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DISCIPLINA: As categorias do fazer científico não ganham eficácia no RP1, porque se mantêm enquanto formas cristalizadas. O que ocorre devido ao fato de o RP1 ter se centrado na resenha teórica de textos autorizados pela academia, dando tratamento superficial a aspectos estruturais da pesquisa, como pode ser observado em relação ao cronograma estabelecido para realização da mesma:

Nos primeiros quatro meses, ou seja, de Agosto a Novembro, leremos e analisaremos a bibliografia básica. Nos meses de Dezembro a Março, terminaremos a leitura da bibliografia básica e leremos o corpus poético do Simbolismo francês e português. (p. 61)

AUTOR: A coerência é garantida no seu “nível informacional”, mas não enquanto um todo textual. Ou seja, o aluno apresenta bibliografia pertinente ao objeto de estudo, uma vez que, ao propor estudar obras poéticas do Simbolismo português e francês, as referências

bibliográficas são condizentes com tal tema. Entretanto, o que se apresenta no relatório (RP1) como sendo uma releitura do projeto de pesquisa não mais é condizente, já que aquele possui alterações em relação a este último, no que diz respeito à bibliografia básica.

Parece haver, então, a concepção de trabalho científico enquanto texto que, graças à filiação teórica e aos critérios metodológicos assumidos, não tem seu estatuto de fazer científico comprometido, ainda que a escrita mostre-se lacunar, como pode ser percebido nas considerações a seguir:

[...] quando retornamos à fundamentação teórica do projeto de pesquisa, percebemos que houve uma redefinição dos autores estudados, já que, no RP1, o iniciante na pesquisa afirma ter lido textos de Anna Balakian, Henri Peyre, Jean Pierre Richard, Fernando Guimarães e Paulo Franchetti e, no projeto de pesquisa, este último autor não apareceu. Assim como outros autores que constavam do projeto não apareceram na releitura apresentada pelo RP1[...] (p. 61-2)

COMENTÁRIO: Os textos comentados pelo aluno não são aproveitados para análise do que foi definido como corpus. Daí aparecerem como cristalizações por meio de citações e paráfrases do discurso autorizado, uma vez que não se voltam para a análise do objeto de estudo, como expomos a seguir:

Os temas mallarmenianos por excelência, segundo a autora, são o ennui, o grouffre e o azur. O ennui pode ser definido como “cansaço do homem super-refinado e a impossibilidade de libertação”. O grouffre por sua vez, pode ser entendido como a proximidade do eu com o abismo, ou seja, o sujeito desencantado sente-se sempre à beira do abismo, é alguém que não vê saída.

Nota-se que a terminologia citada entre aspas permanece congelada e serve somente como definição de um verbete, haja vista que a mesma não é desdobrada em direção às análises poéticas objetivadas pelo trabalho em questão. (p.79-80)

RE1

DISCIPLINA: Percebemos no RE1, tal qual no RP1, a mesma brevidade em relação ao objetivo do trabalho, de modo a não dar conta de delimitar com precisão o prisma pelo qual os dados recolhidos da realidade escolar serão analisados. Como pode ser avaliado pelo trecho a seguir, no qual o aluno procura apresentar o objetivo da pesquisa:

[...] observar o ensino da leitura em sala de aula, ou ainda o incentivo ao hábito da leitura aos alunos. (p.85)

AUTOR: Se no RP1 observamos a ausência de análise do que se anunciou como corpus, haja vista que o relatório em questão dedicou-se à resenha bibliográfica; no RE1 notamos a mesma lacuna quanto ao desenvolvimento de análises sobre o material coletado, só que, desta vez, a maior parte do trabalho constituiu-se da apresentação dos dados recolhidos durante o estágio, os quais, entretanto, não se tornaram o foco do relatório. Como demonstramos a seguir:

[...]Os textos coletados nessa aula, estão todos em anexo, destacamos três textos abaixo, o primeiro muito bom e os outros com muitos erros, muito ruins.

