ligando-a à Linguagem Acadêmica e Posicionamento. Finalmente, será apresentada a estrutura da metodologia utilizada nessa pesquisa.