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Parte II – Método

2.6. Instrumentos

2.6.3. Positive and negative affect Schedule – Panas

Para medir a dimensão afetiva do BES, foi utilizada a PANAS de Watson et al (1988). Neste estudo, optou-se por aplicar a versão adaptada e validada para a população portuguesa por Galinha e Pais-Ribeiro (2005b) (Anexo C). Segundo Watson, Clark, e Tellegen (1988), nos vários estudos antecedentes, que se debruçaram sobre o constructo do afeto, foram emergindo dois fatores principais, que constituem duas dimensões independentes: o AN e o AP. Porém, as escalas antecedentes, não apresentavam boas qualidades psicométricas. Nessa medida, os autores procuraram colmatar essa lacuna, desenvolvendo um instrumento que para além do

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intuito de se traduzir numa medida breve e de fácil aplicação, se tratasse, sobretudo, de um instrumento válido, que oferecesse bons níveis de consistência interna.

Desta forma, aqueles autores desenvolveram a PANAS, que assenta numa estrutura bifatorial, integrando duas subescalas independentes, cada uma composta por dez itens e que visam medir o AP e o AN. O processo de seleção dos itens teve como intuito encontrar os termos que correspondessem aos mais puros marcadores de AN e AP e que abarcassem o maior número de conteúdo de emoções relacionadas. Este processo traduziu-se, sobretudo, na escolha dos itens que apresentaram um peso fatorial elevado num dos fatores e que, simultaneamente, tiveram um valor próximo do zero no outro fator (Watson et al., 1988).

Através de uma extensa amostra, os autores da escala original realizaram aplicações do questionário com diferentes tempos de resposta possíveis (agora, ou seja neste momento; hoje; durante os últimos dias; durante a última semana; durante as últimas semanas; durante o último ano; e no geral) para que os respondentes, numa escala de tipo Likert de cinco pontos, pudessem classificar a experiência de cada uma das emoções (1 = nada ou muito ligeiramente; 2 = um pouco; 3 = moderadamente; 4 = bastante; 5 = extremamente). A escala final constituída por 20 itens (10 para cada subescala) veio contemplar estas opções de reposta e as instruções com os quadros temporais anteriormente descritos (Watson et al., 1988).

A consistência interna avaliada através do coeficiente de Alpha de Cronbach foi elevada para ambas as subescalas em cada um dos quadros temporais possíveis de resposta, variando para a subescala de AP entreα = .86 a α = .90 e para a subescala do AN entre α = .84 a α =.87. Para além disso, verificaram que as correlações entre as subescalas para cada tempo de resposta foi baixa, variando entre r = –.12 e r = –.23. Com estes resultados os autores concluíram que as instruções do tempo de resposta não afetam a fiabilidade das subescalas e que as mesmas mantêm-se independentes entre si para cada quadro temporal.

Em termos gerais, o conjunto de emoções que constituem o AP fazem-no corresponder a uma dimensão pela qual é possível medir como os indivíduos expressam, em geral, o seu entusiasmo pela vida e o prazer no envolvimento de atividades. Em contrapartida, o AN permite avaliar, por exemplo, o quão os indivíduos se sentem indispostos, em sofrimento ou perturbados (Galinha & Pais-Ribeiro, 2005a; Watson et al., 1988).

Além disso, na realização da análise da fidelidade através do teste-reteste para cada versão temporal de resposta, não foram encontradas entre elas, diferenças estatisticamente significativas (p> .05). Isto levou a que os autores da versão original concluíssem que a escala da PANAS apresenta não só uma boa estabilidade temporal para todas as versões, mas também que se traduz numa escala propícia a medir tanto o afeto estado (emoções), como o humor

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(ansiedade e depressão) e o afeto traço (personalidade). Aliás, ainda referem que consoante o modelo temporal de instruções escolhido, a PANAS pode ser mais sensível para medir as flutuações do afeto estado ou para medir o afeto traço. As instruções com tempos de resposta mais curtos são as mais indicadas para o primeiro caso, enquanto que as instruções que utilizam tempos de resposta mais longos são mais apropriadas para o segundo caso (Watson et al., 1988). Mais recentemente, Letzring e Adamcik (2015) reiteram interligação do afeto estado com os traços de personalidade.

A PANAS tem vindo a ser adaptada e aplicada em diversas culturas (Hervás & Vazquez, 2013). No estudo de adaptação e validação para a população portuguesa realizado por Galinha e Pais-Ribeiro (2005b) foram ministradas duas versões temporais de resposta para que os participantes classificassem em que medida experienciaram as emoções, nomeadamente: “durante os últimos dias” e “durante as últimas semanas”. Para a classificação, foi utilizada a mesma escala de tipo Likert com as cinco opções de resposta propostas na escala original.

Baseando-se em procedimentos similares ao estudo original, Galinha e Pais-Ribeiro (2005b) selecionaram os 10 itens finais mais puros para o AP (e.g. “determinado”) e para o AN (e.g. “assustado”) (Anexo C). Esta versão portuguesa da PANAS apresenta bons níveis de consistência interna tanto para a subescala de AP (α =.86) como para a subescala do AN (α =.89) e uma correlação entre as duas subescalas próxima de zero (r = -.10). Estes resultados são de magnitude idêntica aos valores encontrados no estudo de validação original e confirmam o modelo bidimensional e ortogonal proposto por Watson et al. (1988) ao nível da estrutura e dimensão do conceito afeto. A independência destas dimensões, permite a mensuração e compreensão do AP e do AN numa perspetiva complementar e autónoma, ou seja, longe de uma visão bipolar e de oposição. Quer isto dizer que por um lado, o facto de uma pessoa referir um aumento do AP, não implica que sinta um decréscimo do AN e vice-versa. Por outro lado, também significa que um mesmo indivíduo pode sentir, em simultâneo, alto AP e alto AN. O mesmo acontece com baixo AP e Baixo AN.

Desta forma, a escala que resulta do estudo de adaptação e validação para a população portuguesa de Galinha e Pais-Ribeiro, apresenta propriedades similares à escala original, constituindo-se como um instrumento eficaz para a avaliação do AP e AN, enquanto dimensões independentes. Além disso, na medida em que segue o mesmo modelo de instruções e de opções de resposta, esta versão cumpre o mesmo propósito dos autores originais de corresponder a uma medida breve e de fácil aplicação. Posteriormente, à validação da PANAS, Galinha, Pereira e Esteves (2013) confirmaram a sua estabilidade temporal para um intervalo de dois meses no que se refere à aplicação da versão afeto estado.

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