A ausência de reflexão acerca dos dados coletados pode ser observada no trecho grifado [...]. O aluno, apesar de afirmar que o primeiro texto era muito bom e os outros eram ruins, apesar de anexar ao relatório os três textos a que fez referência, não apresentou na continuidade nenhuma análise que pudesse corroborar as afirmações feitas. (p. 92-3)

COMENTÁRIO: Não há argumentação suficientemente esclarecedora da aceitação ou recusa do texto alheio. Sendo assim, os mesmos aparecem cristalizados, isto é, são inseridos no discurso do aluno, mas não são desenvolvidos no sentido de possibilitarem renovação, por meio de sua reformulação e ampliação, como procuramos destacar no seguinte trecho:

uma vez querendo obrigar o aluno a ir até a frente para ler acróstico a professora disse que todos iam ler, pois era aula de leitura. Ora, a aula de leitura não significava ler em voz alta, mas estimular nos alunos o gosto pela leitura. Apesar disso, muitos alunos participavam das aulas e iam até a frente ler suas atividades. É interessante constatar que quando os colegas iam a frente ler as atividades, a classe fazia mais silencio, ou seja, eles respeitavam mais os colegas que a professora. [grifo nosso]

No trecho grifado, percebemos que o aluno relata a fala da professora e, tendo em vista o que observou durante a aula, acrescenta a esta fala um ponto discordante quanto à definição de aula de leitura como sendo ler em voz alta, uma vez que a mesma, segundo o aluno, deveria definir-se pelo estímulo ao gosto pela leitura. Entretanto, percebemos, como foi pontuado em relação ao RP1, que não há a ampliação do texto comentado, já que a afirmação de que ler é estimular o gosto pela leitura não foi desenvolvida e não houve a reflexão sobre o fato de que o estímulo à leitura não se contrapõe, a priori, à leitura em voz alta. (p. 101-2)

RP2

AUTOR: Consolida-se, em um dos momentos do RP2, a concepção de fazer científico como resultado de atividade que se instaura, enquanto tal, num espaço externo à redação do texto e não no desenvolvimento escrito da pesquisa. Sendo assim, notamos no trecho a seguir um momento de imprecisão no tratamento dos dados apresentados pelo relatório:

Além disso, chamamos a atenção mais uma vez para a questão da imprecisão na escrita, pois o que foi defendido, no relatório em estudo, como sendo o contraste entre usos lingüísticos e discursivos das décadas de 70 e 90, referem-se, de fato, às diferenças entre as décadas de 70 e 90/2000 [...] (p. 115)

COMENTÁRIO: Os textos comentados pelo aluno concretizam-se enquanto elementos coercitivos na produção do discurso, já que são, predominantemente, atualizados no RP2 como discursos autorizados e corroborados pelas análises apresentadas. Isto, de alguma forma, denota um posicionamento dogmático, pois limita as formas de lidar com os objetos de análise à conformidade com o que já se encontra estabelecido e reconhecido pela cultura

acadêmica. De modo que as análises do RP2 permanecem circunscritas à ratificação do discurso alheio. O que procuramos demonstrar com o que segue:

[...]nos fragmentos que passamos a apresentar, aos quais nos referimos por A e B. Em A o aluno reproduz o discurso teórico que ele mesmo citou em B, como pode ser visto no que segue:

A

Nas interações da década de 90 os temas não foram delimitados pelo entrevistador. Os informantes falaram sobre o que desejavam. Nesse contexto, é relevante o fato de os temas se repetirem ao longo das gravações da década de 90, mesmo com a liberdade de escolha. Sendo assim, voltamos para a questão de que o que falante expressa está dentro de limites da sociedade, não apenas os posicionamentos, mas as próprias aflições e alegrias de cada período são as mesmas. Os falantes expressam, através de seu discurso, uma visão parcial da sociedade que os cerca.

