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Possível influência dos projetos desenvolvidos na AMES no abandono dos

No documento lilianaparecidafrancodasilva (páginas 94-98)

2 ANÁLISE DAS POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS DOS PROJETOS NA

2.4 A análise dos dados

2.4.2 Possível influência dos projetos desenvolvidos na AMES no abandono dos

Diante da demanda por socialização, sem perder o sentido da escolarização, a AMES, buscou reestruturar suas ações, começando pela reelaboração de Projeto Político Pedagógico. De acordo com Bourdieu (1998), os projetos devem partir de temas que valorizem a função social, política, levando em conta a diversidade tanto dos alunos, quanto dos profissionais da escola.

Todos os alunos do grupo 1 se lembraram de ter participado da Feira de Cultura e da Gincana AMES. Note-se que ambos projetos fazem parte do Projeto Político Pedagógico da escola, e por isso, acontecem obrigatoriamente, em anos alternados. Outros, ainda citaram projetos como campeonatos esportivos, festa junina, visitas às creches e vila vicentina.Alunos dos grupos 2 e 3 lembraram de ter participado de algum projeto, sendo os mais citados, a Feira de Cultura,a Gincana AMES e campeonatos esportivos.Bourdieu (1998), fala que a escola com função única de escolarização, perde espaço na vida dos jovens. Há uma rede de saberes à qual o aluno precisa voltar seu olhar para que tenha uma visão multifacetada do mesmo objeto fazendo conexões entre os saberes (BOURDIEU, 1998).

Apesar da metade dos professores concordar que os projetos sejam recursos que possam evitar o abandono escolar, seja promovendo o envolvimento dos alunos entre si, seja com a comunidade, a outra metade dos professores preferiu não opinar a respeito, indicando uma possível ausência de reflexão sobre o assunto. A importância de participação e envolvimento no ambiente escolar é descrita por Finn (1989) quando o autor mostra em seu modelo de identificação-participação que quando os vínculos do aluno com escola se estabelecem, a probabilidade de o jovem desenvolver comportamentos problemáticos diminui, inclusive, diminuindo o risco de abandono escolar.

Krawczyk (2011) faz reflexões acerca do trabalho de contenção promovidos pelas escolas por meio de seus projetos:

Isto é, o de proteger os alunos do meio social em que vivem; de evitar que entrem na delinquência; de tirar o jovem da rua. Para isso, as escolas são chamadas a criar um ambiente juvenil por meio de atividades voltadas para a integração da escola com a cultura dos jovens e com a comunidade. Em muitos casos, trata-se de atividades, que ocorrem durante a semana e nos finais de semana, de lazer nas áreas de esporte, música, dança e ciência, que buscam recuperar a imagem positiva do jovem e muitas vezes se traduzem num ativismo pedagógico. Os alunos se lembram com satisfação de algumas dessas atividades quando realizadas durante o horário escolar (feira de ciências), entretanto a maioria desconhece o que a escola oferece nos fins de semana (KRAWCZYK, 2011, p. 763). Assim, é preciso compreender a importância dos projetos como forma de socialização e de construção de novos saberes. São momentos de exploração de novas relações entre alunos e entre escola e alunos que podem acrescentar muito ao convívio escolar e também ao convívio com a comunidade.

Um dos projetos implementados pela AMES, em 2015, foi o de reclassificação por aceleração. Pelas respostas dos professores, percebe-se que a aceleração foi vista com desconfiança por eles, já que a maioria preferiu não opinar, corroborando com as colocações feitas no capítulo 1 a respeito deste assunto. Com neutralidade semelhante foram as respostas dos professores quanto aos projetos de envolvimento de alunos entre si e com a comunidade, como sendo meios que possam influenciar na diminuição das taxas de abandono. Tal neutralidade pode estar associada a uma não percepção ou não concordância de que os projetos possam realmente impactar na permanência do aluno na escola. Assim, o envolvimento do professor é um ponto a ser verificado, já que ele é peça-chave na manutenção dos projetos escolares por estar em contato direto com os alunos.

O modelo de identificação-participação de Finn (1989) oferece perspectivas para entender o abandono, explicando em termos de antecedentes comportamentais (participação- identificação) e condição psicológia. A identificação com a escola, compreende tanto um sentimento de pertencimento quanto a valorização e preocupação com os resultados da escola, mesmo que estes nem sempre sejam avaliados positivamente. Assim, dá-se um clima de continuidade, que faz com que o aluno queira permanecer no ambiente escolar (FINN, 1989). A figura 6 mostra o modelo elaborado pelo autor:

Figura 6- Modelo de participação-identificação

Fonte: FINN, 1989.

O modelo mostra a ligação direta da identificação com a escola com a participação em atividades escolares, o que levaria os alunos a obterem bons resultados. Neste sentido, enfatiza-se a importância da qualidade da instrução estar atenta ao envolvimento do aluno nas atividades e escolares.

A AMES pretende com seus projetos promover a interação entre comunidade e escola, despertando o interesse de pais e alunos pela educação, além de proporcionarem aprendizados que representam qualidade dentro de uma formação cidadã. Projetos como Visita ao Lar Vicentino Frederico Ozanan e creches, Valores para convivência, Educação para cidadania e o consumo consciente, Revista AMES, Mudanças de Paradigmas,Vasculhando o mundo de Sofia, Os Sete Pecados Capitais, Explorando novos mundos, Café Filosófico Projeto, Gincana Solidária, Educação para a vida: Quem não lê, não ouve, não fala e não vê. Tais projetos por envolverem alunos, professores, equipe pedagógica e gestora, além da comunidade escolar, acabam mobilizando esforços conjuntos. As ações construídas coletivamente tendem a ser reconhecidas e valorizadas. Assim, a escola se configura como um espaço de socialização.

Há um sentimento de valorização da identidade que se cria em torno de pertencer à escola. Na pesquisa realizada para esta dissertação chama a atenção que a grande maioria dos professores concorda que os alunos gostam da escola. Gostar de estar em um ambiente pode representar um fator favorável para nele permanecer.

Diante das análises dos dados, constatou-se que os principais problemas apontados pela pesquisa foram: os alunos acham importante estarem inseridos em

Qualidade da instrução Participação em atividades escolares Habilidades Identificação com a escola resultados de bom desempenho

algum grupo de amigos; há falhas na implementação dos projetos de socialização, já que seus objetivos não são percebidos de forma clara por professores e alunos; as dificuldades nas disciplinas e as reprovações são percebidas como desmotivadoras para a continuidade nos estudos; e o apoio familiar acontece, mas de forma a não ser suficiente para garantir a permanência do aluno; e os alunos decidem sozinhos pelo abandono.

O objetivo de associar diretamente a permanência do aluno com a realização de projetos não pode ser verificado de forma clara. Dessa forma, nenhum dos fatores e projetos levantados ao longo deste caso de gestão pode ter sua relação direta com a diminuição das taxas de abandono confirmada.

As causas do abandono puderam ser bastante aprofundadas, sobretudo, por meio dos referenciais teóricos. Nos trabalhos de Finn (1989), de modo especial, fica bastante evidente que a participação do aluno nas atividades escolares contribui para sua permanência e que, da mesma forma, a frustração pelos repetidos fracassos leva ao abandono. Bourdieu (1998) trouxe importantes reflexões acerca do contexto social dos jovens influenciando na continuidade nos estudos, reforçando a ideia de que é necessário a escola deve enxergar-se também como parte desse contexto.

3 PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO: CONSTRUINDO ESTRATÉGIAS DE

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