B

Leite (2003; 18) também evidencia a importância do discurso quando se visa a observar os aspectos sociais de um dado período, pois “os falantes, naturalmente, quando produzem seus discursos, revelam aspectos da sociedade em que vivem”. Nesse sentido, o léxico exterioriza o espírito da época de cada década. Isto porque, por exemplo, quando algo novo é criado (como o computador, por exemplo) a primeira modificação imediata é no léxico. Logo, o léxico reflete e refrata mudanças sociais, morais, culturais e teconológicas. (Bakhtin, 2002; 32). (p. 108-9)

RE2

AUTOR: Percebe-se a lacuna presente na escrita em questão quando a função-autor delega para o leitor a responsabilidade de perceber a evidência dos dados que – por serem considerados passíveis de um único modo de entendimento – são tratados de forma a dispensarem intervenções analíticas. Além disso, imagina-se um leitor que, por pressuposto, concorda com as interpretações que aparecem subentendidas no RE2, como segue:

[..] A função-autor seleciona alguns usos lingüísticos para serem expostos como problemas encontrados nas dissertações discentes e afirma que, alguns destes problemas, podem prejudicar o desenvolvimento de uma idéia. Ocorre que fica por conta do leitor identificar que problemas são estes, que atrapalham o desenrolar de uma idéia, bem como descobrir quais deles são de outra ordem e por que deveriam ser considerados problemáticos.

As afirmações feitas são genéricas e superficiais porque não retomam os próprios dados durante as análises, como se a transcrição dos usos lingüísticos fosse suficiente para suscitar as interpretações que, de acordo com o estagiário, são evidentes: “Como os próprios dados falam por si mesmos[...]”. (p. 136)

COMENTÁRIO: Assim como foi percebido no RP2, também no RE2 a análise e interpretação dos dados são realizadas no sentido de confirmar a teoria já autorizada. Este posicionamento possibilita, de um lado, o desenvolvimento das análises, uma vez que atestam a produtividade interpretativa das teorias em questão. De outro, limitam o aluno à ratificação

fornecidos pela área em questão, mas também pode restringir os espaços de reflexão que ultrapassam a aplicação da técnica. Segue um exemplo de confirmação do discurso autorizado:

Trecho (9)

P gente vocês podem fazer um pouquinho de silêncio? A16 não ((alunos riem))

P se vocês não podem... devem [...]

No primeiro caso (trecho 9), a professora está fazendo uso de regras de polidez para fazer um pedido, mas se mantém no enunciado a regra de sinceridade, proposta por Searle (1981; 88), qual seja “o falante F quer que o ouvinte O faça o ato futura A”, qual seja o de ficar em silêncio. Sabemos que esse pedido é uma ordem na estrutura subjacente, uma vez que a professora está em posição de autoridade superior aos alunos – no que compete aos papéis sociais – e pode executar esse tipo de ato de fala [...] (p. 128-9)

RP3

DISCIPLINA: O RP3 apresentou, em alguns momentos, escrita lacunar porque relegou à memória e boa-vontade do leitor estabelecer os elos entre dado e interpretação do mesmo. O que procuramos demonstrar com o que segue:

Tanto a Folha de São Paulo quanto O Estado de São Paulo mostram a dificuldade de se definir Moore como um esquerdista ou como um liberal. Somente o Jornal do Brasil defende a idéia de que Moore não seria liberal, citando trechos em que Moore critica esta posição política, associada pelo cineasta ao Partido Democrata. [grifo nosso]

[...]

Os trechos grifados têm como intuito chamar a atenção para o fato de que a função-autor, como concretizada no trabalho de pesquisa do informante 3, entende que a coerência textual é garantida pela lógica das reflexões realizadas, sem que haja a necessidade de serem retomados, na superfície textual, os dados anteriormente analisados. (p. 151-2)

POSICIONAMENTOS DISCURSIVOS INVESTIGATIVOS:

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